26 de fev. de 2009

Os três presentes




Ela tem uma elegância natural. Pouco fala, pois não conhece as palavras e se envergonha disso. Mal sabe escrever o próprio nome. Minha mãe conta que, meses depois do meu nascimento, ela pediu demissão porque queria se casar. Na lua de mel, o "marido" furtou todo o dinheiro que ela tinha recebido. Voltou para o trabalho no dia seguinte. Apenas após muitos anos, teve coragem de revelar essa história.
Na última vez que estive em Salvador, fiquei doente. Era domingo, seu dia de trabalho na minha casa. Estávamos apenas as duas. Sem nada me perguntar, ela fez um milk shake e o trouxe junto com um balde de pipoca. Sussurrou: um pouco de açúcar faz qualquer doente melhorar.
Numa quarta-feira, dia da minha volta, Meca, minha eterna babá, muito enciumada, disse: Dete apareceu aqui hoje só para deixar isso para você. Diz ela que viu em Bocão que essa pomada cura qualquer dor. Veja se isso é possível!
É verdade, Dete. Sua doçura faz mesmo qualquer doente melhorar.

24 de fev. de 2009

Breve encontro de amores


Algumas pessoas têm uma beleza muito especial que nem mesmo o tempo tem a capacidade de mitigar. A Liv Ullmann é uma delas. Ando muito apaixonada pelo seu trabalho e, recentemente, vi na televisão uma entrevista na qual ela conta a seguinte história:

Eu estava nos Estados Unidos fazendo uma peça na Broadway e o Woody Allen me convidava de forma insistente para jantar. Eu sempre recusava, pois pensava que ele esava em busca de um encontro amoroso. Até o dia que ele revelou: Liv, será que você poderia me apresentar ao Bergman? Eu tenho esse sonho. Eu respondi: Farei o possível, Woody. Tempos depois, Ingmar foi ao Estados Unidos e eu perguntei se ele gostaria de jantar com o Woody Allen. Apesar de Ingmar não gostar de conhecer pessoas novas, prontamente, ele respondeu que sim. Na noite seguinte, jantamos todos juntos. Eu e a mulher de Ingmar não nos gostávamos muito e começamos uma conversa sobre almôndegas. Woody e Bergman ficaram todo o tempo em silêncio. Eles se olhavam com enorme admiração e permaneciam em silêncio. Como dois grandes gênios que eram, sabiam que as palavras poderiam diminuir a reverência que tinham um pelo outro. No caminho de volta para casa, Woody disse: Thank you, Liv. Minutos depois, Bergman me telefonou e falou: Tack, Liv.

Muito obrigada, Liv. Por me contar, durante meu último almoço, essa história tão bonita.

23 de fev. de 2009

Carnaval?

Não, muito obrigada. Prefiro as fantasias do Oscar:
http://pt-br.justin.tv/sixtv2009 (Transmissão ao vivo)

19 de fev. de 2009

Restos de Carnaval



"Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com os quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.
Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga - talvez atendendo a meu mudo apelo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel - resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma."




(Trecho de Restos de Carnaval de Clarice Lispector)



Bom Carnaval para todos:)

17 de fev. de 2009

Súplica


Prezado Charles Widmore:

Será que o senhor poderia também financiar o meu projeto de pesquisa?

Atenciosamente,

Renata Belmonte

14 de fev. de 2009

Voz sem saída



A capa é linda. E ela, a protagonista sem nome deste romance, é jovem e tem como único objetivo conseguir o amor de um homem que é casado com um "anjo". Não, este livro não trata apenas disso. Há uma solidão em todos nós que apenas a grande literatura pode traduzir. Não, não acho Voz sem saída tecnicamente perfeito. Mas, apesar desses maus momentos, ele tem força e beleza. Céline Curiol publicou este seu primeiro romance aos vinte e nove anos. Eu o li aos vinte e seis. Nunca o esqueci. Hoje, fiquei surpresa ao descobrir que nunca tinha falado sobre ele no Vestígios. Minutos depois, encontrei uma explicação para meu aparente comportamento desligado. Certos livros são tão especiais que os tomamos como nossos, sentimos ciúmes dos outros leitores. Este livro é meu. Nos dias em que vejo tudo cinza, acho promíscuo ficar falando sobre tudo que forma aquilo que entendo como "eu" ou chamo de "minha" literatura. Nada pode ser mais íntimo que isso. Nada.

12 de fev. de 2009

Eu, Ally McBeal.




Quando eu era criança, nas habituais brincadeiras com meus primos, costumava dizer que eu era a Changeman de roupa branca com frisos rosa. Na adolescência, já ciente de que não era mais apropriado dizer que eu era algum personagem de televisão, restava-me a possibilidade de sonhar em silêncio. E, nos meus devaneios, tudo se tornava uma mistura muito legal de Friends com Sex and the City.

Ricardo, meu irmão, era Chandler. Guga, meu primo, Joey. Vanessa cabia muito bem no papel de Phoebe. Jô? Rachel! Jorge? Ora, claro que Ross. Érica não poderia deixar de ser Charlotte. Lígia é a cópia perfeita de Miranda. Eva e eu competimos, terrivelmente, pelo papel de Carrie. Afinal de contas, quem no mundo renunciaria de bom grado aos sapatos da Srta Bradshaw?

Pois então: todos nós moraríamos num mesmo prédio. Até mesmo depois dos nossos casamentos. Nos dias tristes, tomaríamos sorvete juntos. Nos alegres, daríamos pequenas festas onde os pratos principais seriam pipoca e brigadeiro. Viajaríamos pelo mundo, conheceríamos diversas culturas. E teríamos todos o mesmo cão de estimação.

Hoje, eu estava arrumando meu armário e Meca (minha eterna babá) disse algo assim: Você vai dar essa saia, né? Algumas coisas só são permitidas quando se tem quinze anos...

Atualmente, meus amigos moram em partes diferentes do país. Eu, apesar da enorme saudade, vivo ocupada com minhas coisas e falo com eles bem menos do que gostaria. Não, nada ocorreu como eu previa. Como consolo, restam-me apenas as reprises destes seriados na televisão.

10 de fev. de 2009

Foi apenas um sonho...


April, eu entendo. Têm dias que eu também sonho com Paris e só penso em fugir.

4 de fev. de 2009

Do silêncio ensurdecedor

"Dead Mother", Edvard Munch.

1 de fev. de 2009

Seis coisas que não sabem sobre mim




A autora deste blog, desde já, agradece aos amigos Mayrant Gallo, Aeronauta, Bernardo Guimarães e Maria Sampaio pela indicação ao selo. E, dando continuidade ao protocolo, seguem as seis coisas que vocês não sabem sobre ela:

1- Ela tem obsessão por equilíbrio. Portanto, sempre que algo bom acontece ela faz uma pequena besteira para compensar. O mesmo acontece quando ocorre uma situação triste. Quase sempre, acaba indo se consolar com potes enormes de sorvete(isso lhe traz muita alegria.)
2- Ela tem ótimas amigas, mas não gosta de sair de casa. O Vestígios é quase toda a sua vida social.
3- Ela, praticamente, almoça todos os dias o mesmo prato: polvo com batatas.
4-Aos seis anos, escreveu uma música e a cantou num festival infantil. Ganhou o primeiro lugar. Mesmo assim, deste dia em diante, resolveu que jamais faria algo parecido na vida.
5- Adora o Direito, mas detesta ficar trancafiada em escritórios de advocacia
6- Tem pequenas doenças com muita frequência.

Os sete blogs (sim, sete!) que escolho são os das pessoas que me escolheram (eu os visito de forma obrigatória), além do Embrulho no Estômago, Madame K e Leitora Crítica. Por fim, devo dizer que todos os outros blogs que estão no Outros Vestígios também tem um sabor especial.