28 de fev. de 2008

Presente antecipado de aniversário

"Em outros contos, consultam-se ainda, no humano dolente, as emoções do humano abandonado pelos objetos , pelos entes, pelas utopias –– o silêncio como fio condutor da memória, o abandono dos valores humanos como lei de nossos tempos. Em outras histórias, todas nossas, vão se assumindo outras modalidades para o desdém: a solidão de uma mulher que se acha velha demais para relacionar-se com outro homem; o desprezo de uma turma por um professor prestes a se aposentar. Diferentes formas de descartar-se do humano, mas nenhuma delas de "poder ser". Renata Belmonte é uma artista jovem e, ao mesmo tempo madura, denunciando "o que não pode ser", numa sociedade onde a disputa e a truculência não cedem lugar ao emocionar-se , ao choro mútuo, o que resulta no acúmulo de dores vividas pelas personagens da escritora, sem de fato, poderem ser. E assim, "o que não pode ser", nem pode ser dito, diz sua literatura, entre a vida e a morte de todos nós, "intermitentemente." "


Osmar Soares da Silva Filho, doutorando pela UFRJ, em: Renata Belmonte, As intermitências do ser, ensaio presente no livro Estudo sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000, organizado por Helena Parente Cunha, editora Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 2008.

Março ainda nem chegou. Mas já ganhei de aniversário este maravilhoso presente.

25 de fev. de 2008

Pieguice assumida


Uma das melhores coisas de ser humano é a possibilidade de ficar feliz pelas conquistas dos outros, mesmo que estes sejam completos desconhecidos. E confesso, sem qualquer tipo de vergonha, que adoro assistir ao Oscar e torcer para que os meus "escolhidos" sejam, de fato, escolhidos pela Academia. Sabemos que nem sempre o Oscar preza pela qualidade artística, que não raro as escolhas são feitas baseadas em critérios outros... Mas, mesmo assim, continuo acompanhando as transmissões. (No mínimo, faço o enorme esforço de ver vestidos lindos e o George Clooney, mais uma vez).
Enfim... Na edição deste ano, estava torcendo de dedos cruzados para a Marion Cotillard (a bela moça da fotografia acima). Só quem assistiu a sua Edith Piaf pode vislumbrar o que estou falando. Sempre fico feliz ao ver alguém realizar um trabalho bem feito, com entrega e paixão. E, ainda mais, quando esse alguém recebe o reconhecimento tão merecido. Ainda estou com lágrimas nos olhos por causa da vitória da Marion. Quando ela ganhou, quase fiz em voz alta o meu próprio discurso de vencedora do Oscar... Aliás: tenho a secreta teoria de que todo mundo tem seu próprio "discurso" para treinar diante do espelho. Antes que vocês achem que sou maluca, deixo claro que já fiz duas amigas assumirem e declamarem os seus para mim. Portanto, fiquem à vontade para postarem nos comentários seus eventuais "agradecimentos de ganhadores do Oscar".

22 de fev. de 2008

A noite da fuga da Senhorita B.


Ela se refugiou na escuridão, antes que fossem acesos os primeiros cigarros. Não suportava a idéia de que, no dia seguinte, iriam medir seus pés. Abandonou a festa correndo, equilibrando angústias e medos no salto alto. Levou consigo o direito ao grito e como trocado algumas esperanças de março. Quando deram por sua falta, nada mais encontraram. Definitivamente, ela não se parecia com sua irmã, sua história era outra. Ainda assim, foram olhar na escadaria. E como previsto, lá não havia restado nenhum vestígio daquele seu sapato de cristal tão bonito.

19 de fev. de 2008

Foto recente da Senhorita B.(com direito a dedicatória e tudo)


Daqui, bem de costas para o seu mundo, mando lembranças...
Em quase março,
Srta B.

17 de fev. de 2008

Verbo 21

A Verbo 21 é uma revista muito legal, feita por gente bacana e competente. Nessa nova edição, tem uma entrevista que dei para a Anna. E uma da Kath para o Gustavo. Se puderem, confiram.

13 de fev. de 2008

Cotas na TV por assinatura?

Era só o que faltava! Para a liberdade na TV:
http://www.liberdadenatv.com.br/repercursao.aspx

10 de fev. de 2008

Na estante da Senhorita B...

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Back home

A melhor coisa que 2008 me trouxe foi a descoberta(leia-se: aceitação) da minha natureza nômade. Durante muito tempo, lutei contra isso, tentei ser como a maioria das pessoas com quem convivo. Mas, felizmente, não consegui. Meu ideal de vida não se resume a uma casa simpática, filhos saudáveis e um marido que só bebe aos sábados. Preciso de muito, muito mais. Eu quero ser muitas pessoas, ter vivências múltiplas e diferenciadas, conhecer lugares incríveis, mundos incríveis. Eu quero circular, não me sentir presa a nenhum moralismo enciclopédico. Quero ter liberdade para fracassar e viver minha vida apenas como se fosse um conto que eu adoraria escrever.
Em janeiro, pude começar a materializar tais desejos. Comecei a ensinar, fiz um curso de interpretação para cinema, escrevi um curta-metragem, trabalhei com minha avô, viajei para um lugar super bacana, finalizei processos importantes e, pelo meio do caminho, encontrei muita gente legal.
O Vestígios ficou um pouco de lado durante esse último mês, mas jamais foi esquecido ou abandonado. Retorno para ele satisfeita, realizada. Porque, por mais nômade que eu seja, tenho muito amor por este lar, esta morada: as palavras.

2 de fev. de 2008

O dia em que entendi tudo


Eu tinha sete anos e cursava a primeira série. E, certo dia, a professora pediu que eu lesse, em voz alta, um livrinho chamado A Sementinha-Mãe. Feliz com o convite, comecei a leitura sem imaginar o que me esperava. Enquanto as letrinhas se agrupavam para apresentar ao mundo sua utilidade, acabei descobrindo um antídoto para tudo que me amedrontava. Naquela singela historinha, encontrei um motivo real para viver e morrer, para acreditar que a natureza sabe o que faz. Hoje, enquanto caminhava por estas ruas cheias de gente estranha e desconhecida, me lembrei desse episódio e pensei novamente: tudo isso é muito bonito. Mas, exatamente como fiz naquele dia, guardei em segredo minhas lágrimas e tal constatação. Desde os sete anos, sou uma menina grande. E meninas grandes não choram. Pelo menos, não na frente dos outros.