31 de dez. de 2007

29 de dez. de 2007

Sumário de desejos


O que quero em 2008? Ser melhor comigo mesma. Não ficar tão tensa com as coisas, me irritar menos com as pessoas. Não reprimir meus sentimentos ruins e bons, entrar na Yoga, encontrar uma forma bacana de ganhar dinheiro, sentir menos culpa de ser quem sou e ter posturas mais corajosas diante das dificuldades. Mas, principalmente, o que mais desejo é me tornar ainda mais otimista. Ter fé no mundo é a melhor sensação que alguém pode experimentar. Dia 31, após os fogos de artifício, quero continuar vendo tudo colorido. Ou, pelo menos, mais iluminado. Pois de uma coisa tenho certeza: as estrelas, nas minhas constantes noites insones, não irão me abandonar.

24 de dez. de 2007

It´s a wonderful life


Sim, eu sei. A felicidade não se compra... Por isso, só me resta desejar um Natal e um 2008 de cinema para todos vocês.
Beijos,

Renata

Cena final de A felicidade não se compra (It´s a wonderful life) de Frank Capra.

Para a menina que fui um dia:

Coloco aqui sua historinha favorita, seu primeiro amor literário. Você se lembra que a adaptou para teatro e a encenou numa daquelas antigas e felizes noites de Natal de sua casa velha? E que, apesar do evidente desinteresse dos adultos e do mau humor dos primos e do irmão, você se sentiu muito contente ao fazer isso, quase plena? É para você, a pessoa que ainda me motiva a escrever, é para você que posto esse conto. Engraçado, né? Os anos passaram, mas ele ainda te faz chorar.
Que você continue acreditando em seus sonhos de criança sempre. E que seus leitores, essas pessoas especiais que dividem suas vidas com você, sejam muito felizes também.
Grande beijo,
Renata
A menina dos fósforos
H.C. Andersen

Era véspera de Ano Bom. Fazia um frio intenso; já estava escurecendo e caía neve. Mas a despeito de todo o frio, e da neve, e da noite, que caía rapidamente, uma criança, uma menina, descalça e de cabeça descoberta, vagava pelas ruas. É certo que estava calçada quando saiu de casa; mas as chinelas eram muito grandes, pois que a mãe as usara, e escaparam-lhe dos pezinhos gelados, quando atravessava correndo uma rua, para fugir de dois carros que vinham a toda a brida. Não pôde achar um dos chinelos e o outro apanhou-o um rapazinho, que saiu correndo e declarando que aquilo ia servir de berço aos seus filhos, quando os tivesse. Continuou, pois, a menina a andar, agora ocm os pés nus e gelados. Levava no avental velhinho uma porção de pacotes de fósforos e tinha na mão uma caixinha: não conseguira vender uma só em todo o dia, e ninguém lhe dera esmola - nem um só vintém.

Assim, morta de fome e frio, ia se arrastando penosamente, vencida pelo cansaço e o desânimo - a estátua viva da miséria.

Os flocos de neve caíam pesados, sobre os lindos cachos louros que lhe emolduravam graciosamente o rosto; mas a menina nem dava por isso. Via, pelas janelas das casas, as luzes que brilhavam lá dentro; vagava na rua um cheiro bom de pato assado - era a véspera do Ano Bom - isso sim, não o esquecia ela.

Achou um canto, formado pela saliência de uma casa, e acocorou-se ali, com os pés encolhidos para abrigá-los ao calor do corpo; mas cada vez sentia mais frio. Não se animava a voltar para casa, porque não tinha vendido uma única caixinha de fósforos, e não ganhara um vintém; era certo que levaria algumas lambadas. Além disso, lá fazia tanto frio como na rua, pois só havia o abrigo do telhado, e por ele entrava uivando o vento, apesar dos trapos e das palhas que lhe tinham vedado as enormes frestas.

Tinha as maozinhas tão geladas... estavam duras de frio. Quem sabe se acendendo um daqueles fósforos pequeninos, sentiria algum calor? Se se animasse a tirar um ao menos da caixinha, e riscá-lo na parece para acendê-lo... Ritch!... Como estalou, e faiscou, antes de pegar fogo!
Deu uma chama quente, bem clara, e parecia mesmo uma vela, quando ela o abrigou com a mão. E era uma vela esquisita, aquela! Pareceu-lhe logo que estava sentada diante de uma grande estufa, de pés e maçanetas de bronze polido. Ardia nela um fogo magnífico, que espalhava suave calor. E a meninazinha ia estendendo os pés enregelados para aquecê-los e... crac! Apagou-se o clarão! Sumiu-se a estufa, tão quentinha, e ali ficou ela, no seu canto gelado, com um fósforo apagado na mão. Só via agora a parede escura e fria.

Riscou outro. Onde batia a sua luz, a parede tornava-se transparente como a gaze, e ela via tudo lá dentro da sala. Estava posta a mesa, e sobre a toalha alvíssima via-se, fumegando entre toda aquela porcelana tão fina, um belo pato assado, recheado de maçãs e ameixas. Mas o melhor de tudo foi que o pato saltou do prato e, com a faca ainda cravada nas costas, foi indo pelo soalho direto à menina que estava com tanta fome, e...

Mas - que foi aquilo? No mesmo instante acabou-se o fósforo, e ela tornou a ver somente a parede nua e fria, na noite escura. Riscou outro fósforo, e àquela luz resplandecente, viu-se sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Oh! Era muito maior, e mais ricamente decorada do que aquela que vira, naquele Natal, ao espiar pela porta de vidro da casa do negociante rico. Entre os galhos brilhavam milhares de velinhas; e estampas coloridas, como as que via nas vitrinas das lojas, olhavam para ela. A criança estendeu os braços, diante de tantos esplendores, e então, então... apagou-se o fósforo. Todas as luzinhas de natal foram subindo, subindo, mais alto, cada vez mais alto, e de repente ela viu que eram estrelas, que cintilavam no céu. Mas uma caiu lá de cima, deixando uma esteira de poeira luminosa no caminho.

- Morreu alguém - disse a criança.

Porque sua avó, a única pessoa que a amara no mundo, e que estava morta, lhe dizia sempre que quando uma estrela desce, é que uma alma subiu para o céu.
Agora ela acedeu outro fósforo; e desta vez foi a avó que lhe apareceu, a sua boa vovó, sorridente e luminosa, no esplendor da luz.
- Vovó! - gritou a pobre menina - Leva-me contigo... Já sei que quando o fósforo se apagar, tu vais desaparecer, como se sumiram a estufa quente, e o rico pato assado, e a linda árvore de Natal!
E a coitadinha pôs-se a riscar na parede todos os fósforos da caixa, para que a avó não se desvanecesse. E eles ardiam com tamanho brilho, que parecia dia, e nunca ela vira a vovó tão alta, nem tão bela! E ela tomou a neta nos braços, e voaram ambas, em um halo de luz e de alegria, mais altoo, e mais alto, e mais longe... longe da terra, para um lugar lá em cima onde não há mais frio, nem fome, nem sede, nem dor, nem medo, porque elas estavam agora com Deus.

A luz fria da madrugada achou a menina sentada no canto, entre as casas, com as faces coradas e um sorriso de beatitude. Morta. Morta de frio, na última noite do ano velho.
A luz do Ano Bom iluminou o pequenino corpo, ainda sentado no canto, com a mão cheia de fósforos queimados.
- Sem dúvida ela quis aquecer-se - diziam.
Mas... ninguém soube das lindas visões, que visões maravilhosas lhe povoaram os últimos momentos, nem em que halo tinha entrado com a avó nas glórias do Ano Novo.


21 de dez. de 2007

Em dias tão sentimentais...



Uma das canções da minha vida.

18 de dez. de 2007

Em tempos de reuniões de Natal...



"Nossa relação com as pessoas consiste em discutir com elas e criticá-las. Foi isso que me afastou por vontade própria de toda a minha vida social"

Frase de Isak Borg, personagem principal de Morangos Silvestres, um dos meus filmes favoritos do genial Ingmar Bergman.

15 de dez. de 2007

Prezados amigos secretos,

Tendo em vista a próximidade do Natal e a superlotação das lojas nesta época do ano, resolvi elaborar uma breve lista com sugestões de presentes para mim. Ressalto que, desta vez, não ficarei contente em receber nada que tenha relação com esoterismo ou coisa do gênero. Não, eu não vou usar um terceiro olho. Não, eu não irei ler nenhum livro de auto-ajuda. Ainda deixo claro que não sou como Jorge( que ganhou um cd de Sula Miranda de aniversário e fingiu satisfação). Seguem os itens:
  1. Algum livro da Inês Pedrosa
  2. Algum livro do Antonio Di Benedetto
  3. Algum livro sobre cinema
  4. Faixas para o cabelo estilo Érica e Joana( qualquer dúvida, podem perguntar a elas)
  5. Roupas sempre são bem-vindas, desde que eu possa trocá-las.
  6. Roupas de ginástica
  7. Sandálias rasteiras
  8. Cds de rock
  9. Dvds de filmes clássicos ou cults
  10. Esmaltes antialérgicos(escuros, de preferência)
  11. Flores(inapropriado, mas sempre bacana)
  12. Caixa com apenas chocolate branco(existe?)
  13. Uma máquina fotográfica digital( eu sei, é quase impossível que vocês gostem tanto assim de mim, mas não custa tentar, quem sabe Papai Noel também não é um dos leitores deste blog?)

Feitas tais considerações, agradeço, desde já, os cartõezinhos de Natal que vocês escreverão para mim.

PS: Eva, essa lista não vale para você! Pode escolher uma lembrança- surpresa, viu?

9 de dez. de 2007

Sobre uma certa Senhorita C.


Sempre que abro meus livros de Clarice tenho a sensação de que eles é que são os meus verdadeiros álbuns de fotografias. E, no jornal A Tarde de hoje, em homenagem ao aniversário de morte da autora, saiu uma matéria linda. Eu participei dando um breve depoimento sobre a importância da Senhorita C. Lispector na minha vida, detalhei o choque de realidade que senti ao me deparar com o conto Amor de Laços de família.
Ah, Clarice! Há tempos que quero lhe dizer tanta coisa! Nós duas temos um mesmo defeito: gostamos do impossível. E por isso essa dor, essa que pune esse corpo inocente, mas terrivelmente limitado. Sim, nossa conversa será longa demais, melhor conversarmos mais tarde. Se você estiver lendo esse blog, já saberá o teor de minhas palavras. Caso contrário, não se preocupe. Quando nesta noite, eu a reconhecer solitária e brilhante no céu, orarei revelando tudo.

6 de dez. de 2007

Lista dos vencedores do desafio

  1. Carina Avgvsta
  2. Personagem Principal
  3. Criticas Criticáveis
  4. O Sibarita
  5. Aeronauta
  6. Palatus e colirius
  7. Álvaro
  8. Luíza(que foi café com leite)
  9. Kátia Borges
  10. Ricardo
  11. Georgio

Na próxima segunda-feira, colocarei os livros no correio. Por favor, mandem seus endereços!!!!

Para diversão de vocês(notícia encontrada na BBC Brasil)


Argentino propõe criação de imposto sobre beleza

Max SeitzDe Buenos Aires

O escritor argentino Gonzalo Otálora está causando polêmica com uma campanha em que defende a cobrança de impostos das pessoas consideradas lindas para compensar o "sofrimento" daqueles que supostamente foram menos favorecidos pela natureza.
O escritor, de 31 anos, diz que sua iniciativa tem o objetivo de provocar um debate sobre o culto à beleza na Argentina e sua influência em setores como a política, a economia e a educação.
Armado com um megafone em frente à Casa Rosada, sede da Presidência argentina, em Buenos Aires, Otálora reclama os direitos das pessoas que são consideradas feias pela sociedade.
Otálora, que se considera parte do grupo dos menos agraciados, afirma "por experiência própria" que os feios não têm os mesmos direitos que os lindos na Argentina.
Em seu livro, intitulado "Feio", o escritor argentino narra em primeira pessoa o sofrimento que enfrentou por sua suposta falta de beleza.
"Minha história é a de um garoto que usava óculos e aparelho nos dentes, que era alvo de deboche dos colegas de escola e rejeitado pelas meninas nas festas. Tempos depois, quando procurava emprego, sentia-se tão feio e inseguro que não conseguia nada", disse Otálora à BBC.
"Eu pensei que se fizesse dieta, fosse todos os dias à academia e me submetesse a uma cirurgia plástica poderia ser feliz. E me dei conta de que fiz tudo isso e (ainda assim) não me sentia completo. Minha vida não mudou."
Na Argentina, a beleza física é associada à imagem de modelos e atores que aparecem nos meios de comunicação, e as pessoas são consideradas mais ou menos belas conforme se aproximam ou se distanciam desses parâmetros.
Otálora diz que empreendeu sua cruzada para que os argentinos tomem consciência dos valores que sustentam esse tipo de discriminação e "autodiscriminação".
"Paliativo"
O escritor propõe que o imposto cobrado dos belos sirva para subsidiar os feios e reparar seu sofrimento.
"É um paliativo, porque neste país, onde se diz que as mulheres argentinas são as mais lindas do mundo, um garoto feio ou que se sinta feio está de algum modo condenado a ser infeliz", afirma.
Escritor narra em livro sofrimento que enfrentou por ser feio
Otálora apresentou seu projeto ao presidente da Argentina, Néstor Kirchner, a quem classifica como "pouco atraente" e de quem espera alguma resposta por simpatia à causa.
O escritor admite que a idéia de um imposto sobre a beleza "pode parecer uma loucura", mas afirma que é apenas um ponto de partida para discutir outros temas.
Ele enumera alguns assuntos que, em sua opinião, deveriam ser debatidos: "Que nos desfiles de moda estejam representados todos os tipos de constituição física, que na escola se crie um ambiente que desestimule o deboche e que se controle a importância que as empresas dão à aparência na hora de selecionar funcionários".
Por fim, Otálora dá um conselho a seus "pares" feios: "Eu me reconciliei comigo mesmo quando me olhei no espelho, parei de me julgar e comecei a gostar de mim mesmo. E, às dificuldades, respondi com bom humor."

4 de dez. de 2007

My Mac Happy Weekend(Meu Mac final de semana feliz)

Talvez porque a palavra esteja bastante desgastada. Talvez porque eu realmente não saiba o que ela significa. Mas uma coisa é certa: sempre que penso no que é felicidade, duas imagens vêm na minha cabeça. A primeira delas é a cena acima colecionada. A segunda é uma libélula morta exposta num quadro de vidro pendurado numa parede qualquer.
Dito isso, fica claro que tenho uma péssima impressão do termo “felicidade”. Ele me parece assustador, artificial, plástico e mentiroso. Não há nada mais terrível do que as promessas de vida que ele propõe sem sucesso. Guerras, drogas e antidepressivos são algumas das conseqüências dessa busca desesperada por algo que não sabemos exatamente o que é. Nos últimos tempos, o mercado de consumo criou a ditadura da felicidade e nós a aceitamos sem pensar. Internalizamos a idéia de que temos que sempre estar bem, malhados, bonitos, ricos, contentes... E coitado daquele que fuja desse padrão! Entra direto no bloco dos infelizes, passa a ser visto pelos “outros”(que se pensam felizes) como alguém inferior, condenado às profundezas malignas do mundo.
Não seria mais fácil se admitíssemos que este modelo de vida é incompatível com a natureza humana? Somos mutantes, inconstantes, variáveis. Como poderíamos caber em uma roupa só? Para mim, é claro que é impossível viver sem conflitos. E, sinceramente, agradeço por isso. É das minhas angústias e medos que nasce muito daquilo que escrevo. Chega a ser curioso: encontro enorme prazer em colocar no papel tudo que me incomoda.
Eu acho que o que verdadeiramente importa é sermos féis ao que acreditamos. Sem esperar nada dos outros, sem exigir deles qualquer adesão ao nosso projeto de existência. O nosso compromisso deve ser apenas este e ponto. Isso foi o que concluí com o desafio que propus.
Ahh... Que vergonha! Esse texto ficou meio auto-ajuda, não? Pena que não vou ganhar horrores de dinheiro com ele!(rs)
Abaixo segue o meu Mac final de semana feliz. Com ketchup e tudo mais.
Obrigada por terem topado o desafio. Espero que gostem dos livros que receberão.

Meu Mac final de semana feliz

Sexta= Me diverti bastante no casamento. Já no aniversário, tive que escutar as mesmas coisas chatas de sempre. (Está mais gorda/magra? Quais as novidades?). Quando, ainda na festa, a quinta pessoa me perguntou o que eu estava fazendo da vida, respondi, na frente de todo mundo, sem pestanejar:
- Nada. Parei de trabalhar. Só penso em me casar.
É óbvio que o povo ficou horrorizado. Mas valeu a pena, sabe? Desde então, só faço dar risada dessa cena que protagonizei.


Sábado= Tive quatro eventos. Todos foram relativamente bons. Gostei mais do último. Adorei saber que minha tia-solteira-convicta anda arrastando asa para um colega de trabalho recém-saído da adolescência. E que ela só pensa em Sex and the city. Tudo bem que ela descobriu o seriado tardiamente, mas achei muito moderno da parte dela admitir isso.


Domingo= Passei o dia lendo. Comi Mac Donalds. Engordei vinte quilos. Assisti um filme chamado Amigas com dinheiro. Me lembrei que ficarei sem dinheiro: preciso comprar os presentes de Natal de minhas amigas.

Cena inicial do filme Cidade dos sonhos de David Lynch.

30 de nov. de 2007

Primeiro desafio Vestígios da Senhorita B.


Do regulamento:

1- De hoje(30/11/07) a partir das 18:00 horas até às 24:00 horas de domingo(02/12/07) desafio vocês a terem um final de semana feliz. Ou seja: nada de melancolia, baixo astral ou coisa do tipo. Sim, eu sei que ficar bem aos domingos é bem difícil. Mas vale a pena tentarmos. Pelo menos, descobriremos se é verdade que a felicidade é fruto de nosso condicionamento mental.

2- Os leitores que escreverem até às 24:00 horas da próxima terça-feira (04/12/07) comentando a experiência ganharão um livro de presente. É importante frisar que não importa se vocês chegaram ao objetivo ou não. Quero apenas saber se realmente se comprometeram com o desafio.

3- Para os leitores deste blog que já têm os meus livros, disponho de exemplares da antologia Outras moradas e de trabalhos de outros autores baianos.

4- Os livros serão enviados pelo correio. Mandem em um comentário avulso seus endereços e a opção pelo livro. (Tal informação não será publicada).

5- Para os que usam pseudônimo, podemos pensar numa outra alternativa.

6- Promoção válida também para escritores.
Boa sorte para todos!

29 de nov. de 2007

Convite: Fulana Opereta


F u l a n a o p e r e t a

Recital de poemas de Fabrícia Miranda,

Participação de:
Gabriela Carvalho, Inaê Sodré, Lita Passos e Renata Belmonte

Escola de Belas Artes, 18 horas




27 de nov. de 2007

Dans Paris



Por que até sofrer em francês é mais charmoso?

22 de nov. de 2007

A musa do banheiro


Aquele era um lugar apertado. Todos os papéis já haviam sido preenchidos. E eu comecei a estudar naquela escola quando já era tarde demais. Hoje, vejo: muito pouco havia sobrado para mim.

Bianca era a melhor aluna da classe, lembro-me perfeitamente que os professores a elogiavam em voz alta durante as aulas. Maria Carolina era a mais bonita de todas e vivia rodeada de outras garotas também muito bonitas. Estar entre elas era o mesmo que se dar bem com os melhores "partidos" daquele tempo. Fernanda tinha quinze anos, mas já dirigia um conversível verde. Era quase um passatempo vê-la chegar ao colégio naquele super carro. Era super inspirador pensar em como era a sua super vida. Cláudia já cantava muito bem e costumava ser sempre o centro das atenções. As "meninas perdidas" tinham todas um comportamento arredio e se reuniam para fumar juntas na hora do intervalo. Os alunos que vinham do interior passavam o recreio no interior: no interior da sala de aula. Naquele colégio, todos sabiam a parte que lhe cabia.

Eu era estudiosa, mas jamais fui a número um. Aos quinze anos, magra e cheia de espinhas, não havia nenhum sinal em mim que indicasse que eu poderia ser aprovada no vestibular das garotas bonitas. Um conversível? Bom, eu tinha. Um rosa, muito lindo que ganhei de Papai Noel: o conversível da Barbie. Querem que eu cante para vocês? Não, já parei, por favor, terminem de ler este meu post. Nunca fui fã de cigarros e sabia a surra que eu iria tomar caso chegasse fedendo a tabaco em casa. Nasci em Salvador e na época pensava que isto significava não ser do interior. Ou seja: será que existia algum lugar para mim?

Sim, naturalmente: o banheiro. O banheiro do colégio. Era neste espaço que eu conseguia ficar só, me esconder do olhar do outro. É óbvio que as pastilhas brancas deixavam o ambiente um pouco inóspito. Mas nada comparado aos meus colegas de classe e suas existências estáticas. Foi no sanitário da minha escola que derramei as lágrimas pelo fim do meu primeiro namoro, foi lá que constatei que as pessoas não são como a gente gostaria... Dentro dele, devo também ter representado diante de mim mesma os papéis que cabiam aos outros. É certo que os espelhos daquele lugar devem ainda guardar a imagem da Renata adolescente. Musa que é musa jamais se esquece, né? Hoje, fiquei com saudade de mim e tive uma idéia: na próxima semana, farei uma visita demorada ao banheiro do colégio que eu estudei. Talvez eu descubra que ele ainda seja o único lugar que me cabe neste mundo.

20 de nov. de 2007

Pequena certeza de terça:


Eu confio no desconhecido.
Foto: Ricardo Belmonte

18 de nov. de 2007

Ameaça

Se nada de relevante começar a acontecer, juro que faço como a Senhorita B: coloco uma mochila nas costas, arrumo a mala e fujo. É certo que, em algum lugar, o trem da minha vida irá passar.

11 de nov. de 2007

Raras felicidades dominicais

Viver tem sido uma grande aventura... Não é que acabei de encontrar na porta de uma pizzaria o garotinho do post Uma criança e eu? Após reconhecê-lo, lhe disse: escrevi sobre você no meu blog. No ato, ele me respondeu: e eu, como você, também comecei a fazer um livro.

As mulheres da minha vida









Quando criança, me perguntavam com insistência o que eu queria ser quando crescer. Hoje em dia, a pergunta mudou de palavras: O que você pretende fazer da sua vida? Bom, eu não tenho ainda uma resposta precisa para tal questionamento. Como explicar que possuo muitos sonhos e que são múltiplos e variados os planos que traço diariamente para mim?

Muitas são as nossas possibilidades de existência: acredito piamente nisso, desde a adolescência, quando mudava semanalmente a cor dos meus cabelos. Deste tempo, pouca coisa restou: foi embora meu macacão preto folgado, os cabelos cresceram, algumas posturas diante do humano se modificaram... Mas uma coisa permanece intacta e se reflete em quase tudo que escrevo: ainda nutro enorme admiração pelo sexo feminino.

Costumam dizer que mulheres não conseguem se relacionar bem entre si, que nossas relações são baseadas em inveja... Pura besteira. Se algum dia me perguntarem quem eu quero ser quando crescer, não terei dúvidas: citarei um por um os nomes das mulheres da minha vida.

Nas fotos: Eva, Renata e Jorge (que apesar de não ser mulher, merece estar neste post); Madonna; Erica e Joana; Clarice Lispector. Faltaram fotografias de: minha mãe, minha avô, minhas tias e primas, Lígia e Vanessa, dentre outras.

7 de nov. de 2007

Das cenas insólitas da minha vida: parte 01

Na noite de ontem, fui à uma festa na galeria Paulo Darzé. E, quando estava deixando o local, fui abordada bruscamente por um mendigo esquálido, com cara de drogado. Senti um frio tomar conta de mim, já era madrugada, a rua estava bem escura... Pensei: Ops! Desta vez, me dei mal. Mas, de repente, uma voz rompeu o silêncio torturante:
- Noooossaaaaaaa! Que vestido lindo! Fashion! É por isso que gosto de pedir dinheiro aqui na Vitória: só vejo gente chiqueeee!
- Sai daqui, sua bicha, pare de incomodar as pessoas!- falou o segurança do lugar que acabou aparecendo para me "socorrer".
Minutos depois, passado o susto inicial, eu só fazia rir. E na hora de dormir, acabei constatando: eu quase agi como Tatiana, a personagem "ordinária" do meu conto Sandálias vermelhas. Paguei bonitinho a língua. Depois ainda me perguntam porque me tornei escritora...

4 de nov. de 2007

Crime e castigo

Na faculdade de direito, um professor constantemente me dizia que eu seria uma grande promotora, pois eu tinha enorme talento para o crime. Nunca dei ouvidos às suas pregações, pois jamais me senti tentada a trabalhar com gente inescrupulosa. Mas, hoje, reconheço sem modéstia que ele tinha, de certa forma, alguma razão.
Quando comecei a estagiar naquele escritório, eu era uma garota cheia de sonhos. Pensava ainda que todas as pessoas mereciam uma segunda chance, acreditava que aqueles que cometiam delitos tinham seus motivos. Isso até começar a conviver com minha chefe.
Com o argumento de me "educar" para o mundo, ela me fazia passar por humilhações das mais diversas. Certa vez, me prendeu gratuitamente no escritório até tarde só para eu perder uma prova importante. Houve um dia, em que ela liberou todas as outras estagiárias para poderem ir ao salão de beleza(era o casamento de uma das sócias daquele lugar), menos eu. Sua desculpa? Você tem o cabelo liso, não precisa se arrumar.
Eu jamais lhe disse nada, nunca reclamei de sua postura. Minhas amigas e meu namorado ficavam horrorizados, me perguntavam como eu suportava passar por tudo isso. Eu sempre lhes respondi : eu só faço o que quero, não sou vítima de nada, portanto não se preocupem comigo.
Não, não se preocupem comigo. Deixei aquele lugar para ir estagiar em outro muito melhor. E daquela minha chefe, restou uma lembrança: ela bêbada na tal festa de casamento, dançando sozinha num canto, usando um vestido horroroso...
Recentemente, soube que ela adora falar sobre a minha passagem no escritório, que costuma pregar, no quadro de avisos, algumas das minhas fotos que saíram no jornal. Foi aí que compreendi o que meu professor da faculdade queria dizer: eu sou dura na queda, a pessoa perfeita para fazer os outros pagarem no final por seus crimes. E, para esta minha chefe, tenho certeza: meu silêncio sempre foi a maior das suas penas. Conviver com fato de que jamais conseguiu prejudicar minha vida é o preço que ela terá eternamente que pagar.

3 de nov. de 2007

Síndrome Carrie Bradshaw



Recentemente, no lançamento de um livro, encontrei com a Anna e com a Mônica Menezes. Conversamos bastante, foi muito bacana. Nosso assunto principal? Não, nada de Clarice ou Hilda. Falamos sobre calçados. Isso mesmo: sandálias e sapatos.
É certo que nós, mulheres, amamos tal tema. A queridíssima Mônica me disse que uma das primeiras coisas que ela olha numa outra mulher é o sapato que esta está usando. Achei isso bem curioso, pois percebi que também ajo assim. E acabei me lembrando de meu irmão, que nada entende de moda, mas que sempre me diz que eu deveria usar mais sandálias rasteiras (e condena com vigor qualquer espécie de bota).
Ora, mas não é que descobri, nesta semana, que um dos meus artistas favoritos também tem um fetish por sapatos? Não, Carrie, desta vez não me refiro à você. Falo do David Lynch. Que fotografou os sapatos do Louboutin e está expondo o resultado disso tudo na
Galerie du Passage, em Paris. Eu vi algumas das fotos e achei incríveis. Bem a estética do mestre!
No mais, desejo para vocês um sábado bem no clima deste post: repleto de glamour!


PS: As fotos acima são de autoria do Sr. Lynch.

31 de out. de 2007

A vida dos outros



Eu freqüento aquele prédio há uns dez anos. E minha relação com o idoso porteiro daquele lugar nunca tinha passado de "bom-dias" semanais. Até a última semana:


- gfbkejrg tj- disse ele ansioso, afobado.


- Me desculpe, mas não compreendi uma palavra do que o senhor falou. - afirmei bastante confusa.

-Eu vi a senhora na televisão.- repetiu ele ainda ofegante. E no alto de sua timidez acrescentou:


- Sempre a incluo nas minhas orações. Deus te abençoe!


- Amém.- respondi sorrindo, agradecida.


Enquanto ia tomando o elevador, pensei: devem existir nesse mundo tantas pessoas que torcem por mim e que eu absolutamente desconheço!
Amém também para todos vocês: leitores queridos deste blog.

PS: A fotografia do post pertence ao belíssimo filme A vida dos outros que tem tudo a ver com o texto acima escrito.


27 de out. de 2007

Esmeralda

Aos dois dias de nascida, me despejaram em seus braços. E de lá jamais saí: fui adotada para sempre por ela, ela, que durante toda a sua vida repetiu que jamais teve vontade de ter filhos.
Quando Ricardo nasceu, a tiraram do meu quarto e eu, aos quatro anos, tive a minha primeira perda. Aquele ser estranho que me obrigavam a chamar de irmão se tornou um dos maiores amores de sua vida, há algo frágil nele que a encanta terrivelmente. É certo que na sua concepção, eu, a menina que sempre foi linda, precisa menos dela do que o garoto mirrado cheio de hábitos excêntricos. Tem sido assim, desde sempre: de equívocos se preenche a história da minha vida.
Se algum dia me for possível, farei o mesmo que o João Moreira Salles: dirigirei um documentário sobre a vida da minha eterna babá. Ele se chamará Esmeralda, seu verdadeiro nome. Nome este que ela guarda como um segredo e esconde através do apelido Meire. É dura demais consigo mesma para reconhecer todo o seu valor.
Por fim, hoje, no dia de seu aniversário, mesmo sabendo que ela não lerá este texto, repito a dedicatória de Femininamente: Para minhas duas mães. Sim, o amor que sinto por ela é muito maior do que qualquer eventual dor.

23 de out. de 2007

Uma criança e eu


Ontem, fui ao médico. E na sala de espera, fiquei conversando com um garoto de onze anos que aguardava a mãe sair do consultório. Era fim de tarde e estávamos completamente sós. Com cuidado, ele me perguntou o motivo de eu estar ali. Minutos depois, lhe dirigi o mesmo questionamento. Isso foi o pontapé inicial do nosso diálogo, que envolveu confissões pessoais de ambas as partes. Ele me falou da mãe neurótica e exagerada que o ama muito, do pai que jamais se importou com ele e lhe negou uma mochila da Datelli, da paixão que sente por uma garota da 7 ª série, da dificuldade que tem de ser amigo do irmão adolescente, do medo que sente de não conseguir ganhar dinheiro quando crescer, do seu sonho de conhecer o Maurício de Souza(quer ser desenhista e é muito fã da Turma da Mônica). Eu lhe falei que nunca me senti criança, mas que tenho um medo enorme de crescer. Pouco antes de ir embora, fizemos juntos um desenho. Eu lhe entreguei o meu habitual Mickey Mouse, a única coisa que me restou dos tempos do lápis de cor. Ele me mostrou seus rabiscos: tinha feito o rosto de uma garota. Pensei que era eu ou sua mãe, mas não quis perguntar. No final de tudo, trocamos e-mails. Ele vai me mandar um site de "pets" e entrar na comunidade que fizeram para mim no Orkut. Eu lhe fiz uma promessa: vale ainda a pena sermos boas pessoas. Espero que os próximos anos de sua vida não me desmintam.

18 de out. de 2007

Das coisas que vejo na TV

Hoje, vi na televisão uma mulher falando que está na melhor fase de sua vida, que se sente ótima, verdadeiramente realizada. Fiquei desconfiada. Sim, talvez eu também seja feliz. Pena que sei muito pouco sobre isso.

16 de out. de 2007

Uma nova vida para Renata B.

Nos últimos tempos, venho me sentindo levemente entorpecida, com a sensação de que tudo que vivo é sonho, um destes sonhos que não fazem sentido, mas que aceitamos durante o sono como algo bastante lógico e coerente. Talvez eu esteja assistindo filmes demais, essa é a primeira das hipóteses.
É certo que tudo tem seu fim e a noite de hoje não foi diferente. Neste último lançamento do Outras moradas, tirei fotos sorrindo, encontrei pessoas amigas, conheci pessoalmente outras pessoas amigas, me tornei amiga de pessoas que apenas conhecia. Tudo ao som de jazz, que preferi inventar ser bossa-nova: assim pude acreditar que a sensação vagamente familiar que me tomava nada mais era do que a identificação do momento com os eventos que acontecem nas novelas de Manoel Carlos. Talvez eu esteja assistindo novelas demais, eu sei. Essa também é uma das minhas hipóteses.
Que vivemos eternamente de fantasias, sempre tive certeza e jamais neguei as minhas. Mas eis que conto a cena mais surreal deste meu último sonho: onze escritores sentados ao mesmo tempo numa pizzaria. Duas mesas, papo agradável, clima descontraído. Eu, no meio deles, eu, que sempre evito conviver com grupos por medo de abusos coletivos de compreensão. É madrugada, sim, sei. Mas estou acordada e o que narro não surgiu durante o sono. É a minha realidade, esta que vem me causando muito mais estranheza do que os filmes do David Lynch.
As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas não desconfiam que eu morro de medo de autografar os meus livros. Sempre acho que escreverei alguma coisa errada, que direi algo tolo, sem sentido. As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas nem desconfiam que temo não corresponder o tamanho de sua consideração. Sou bastante esquecida e sofro muito quando sou desatenciosa com aqueles que são bons comigo. As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas e me viriam com aquele vestido dourado, desconhecem a angústia que sinto durante as minhas festas: tento sempre prolongar os momentos que vivo, não gosto de aceitar o fim das coisas.
Algumas pessoas que conheço e dizem que gostam muito de mim não tem comigo a menor consideração. Outras, que mal convivo, nutrem por mim afeição. Meu irmão, outra dia, brigou comigo e disse: pobre de você que vive de migalhas de felicidade. É, talvez ele tenha razão. Porque permaneço aqui, nesta noite, com fome. Mas sempre embriagada de vida.

9 de out. de 2007

Lista de convidados:


  1. Todos os leitores deste blog!


    Esse 2º lançamento é para vocês: meus leitores queridos. Nós, autores do Outras moradas, apenas tivemos 40(quarenta) convites individuais para o lançamento de amanhã, no Solar Cunha Guedes. Só minha família são 50 pessoas... Portanto, resolvemos fazer esse segundo evento. Será muito legal! Espero vocês!

7 de out. de 2007

Tratado sobre o óbvio


Algumas considerações:


  1. Nem todas as pessoas ricas são metidas e desonestas.

  2. Nem todas as pessoas pobres são simples e honestas.

  3. Nem todas as pessoas pobres são dignas de pena, algumas vivem com muito mais dignidade do que outras que ganham milhões.

  4. Nem todas as pessoas ricas são dignas de desprezo, algumas são ótimas pessoas e investem seu dinheiro de forma muito bacana.

  5. Nem todas as mulheres bonitas são insuportáveis e vazias.

  6. Nem todas as mulheres bonitas são burras.

  7. Usar roupas folgadas e óculos colorido não transforma ninguém em intelectual.

  8. Usar terninho e pasta de couro não transforma ninguém em um profissional mais competente.

  9. Nem todas as pessoas gordas são infelizes.

  10. Nem todas as pessoas gordas são engraçadas.

  11. Nem todas as pessoas magras sofrem de anorexia.

  12. Nem todo artista é lunático.
  13. Nem todo americano é burro e alienado.

Queridos: já está na hora de combatermos essa lógica de vida Malhação!

3 de out. de 2007

Do absurdo da condição humana




Já pararam para pensar: por que a maioria das pessoas morre de rir ao ver outra tropeçar?

30 de set. de 2007

Insights & Epifanias

debaixo de tudo vestidos de nada
restamos após a luta pele, suor, sangue
belo embaralho de peitos e pernas corpos sobre corpos
a matéria do desejo impressa na respiração
revoluteando sobre si mesma sobre um outro incomensurável
já teima em ocupar espaço demais esgotado do gosto alheio
e ainda assim ansiando insights & epifanias
não mais as mesmas sim outras que não cabem em si
de tanto movimento um sobre outro um e outro
sobressaltados os dois no mesmo delírio insatatâneo
desferindo golpes talhando um amor à flor
da
pele

Sandro Ornellas
(Trabalhos do corpo. São Paulo: Letra Capital, 2007)

Eu coloquei um fim no meu reinado. Compreendi que era uma borboleta presa numa teia de aranha. Não, não precisei de outra epifania para chegar a tal conclusão. Bastou uma música, uma dor, este poema. Tão estranho e maravilhoso quanto meu corpo. A primeira verdade, segundo Sandro e Clarice.

26 de set. de 2007

:)


"E vem chegando a primavera

Nosso futuro recomeça:

Venha que o que vem é perfeição..."


(Perfeição, Legião Urbana)


Primeiro post da minha fase otimista:)

23 de set. de 2007

A vida como ela é


Hoje, na previsão diária para o meu signo, consta a seguinte afirmação: Nem tudo serão flores, mas elas estarão no caminho. Não sei exatamente porque, mas acabei me lembrando da minha última quarta-feira. Enquanto levava minha avó ao médico, fui abordada na rua pelos mais diversos tipos de pessoas: uma criança esquálida, um homem com o braço dilacerado, um homem com o pé quebrado... Todos querendo dinheiro, implorando piedade, expondo com veemência sua condição. Em tese, eles desejavam negociar comigo o preço de sua dor, tentavam mercantilizar suas feridas. Era como se disessem: se você me der algum tostão, poderá voltar para sua casa em paz.
A partir de tal episódio, acabei constatando algo muito terrível: no nosso cotidiano, vivemos sempre tentando conseguir vantagens nos utilizando de nossas fraquezas, tentando plantar nos outros o abominável sentimento de culpa. São pais que reclamam da velhice para conseguir a atenção dos filhos... São mulheres que se "vestem" de coitadinhas para arrancar dinheiro do marido... Ou seja: o discurso de vítima voltou a fazer sucesso no nosso país.
Hoje, eu fiquei em casa, não estava com vontade de encarar qualquer cena desagradável na rua. Coisa de quem, apesar de tudo, se sente muito mal com a pobreza e morre de culpa. Mas sabe de uma coisa? Me arrependi. Deveria ter ido ver as pétalas que apareceriam no meu caminho. Sim, porque de espinhos, já bastam os que me machucaram na última quarta-feira.

Desenho: Cidade do Kaos de Hugo Canuto

19 de set. de 2007

Devastação, ela disse.

"Certo dia, no hall de um prédio público, um homem veio até mim. Ele se apresentou e disse: Eu a conheço desde sempre. Todo mundo diz que a senhora era bonita quando jovem. Eu vim lhe dizer que, para mim, a senhora é mais bonita agora. Gosto menos de seu rosto de moça do que o de agora, devastado."
Início de O Amante de Marguerite Duras. Sem dúvidas, uma das minhas obras favoritas.

17 de set. de 2007

Neste papel onde também me escondo...




Natan Barretto é ator e poeta. Amanhã, 18 de setembro, ele estará lançando na Saraiva do Shopping Salvador o seu segundo livro de poemas, Esconderijos em Papéis. Fiquei intrigada com a sua rica história de vida e lhe fiz algumas perguntas. Eis o resultado:



RB- Cecília Meireles, certa vez, disse: não tem mais lar o que mora em tudo. Depois de tanto tempo fora do país, o Brasil ainda é sua "casa"? Onde você, agora, é realmente estrangeiro?

NB- No poema “Navio de várias árvores”, eu toco nesse assunto, do ponto de vista lingüístico, naturalmente abrangendo questões relacionadas à pátria. O poema começa com os versos: “Já sei que jamais serei um perfeito poliglota./ Tampouco poderei tentar a viagem de volta.” No primeiro verso, torno pública a minha incapacidade de falar perfeitamente os quatro idiomas que não apenas estudei a fundo, mas também vivenciei nos últimos vinte anos. No segundo, revelo a impossibilidade do retorno imaculado à língua-mãe. Embora durante os anos dedicados ao estudo de inglês, francês, italiano e espanhol, eu tenha continuado a estudar português, através da leitura e da escrita, ter deixado o Brasil me distanciou da minha língua materna. Hoje falo e escrevo português com um cuidado e atenção semelhantes aos que dedico a idiomas estrangeiros, tentando desviar-me de suas tantas armadilhas. Ainda assim, de vez em quando, acabo cometendo erros elementares, como se eu fosse estrangeiro à minha língua-mãe. Nesse mesmo poema, digo: “Minha língua-mãe me lambe,/ mas já não me lava/ da lava de palavras que me levam...”

Não sei se concordo totalmente com Cecília Meireles, pois acho que todo mundo tem um lar sim, ainda que imaginário. Foram muitas as casas onde morei, desde que deixei a casa onde vivi até os 19 anos. Morei numa pensão no Rio, num quartinho em Paris, num albergue em Roma, no sótão de um casarão em Londres, isso só para citar alguns dos tantos lugares por onde passei. No entanto, sempre soube que estava de passagem. A velha casa de Periperi, construída há mais de 70 anos por meu avô, a casa de sete mangueiras plantadas por ele e muitas outras árvores plantadas por meu pai, além de um lindo pé de flamboyant plantado por mim. Essa casa nunca deixou de ser, em mim, minha casa, ainda que nos últimos vinte anos eu só tenha estado nela de férias. Num poema, cujo título é o endereço dessa casa, digo que “partir é penetrar mais fundo do que quem fica.” O grande escritor argentino, Jorge Luis Borges, embora morasse na Europa, nunca deixou de ver Buenos Aires como a sua verdadeira cidade. Para ele, a pátria era um lugar muito mais idealizado do que concreto, muito mais no passado do que no presente. São dele os versos: “Naquela Buenos Aires, que me deixou, eu seria um estranho./ Sei que os únicos paraísos não proibidos ao homem são os paraísos perdidos.” Nesse sentindo, acredito nunca ter deixado o Brasil. Ainda assim, não poderia negar que em alguns aspectos me sinto estrangeiro aqui. No fundo hoje me sinto e sou estrangeiro, além de ser cidadão, tanto aqui quanto na Europa, o que por um lado não deixa de ser uma perda. Mas olhando por um outro ângulo, acaba sendo um grande ganho.

RB- O que dói mais: ser ator ou poeta? (Faço tal pergunta porque apenas escrevo prosa. E sou uma atriz frustrada, jamais subi num palco, apesar de apaixonada pela atividade).

NB- Como fui muito prolixo na resposta acima, vou tentar ser mais sucinto aqui. Na minha experiência pessoal, ser ator é muito mais doloroso. Nina, uma atriz de pouco talento, personagem da peça A Gaivota, de Tchekhov, expressa essa dor em poucas palavras: “Você não pode compreender o que é isso, ter consciência de que atua mal.” Eu acho até que eu tinha talento e vocação. Mas fui tomado por um grande medo do palco. A insegurança que eu sentia em cena foi o que me levou a buscar o esconderijo do ato de escrever. Não nego a dor de estar muitas vezes diante da branca folha de papel, consciente de que escrevo mal, não conseguindo sair vitorioso da luta que diariamente realizo com as palavras. No entanto, o fato de eu não estar exposto enquanto luto me garante uma certa lucidez e calma, qualidades necessárias para a luta, que no dizer de Drummond, era a luta mais vã. Já o ator não. Para a luta do ator ocorrer, ele precisa estar diante do público.


RB- Em qual dos seus poemas você se esconde melhor?

NB- A idéia dos meus poemas como esconderijos está mais relacionada à minha ausência física neles do que ao ato de se esconder. Na verdade, cada vez mais acredito que não seja possível se esconder enquanto artista, nem mesmo enquanto pessoa. A individualidade inerente a todo ser humano impede que isso ocorra. Por sermos diferentes uns dos outros, acabamos sempre deixando a nossa marca individual em tudo o que fazemos. Nos meus esconderijos em papéis estou mais exposto do que escondido. E aceito isso. Porém estou ausente. Estar fisicamente ausente é fundamental. Escondido mesmo eu não estou nem mesmo nos poemas em que não estou, pois até a minha percepção individual do mundo me revela ao mundo.


RB- Quando você se compreendeu artista? Foi difícil a aceitação de tal condição?

NB- Eu me compreendi artista muito cedo. Quando criança, eu pensava em ser médico ou pintor. Eu tinha um cavalete e fazia muitos quadros que minha mãe pendurava na sala e no corredor de nossa casa. Eu gostava muito de fazer peças com fantoches. Na verdade eu adorava isso! Minha mãe nos levava muito ao Teatro Castro Alves. Foi lá que eu vi Monetinho e me encantei. Anos mais tarde veria Os Saltimbancos e passaria a não ter dúvidas do que eu queria fazer pelo resto de minha vida. Mas só comecei a subir no palco quando tinha uns 14 anos. Foi no Marista, colégio onde eu estudava. Eu representei Zé do Burro, em O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, na sala de aula. O texto era longo, mas eu não errei nada. Ao me assistir, Luciano Bahia, que era meu colega de turma, me chamou para ser o ator principal da peça do ginásio, no ano seguinte. Nós competiríamos com o 1º, 2º e 3º colegial. A partir dali, eu ganharia todos os prêmios de melhor ator, até deixar o Marista em 1986. Minha família sempre ajudava, procurando roupas, sapatos e perucas para os meus muitos personagens. Todos me incentivavam. Nunca me impuseram nenhum empecilho. Mas o medo do palco sempre esteve presente, desde o princípio. No entanto, esse medo se diluía quando eu estava no palco. Era maravilhoso! Se eu pudesse redescobrir aquela energia em mim, retornaria ao palco hoje mesmo. E já não descarto essa possibilidade. Ando namorando o palco novamente. Em Londres, faço parte da StoneCrabs, uma companhia teatral anglo-brasileira. Embora a minha função esteja apenas relacionada a assuntos administrativos, já não acho impossível algum passeio futuro por minha primeira profissão. Seria tão bom poder explorar aqueles esconderijos novamente!
Mais sobre Natan:

15 de set. de 2007

Cantem comigo:

Quero me encontrar, mas não sei onde estou
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui
Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas
Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente
Estou cansado de bater e ninguém abrir
Você me deixou sentindo tanto frio
Não sei mais o que dizer
Te fiz comida, velei teu sono
Fui teu amigo, te levei comigo
E me diz: pra mim o que é que ficou?
Me deixa ver como viver é bom
Não é a vida como está, e sim as coisas como são
Você não quis tentar me ajudar
Então, a culpa é de quem? A culpa é de quem?
Eu canto em português errado
Acho que o imperfeito não participa do passado
Troco as pessoas
Troco os pronomes
Preciso de oxigênio, preciso ter amigos
Preciso ter dinheiro, preciso de carinho
Acho que te amava, agora acho que te odeio
São tudo pequenas coisas e tudo deve passar
Acho que gosto de São Paulo
E gosto de São João
Gosto de São Francisco e de São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas

Pronto. Já me sinto mais aliviada.
Tenho quase certeza que eu não sou daqui...

14 de set. de 2007

Brief an den Vater


“Os pais que esperam gratidão de seus filhos (inclusive os há que a exigem) são como agiotas; eles até gostam de arriscar seu capital, contanto que recebam juros por ele”.


(KAFKA, Franz: Tagebücher 1910-1923. Org. por Max Brod. New York e Frankfurt a. M. 1951, p. 443)


Se Kafka tivesse acreditado piamente nas palavras de seu pai, não saberíamos de sua existência. Sempre que temos um projeto que foge do senso comum, surge alguém para dizer que não vai dar certo. Alguns usam a desculpa de que estão sendo "ponderados". Outros agem por inveja, pois têm medo que outras pessoas acabem realizando os sonhos que eles não tiveram coragem de assumir. Eu já perdi a fé na política, nas boas intenções de algumas pessoas, até mesmo nos caminhos do mundo. Mas em mim? Jamais.

12 de set. de 2007

Em veludo azul




Quando eu tinha nove anos, ganhei o papel principal da peça de teatro da escola. Lembro-me com perfeição da alegria que senti, desde aquela época já sabia que queria ser artista. Cheguei em casa pulando, contando entre sorrisos a boa notícia para meus pais. Mas a reação deles foi completamente diferente da que eu esperava: Não, isso não é coisa para você. Você tem é que estudar para ser alguém na vida. Não, sinto muito, você não vai participar.
Faz menos de uma semana que voltei da viagem. Durante todos os dias que estive fora, tentei fazer apenas coisas prazerosas. Visitei museus, fui ao cinema, comprei algumas coisas bonitas. Mas algo faltava dentro de mim, algo que eu não sabia exatamente como verbalizar. Seus sonhos são impossíveis, me dizia uma voz bastante conhecida. Contente-se com o que você tem, sinta-se culpada por desejar mais.
Sempre que estou sozinha, interpreto personagens dos meus filmes favoritos. Normalmente fantasio que trabalho com o David Lynch. Sonho, um dia, encontrá-lo para poder lhe contar essa história. Escuto as trilhas do Angelo Badalementi, crio falas conturbadas. Desde a infância não piso num palco, portanto é no meu quarto que guardo este segredo, que faço todo o meu teatro.
O sol brilhava. Era o meu último dia naquele lugar. Eu me despedia feliz daquelas pessoas que mal conheci, contemplava com carinho os detalhes das ruas e de suas casas. Na porta da livraria, percebo uma mesa cheia de livros, todos em promoção. Não, nada me interessa. Dou as costas e sigo em frente. Eis que se apresenta uma outra mesa com um único livro exposto. Não, não devo gostar. Mas não custa olhar. Por um minuto, chego a duvidar do que está escrito: David Lynch, Catching the big fish. Sim, eu acabava de pegar o grande peixe.
Se Deus ainda existe, não sei. Mas tenho certeza de que, naquele momento, ele estava comigo. Pois ouvi ele dizer, bem baixinho: aproveite o seu encontro com o Sr. Lynch.
Repito: era o meu último dia naquele lugar. Saí pulando da livraria, alisando a capa do meu livro. Ela é bem lisa, gostosa de tocar. Como um veludo. Um veludo azul. Que foi me dado de presente por Deus na cidade dos sonhos.


9 de set. de 2007

No "Entre Aspas"...

Algumas palavras minhas!
http://revistaentreaspas.blogspot.com/
Beijos,
Renata

6 de set. de 2007

Quem disse que eu me mudei?


Não importa que a tenham demolido:
A gente continua morando na velha casa
[em que nasceu.

Mário Quintana



Volto de viagem direto para o Vestígios. Esta casa, nossa casa, minha casa.
(Post em homenagem a Fernanda Garibaldi, leitora querida, que trouxe poesia para essa minha volta)

30 de ago. de 2007

Queridos,

Eu e a Senhorita B. tiramos umas férias. Mas voltaremos no dia 06 de setembro.
Beijos para todos,
Renata

26 de ago. de 2007

Para Ricardo...



"Daquilo que sabes conhecer e medir, é preciso que te despeças, pelo menos por um tempo. Somente depois de teres deixado a cidade, verás a que altura suas torres se elevam acima das casas."
Friedrich Nietzsche

Sua frase favorita. Porque estou morrendo de saudades!



24 de ago. de 2007

Outras belezas


"O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus. Tentou na palavra o extremo-tudo. E esboçou-se santo, prostituto e corifeu. A infância foi velada: obscura na teia da poesia e da loucura. A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito Tempo-Nada na página. Depois, transgressor metalescente de percursos. Colou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra. Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar. A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo. O Caderno Rosa é apenas resíduo de um "Potlatch". E hoje, repetindo Bataille: Sinto-me livre para fracassar."
Hilda Hilst
Eu também, Hilda.

22 de ago. de 2007

Sobre ser muito bonita...

Acabei de assistir ao programa do Jô. E estou tão, tão contente, que resolvi dividir essa minha pequena felicidade clandestina. A entrevista com dona Vanda, mulher simples da cidade de Paudalho-Pe, fez renascer em mim sentimentos que eu julgava já perdidos. Há muito não "conheço" uma pessoa com tanta dignidade. Cheguei até a ter vontade de chorar. Talvez porque eu andasse achando que não havia mais esperança para esse mundo. Talvez porque eu tenha voltado a descobrir o grande leimotiv da minha vida: gente. Sim, eu amo gente.
Um dia, eu espero ter a beleza da dona Vanda. Pois a dela é muito especial, é como o vento: a gente não vê, mas sabe que existe. Porque sente.

20 de ago. de 2007

Queridos,



Repitam comigo: dia 22 de agosto das 15:oo às 17:oo horas no Labimagem. Com Renata Belmonte, Mayrant Gallo e Simone Guerreiro. Vão lá nos assistir, garanto que valerá a pena. Caso contrário, podem falar mal do meu cabelo novo.:)

17 de ago. de 2007

Lost in translation



" - I just don't know what I'm supposed to be. You know? I tried being a writer, but... I hate what I write. And I tried taking pictures, but they're so mediocre, you know. Every girl goes through a photography phase. You know, like horses? You know? Take, uh, dumb pictures of your feet.

- You'll figure that out. I'm not worried about you. Keep writing.

- But I'm so mean.-

- Mean's okay."


(Diálogo travado entre Bob e Charlotte numa das cenas do filme)

Desde que assisti Encontros e Desencontros, não fui mais a mesma. Talvez porque ele tenha me feito compreender que outras pessoas carregam a mesma sensação de deslocamento que eu. Talvez porque me senti muito invadida: com que direito alguém produz um filme sobre minha vida sem me avisar? Outro dia, li no blog da Aeronauta um post sobre retratos. Se me dissessem que sou a garota da fotografia acima, jamais duvidaria. Eu me reconheço neste retrato que não é meu. Se me dissessem que as palavras do diálogo transcrito saíram da minha boca, acreditaria sem pestanejar. Não, não vou traduzí-las. Pelo mesmo motivo que deixei em inglês a epígrafe de O que não pode ser. Todos nós apenas queremos ser encontrados porque estamos perdidos. Mesmo que seja apenas numa simples tradução.

16 de ago. de 2007

14 de ago. de 2007

Um post interativo


Nos últimos tempos, tenho percebido que muitas pessoas têm vergonha de admitir que não leram todos os grandes autores do mundo. Como se isso fosse uma falha de caráter ou mesmo um atestado de inferioridade social. No orkut, nas reuniões "literárias" e até mesmo em almoços familiares, virou moda citar escritores clássicos de forma prepotente e vazia, quase ridícula. Sempre que me deparo com este tipo de comportamento, constato: está tudo muito estranho.
Graças a Deus, ainda não li todos os melhores livros do mundo! Que prazer teria eu de viver sabendo que não há nada de novo para ser descoberto?
Sim, eu já tive algumas vezes comportamentos tolos. Mas não, vaidade definitivamente não é um dos meus pecados mais graves. Portanto, em protesto a esse tipo de postura infantil, publico aqui uma listinha com nomes de grandes escritores que ainda não li:
  1. Gabriel Garcia Marquez
  2. Marcel Proust
  3. Liev Tolstói
  4. Antonio Lobo Antunes
  5. Nélida Piñon

E vocês? Esqueceram do título do post? Façam o favor de confessar! Espero as listas nos comentário! Prometo que não vou ficar de bochechas coradas!(rs)

12 de ago. de 2007

Tudo sobre meu pai

Certa vez, ainda na infância, minha melhor amiga me perguntou:
- Quem é o homem que você acha mais bonito no mundo?
Sem a menor dúvida, respondi:
- Meu pai.

Foi com meu pai que aprendi a importância de ser sensível às demandas dos outros. Foi vendo meu pai construir casas para seus empregados que compreendi que, enquanto ele faz isso, o universo lhe conspira castelos. Extremamente emotivo, vejo-o resolvendo todos os problemas do mundo na mesa do seu escritório. E até com suas charmosas incoerências, já me acostumei: ainda ontem, apesar de ele reclamar do tempo que gasto com meus escritos, me presenteou com um belo caderno de couro.
Todas as manhãs, quando meu pai sai para trabalhar, acho-o tão elegante que escuto Frank Sinatra cantar. E sempre desconfio: dentro de seus ternos bem-cortados deve estar escondida uma roupa azul. Com uma capa e um S em vermelho no peito.

11 de ago. de 2007

Dos começos perdidos

"Todo amor tem seu instante inaugural, seu big bang particular, que é, por definição, um começo perdido, do qual os amantes, por mais perspicazes que sejam, nunca são contemporâneos. Não há amante que não seja, na verdade, o herdeiro tardio de um instante de amor que nunca verá, capturado que ficou, e para sempre, no breu de sua aparição"

Trecho de O Passado, romance do escritor Alan Pauls. O grande responsável por este blog ter se tornado passado nestes últimos esses dias...

7 de ago. de 2007

Quando o circo se foi...



" Quando criança, achava que sendo boa, apenas coisas boas lhe aconteceriam."

(Frase do meu conto Quando o circo se foi. Lógica do meu livro O que não pode ser. E de toda a minha vida.)

3 de ago. de 2007

Da primeira vez que vi a Senhorita B.

Ele se sentará na cabeceira da mesa e terá perto de si as suas cinco mulheres. Todas elas estarão muito contentes e baterão palmas ao mesmo tempo. Seus nomes são parecidos, suas iniciais se confundem. Apenas uma não é loura e não tem os olhos claros. Mas isto jamais fez com que se sentisse deslocada ou qualquer coisa do tipo. Suas roupas não negam: é presença indispensável na fotografia que será tirada em poucos minutos.

Eu estarei em pé e relembrarei com saudade alguns episódios daquela casa. As brincadeiras com a boneca de cabelos verdes e as intermináveis provas de vestidos me asseguram: sou uma delas. Perceberei os gestos exagerados da mais nova e escutarei os casos da única que mora fora. Darei risada das maluquices de minha madrinha. Comprovarei, mais uma vez: não foi à toa que nasci numa família de mulheres.

Hoje, nos noventa anos do meu vô Wilson, comungarei da felicidade de minha mãe e minhas tias. Sou Renata, filha de Rivane, a morena. Mas sou loura e parecida com Riane, Rejane e Rosane, minhas tias. Hoje, nos noventa anos de meu avô, haverá um momento em que procurarei os olhos verdes de minha vó, Rosalva. Porque foi neles que vi, pela primeira vez, a Senhorita B. Porque foi neles que entendi, pela primeira vez, o significado do verbo sonhar.

2 de ago. de 2007

O tempo de cada um


Botei na cabeça: a festa do mundo acontece enquanto estou dormindo. Há quase três dias passo as madrugadas insone, esperando por meu convite. Ontem, cansada de tudo, resolvi visitar uma astróloga. Sem pestanejar, ela me assegurou que terei grandes surpresas. Os astros não mentem, você é uma estrela, nasceu para brilhar. Sim, desde que ouvi tais palavras, tenho tido muito mais cuidado ao atravessar as ruas. Ando numa fase meio Macabéa, sabe?

31 de jul. de 2007

Queridos leitores,



Alguns de vocês têm me escrito perguntando sobre meus livros. Como disse nos e-mails, Femininamente e O que não pode ser estão acabando.
Mas hoje, tendo em vista a demanda, liguei para a LDM e descobri que lá ainda restam alguns exemplares.
Quem tiver interesse, pode escrever para claudionorldm@hotmail.com.
Ou ligar para (71) 21018000.
Era isso.
Abraços,
Renata

PS: Isso também é válido para quem não mora aqui na Bahia.