31 de jul. de 2007

Queridos leitores,



Alguns de vocês têm me escrito perguntando sobre meus livros. Como disse nos e-mails, Femininamente e O que não pode ser estão acabando.
Mas hoje, tendo em vista a demanda, liguei para a LDM e descobri que lá ainda restam alguns exemplares.
Quem tiver interesse, pode escrever para claudionorldm@hotmail.com.
Ou ligar para (71) 21018000.
Era isso.
Abraços,
Renata

PS: Isso também é válido para quem não mora aqui na Bahia.

29 de jul. de 2007

Capítulo dois: A vida secreta da Senhorita B.



Não, não podemos culpar os pais da Senhorita B. pelo seu sumiço. Eles não tinham como saber. Ela sempre conseguiu guardar segredos com perfeição. Durante toda a infância, teve um cachorro de estimação que jamais foi descoberto. Escondia-o debaixo da cama e o alimentava com histórias de fadas. Obviamente, seus pais nunca conseguiram perceber. Eles são desses que apenas acreditam nas notícias que assistem na televisão. Talvez seja até justo afirmar que são pessoas desatentas, pois até hoje não deram por sua falta. Mas culpados, não, isso eles não são. Porque jamais souberam da existência da Senhorita B. Ela nasceu de um livro usado, largado numa das estantes de sua casa. E a sua própria vida era o maior segredo que carregava.
Sim. Se alguém tiver que ser indiciado, que seja eu. Porque fui a última pessoa a encontrá-la e nessa história não existem mordomos ou coisa do tipo. Estávamos juntas numa festa. Ela sorria e contava casos engraçados para os outros convidados. Eu sempre admirei a sua forma de se comportar e permaneci em silêncio,
observando cada gesto seu, a delicadeza dos seus traços, o jeito amável com que se dirigia aos que trabalhavam no local. Eu nunca gostei de coisas com muita gente, costumo temer excessos de intimidade e outros males do nosso tempo. No entanto, vendo-a tão contente, resolvi me dar uma chance e passei a conversar com uma moça que estava sentada ao meu lado. Minutos depois, entre goles de vinho, percebi que tinha perdido de vista a Senhorita B. Saí a sua procura e, logo depois, acabei encontrando-a escondida no banheiro com os olhos borrados, cheios de lágrimas negras. Não me contive:
- O que aconteceu? Há pouco você parecia estar tão feliz!
Observando a minha total incapacidade de compreensão, revelou:
- Alegria não é o mesmo que felicidade. Qualquer um pode ser alegre o tempo todo. Mas feliz? Bom, isso apenas descobrimos quando estamos completamente sós.

27 de jul. de 2007

Breve lista de medos

  1. Medo de não realizar meus sonhos.
  2. Medo de realizar meus sonhos e descobrir que eles não são tão legais assim.
  3. Medo de ser o que sempre desejei: adulta.
  4. Medo de ser uma dessas pessoas brilhantes que nunca chegaram a lugar nenhum.
  5. Medo de meus pais se decepcionarem comigo.
  6. Medo de ter que parecer sempre feliz, linda e divertida.
  7. Medo de escutar comentários do tipo: Deixa de besteira! Sua vida é ótima!
  8. Medo de Deus me castigar.
  9. Medo de não conseguir publicar meus livros novamente.
  10. Medo de jamais me tornar totalmente independente.
  11. Medo de morrer em uma esquina qualquer, sem receber maiores explicações.
  12. Medo de perder as pessoas que amo.
  13. Medo de nunca mais voltar a reencontrar a Senhorita B.

Talvez eu tenha me tornado escritora porque tenho muitos medos. Antecipo no papel tudo aquilo que temo viver. A partir de amanhã, de olhos fechados, mergulharei noutro abismo. Seja bem-vindo, você, meu novo livro.

25 de jul. de 2007

Outros domingos...

(Breve homenagem a Mayrant Gallo)


SOBREVIVENTES

É domingo,
Eu escrevo,
Meu irmão chupa uva,
A chuva cai,
Meu pai lê A mãe ,
Mamãe frita peixe na cozinha.
Ao passo que explode
Outra bomba no mundo.

MAYRANT GALLO

É quarta. Mas para mim permanece domingo. Pois, desde então, tento sobreviver a essa gripe...

22 de jul. de 2007

O primeiro dia


Todos os meus domingos são assim: muitas notícias do mundo. Poucas de mim.

19 de jul. de 2007

Do suposto paradeiro da Senhorita B.


As casas onde morei

Talvez seja só isso
entrar e sair de casas
partir e ficar de acasos,
desassombradas mãos vazias.

Caminhar até o fim, entre moradas e fugas.

Vanessa Buffone


Eu sempre suspeitei que a Senhorita B. estivesse hospedada numa das casas em que Vanessa morou. Ao reler este poema, quase tive certeza. É bem possível que estejam juntas. Elas, as minhas duas grandes amigas: a Senhorita B. e a Senhorita Buffone. Quanto a mim? Permaneço aqui, voltando aos meus livros. Porque cada saudade tem seu abrigo.

18 de jul. de 2007

O lamento da Senhorita B.


“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
John Donne


Em memória das vítimas do avião da TAM. Os sinos dobram por vocês.

15 de jul. de 2007

Dos rostos desconhecidos do subcomandante Marcos e da Senhorita B:


"Marcos é gay em São Francisco, negro na África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista na Espanha, palestino em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, rockero na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pós-guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfólio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas anteriores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México. Enfim, Marcos é um ser humano qualquer neste mundo. Marcos é todas as minorias intoleradas, oprimidas, resistindo, Subcomandante Marcos, em 28exploradas, dizendo ¡Ya basta! Todas as minorias na hora de falar e maiorias na hora de se calar e aguentar. Todos os intolerados buscando uma palavra, sua palavra. Tudo que incomoda o poder e as boas consciências, este é Marcos." (Subcomandante Marcos, 28-3-94 )
A Senhorita B. não gosta de política. Mas assim como o subcomandante Marcos, ela tem o rosto do mundo.

13 de jul. de 2007

Da coisa que mais assustou a Senhorita B., nesta sexta-feira 13:



A mídia da moda. Sempre ela. Como se não bastasse o visual anorexo, agora a Sisley inventou que é fashion usar drogas. Cocaine chic? Rehab? Desde quando a desgraça do mundo fica mais bonita em inglês?

12 de jul. de 2007

Sobre meninos e lobos

Não. Meninos não matam por adrenalina. Isso é coisa de lobos.

Da pior rima do mundo: Senhorita B, me veja na TV!



RENATA BELMONTE, UMA NOVÍSSIMA VOZ FEMININA, NO LEITURAS

A renovação permanente da literatura brasileira ganha uma nova e fortíssima voz, Renata Belmonte, uma baiana de pouco mais de vinte anos. Seu texto passeia por temas conflitantes e desafiadores sem cair na pieguice nem resvalar no socialismo ingênuo e desgastado. Uma literatura que prima pela definição concreta de tudo. Todas estas marcas serão debatidas com o jornalista Maurício Melo Júnior no programa Leituras, da TV Senado, desta semana.
Naturalmente o universo de eleição de Renata é o microcosmo feminino e todas as suas angústias. Entretanto isso não impõe limites à sua criação. Seus personagens transitam no limiar entre a realização e o medo do sucesso, da concretude real de seus sonhos e desejos. E faz isso com segurança, mesmo quando se deixa vacilar pelas facilidades que estão sempre a encantar os estreantes.
Renata Belmonte estreou com Femininamente, livro de contos que venceu o Prêmio Braskem Cultura e Arte de 2003. Havia publicado no ano anterior o conto Em Cima da Estante de Vidro na revista eletrônica Blocos On Line. Colabora com vários suplementos literários. Seu segundo livro, O Que Não Pode Ser (Prêmio Banco Capital Arte e Cultura), foi publicado em 2006.


O QUE: RENATA BELMONTE no LEITURAS.

QUANDO: 14 de julho (09:30 e 20:00) e 15 de julho (08:00 e 20:30).

ONDE: TV SENADO — CANAL 10 (Directv - canal 239 e Sky - canal 96 )

O PROGRAMA: O Leituras é um programa totalmente dedicado à literatura brasileira. Estreou na TV Senado no dia 19 de setembro de 2002 entrevistando a escritora Lya Luft. Desde então vem veiculando semanalmente uma entrevista inédita com um escritor, editor ou crítico literário. O Leituras faz ainda, a cada novo programa, comentários de livros também de literatura brasileira. São mais de duzentos comentários e entrevistas que formam um imenso painel de nossa literatura contemporânea.

O APRESENTADOR: Maurício Melo Júnior é jornalista da TV Senado. Foi crítico literário e repórter de cultura do Correio Braziliense entre 1989 e 1999. Atuou em assessoria de imprensa e foi professor universitário. Escreveu resenhas literárias para o Jornal do Brasil e outros jornais e revistas do país. Atualmente escreve para o jornal literário O Rascunho. É autor de livros infanto-juvenis e de contos publicados em diversas antologias.
Foto: Renata Belmonte em busca da Senhorita B. Por Lucas Faillace.

10 de jul. de 2007

Dos romances da Senhorita B.


Ela era quase uma criança quando se apaixonou por ele. Ele, o garoto mais bonito do colégio. No entanto, apesar de sofrer intensamente com tal situação, guardou segredo sobre seu sentimento. Naquele tempo, sua pele estava coberta de espinhas e seu cabelo ainda não tinha decidido os rumos que queria tomar. Portanto, sabia que não tinha a menor chance: ele era desses que se importam excessivamente com espelhos.
Ele não é uma boa pessoa, dizia sua mãe sempre nas segundas-feiras. Ele está brincando com você, repetia ela aos sábados. Fora um beijo estranho, que ele contou aos outros garotos da classe dando gargalhadas, nada demais tinha acontecido entre eles. Mesmo assim, ela não gostava de escutar os conselhos de sua genitora. Talvez por saber que ela falava a verdade: não era normal esse interesse súbito que ele demonstrava por ela nas épocas de provas.
Muitos anos se passaram sem que Senhorita B. o reencontrasse. Mas, poucos meses atrás, inesperadamente seus destinos voltaram a se cruzar:
- Nossa! Vocês está linda! Bastante mudada! Me dá seu telefone?
Com o coração batendo sem parar, feliz pela oportunidade tão sonhada, respondeu sem pestanejar:
- Vá para o inferno.
Já de costas para ele, radiante, lembrou-se de sua adolescência. Ainda nela tinha descoberto: os melhores romances estão nos livros. E eles, sim, são suas melhores companhias.

9 de jul. de 2007

Dos amigos desconhecidos da Senhorita B: O Profeta Gentileza ou Quando o circo se foi.


INTRODUÇÃO

Eu sempre costumo dizer: não fazemos amigos. Apenas os reconhecemos durante nossas andanças pelo mundo.
Sorte daqueles que conseguem se cercar, desde cedo, de gente querida. Porque houve um tempo em que a Senhorita B. se sentia muito só. Era apenas em sujeitos desconhecidos, seres que cruzavam com ela em filas de banco ou consultórios médicos, que encontrava algum tipo de delicadeza. As pessoas com quem convivia eram superficiais, não gostavam dela de verdade. E todas as vezes em que tentava se encaixar, acabava perdendo pedaços preciosos de si mesma.
Mas eis que o fim da adolescência lhe trouxe uma grande revelação: a população mundial era muito maior do que o número de alunos do seu colégio! E, sim, existiam outros com propósitos e valores semelhantes aos seus.
Dedico este post e os que ainda escreverei a todos aqueles que trazem alegria para o meu cotidiano. Sim, vocês, meus queridos. Os amigos conhecidos e desconhecidos de Renata B.

O Profeta Gentileza ou Quando o circo se foi.

“ Gentileza gera gentileza”

Alguns ignoram que, na dor, não há loucura ou normalidade, existem apenas formas de encontrar a sobrevivência. Para estes, José Datrino era apenas um mendigo maluco. No entanto, para os que se sentem tristes diante de um mundo tão intolerante, ele era um verdadeiro profeta, anjo anunciador de mensagens de amor e esperança para um novo tempo.
Nascido no
dia 11 de abril de 1917, em Cafelândia, cidade do interior paulista, este ser iluminado, desde a infância, já possuía um comportamento incomum. Aos doze anos de idade, dizia escutar vozes ancestrais, falava que, depois de constituir família, filhos e bens, teria que deixar tudo de lado para cumprir sua verdadeira missão na Terra.
E foi o que de fato fez. Após casar, ter cinco filhos e construir um negócio rentável, abandonou tudo em prol do desejo de espalhar pelo mundo os conceitos de gentileza,
caridade e paz. Segundo sua filha Maria Alice, houve uma noite, em que o Profeta, muito atormentado, se dirigiu ao quintal da casa onde viviam e cobriu todo o corpo com lama, remetendo à sua origem, e libertou os pássaros e galinhas num ato de protesto em favor da liberdade.
No entanto, a transformação definitiva de José Datrino no Profeta Gentileza deu-se
após a tragédia do Gran Circus Norte Americano em 1961. Um incêndio tomou conta do local matando quinhentas pessoas, quase todas crianças. Seis dias após tal
terrível acontecimento, José Datrino recebeu um chamado: deveria representar Jesus na Terra, ensinar o perdão, tentar ajudar as pessoas a se encontrarem com o seu verdadeiro eu.
Incompreendido por muitos, mas amado pelos que acompanharam sua luta por um mundo melhor, o Profeta Gentileza percorreu boa parte do país doutrinando, ensinando o respeito ao outro. Jamais aceitou qualquer dinheiro, era um homem de fortes ideais. Conforme Leonardo Guelmam, o Profeta Gentileza viu na derrota do circo queimado um mundo representado, porque o mundo é redondo e o circo é arredondado. Daí surge o mito originário, a criação e fim do mundo. O Profeta Gentileza acreditava que poderia reconstruir a humanidade.
Não diga “muito obrigado”. Para o Profeta, ninguém é obrigado a nada. Apenas pronuncie “agradecido”. Não peça “por favor”. Tal expressão remete à troca de interesses capitalista. Fale simplesmente “por gentileza”.
A Senhorita B. também acredita na transformação através da palavra. E, onde quer que se encontre, deve estar dizendo: “Profeta Gentileza, estou agradecida. Para sempre”.


Fontes e muito mais sobre o Profeta:
http://profetadegentileza.blogspot.com/
http://www.portalverde.com.br/fundacao_gentileza/o_profeta/profeta.htm
http://reposcom.portcom.intercom.org.br/bitstream/1904/18282/1/R2070-1.pdf

7 de jul. de 2007

Capítulo Um: O último vestido da Senhorita B.

Eu não a vi partir. Mas se tivesse que arriscar quandos e porquês, diria que ela me deixou em um abril qualquer. Deve ter aguardado março se despedir e aproveitou para me abandonar junto com ele. Eu, de olhos fechados, ainda soprava com inocência as velinhas do meu bolo de aniversário. Mal sabia que, enquanto estava distraída com novos pedidos, ela aproveitava tal oportunidade para ir embora para sempre. Seus motivos ainda ignoro, por isso, como as outras pessoas sofridas, atribuo culpa ao mundo. Blasfemo a condição humana, me recuso a falar com pessoas desconhecidas. Ajo desta forma na tentativa de chamar sua atenção, preciso de alguma resposta. Certamente, se estivesse presente, ela reprovaria minha postura. Sempre foi dessas que enxergam beleza em tudo, costumava dizer que era entre estranhos que se sentia verdadeiramente familiar.
Recentemente, após uma de minhas longas buscas, acabei achando um de seus vestígios. Um velho vestido preto, o único que o tempo não levou de mim. Mas, ao contrário do que se pode pensar, não me senti feliz com tal descoberta. Porque ontem, ao tentar experimentá-lo pela última vez, acabei constatando: ele e suas promessas de felicidade não cabem mais em mim.