7 de out. de 2009

No envelope, uma carta e esta fotografia

Querida Senhorita B.,
Eu sempre lamentei o fato de nunca ter visto o seu rosto. Mas, hoje, confesso achar melhor assim. Porque seria muito difícil para mim falar tudo isso olhando para seus olhos, observando a lenta transformação deles. Na última vez que fiz alguém passar por coisa semelhante, fui tomada por uma dor intensa, culpo-me até hoje pelo ocorrido. Não, não há um dia em que eu veja meus olhos no espelho e não pense nisso. Tenho olhos verdes e pequenos que se tornam grandes diante das adversidades, uma das minhas mães sempre disse ter medo deles, parece que carregam toda a impetuosidade do mundo. Meus olhos miúdos crescem quando assustados, talvez porque não suportem a idéia de subserviência, gostam de encarar com firmeza seus opositores. Meus olhos são da mesma cor que os das minhas tias maternas. Só que eu não os herdei delas. Tenho os olhos de meu pai.
Já tinha algum tempo que eu não era obrigada a agir desta maneira. Destaco: obrigada. Nesta vida, há coisas que se impõem, têm força própria. Escrever é uma delas. Não, não estou mudando de assunto, desculpe se lhe causo qualquer ansiedade por não ser direta como deveria. Sempre perco um pouco da objetividade e da clareza de raciocínio, após noites sem dormir. E, nesta hora, é justamente de clareza que preciso, já que morro de medo de não dizer as coisas do modo que deveria e acabar sendo mal compreendida. A verdade é que os sintomas voltaram a aparecer e, apesar de eu ter alguma intimidade com eles, fingi não perceber o que estava acontecendo. Mas, nesta última madrugada insone, o incômodo ficou evidente. E, apesar de não ter pronunciado uma palavra, fui obrigada a reconhecer: Não tem mais jeito. Chegou mesmo a hora de eu deixar o Vestígios da Senhorita B.
Sou dona de invernos e verões muito próprios, acho que você sabe disso. No meu universo, a Riviera Francesa e o Leste Europeu são lugares contíguos. Por isso, não suporto a idéia de espaços sem lei. São as regras que me orientam, que ditam meu rumo, que me retiram de qualquer tristeza e melancolia. A vida não pode se brincar, pois em plena luz do dia se morre; pregou Clarice. Eu brinco com a minha vida porque sei o limite dela, respeito minhas próprias regras. Já que não suporto o imprevisível, torno-me súdita e rainha da minha própria tirania. Devo confessar que sempre me encantaram e perturbaram estes filmes e livros onde o final jamais é dito. Quando comecei o Vestígios, não assinei qualquer autocontrato ou mesmo fui signatária de um pacto. Permiti-me viver o projeto de forma livre. Durante quase todo o tempo, até mesmo ignorava em que etapa estava. Apenas se sabe o que é o meio quando existe referência do que significa o fim. Dentro de mim, tinha a segurança de que, um dia, sentiria a hora certa de acabar. Setembro chegou trazendo enormes demandas e o mesmo incomodo contínuo, revelador. Sou uma mulher das leis, repito. Na última madrugada insone, a certeza: é preciso aceitar a morte, ter respeito a esta lei, ela é regra maior, verdadeiro imperativo. E foi aí que compreendi: devo mesmo me despedir do Vestígios.
Acredito que as coisas existem e acontecem mesmo que não sejam verbalizadas, não é a linguagem que lhes confere existência, os criptotipos não clamam pelo seu reconhecimento, sobrevivem silenciosos sem qualquer luta, aceitam sua condição e o seu lugar. Mesmo sabendo disso, preciso deixar algo claro: se pareço nostálgica ou taciturna é por pura força do hábito, tenho um defeito de fábrica, nunca aprendi a escrever feliz, apesar de não acreditar num mundo sem redenção. E, sempre quando falo em morte, quero dizer renascimento, fui batizada de maneira muito apropriada, mesmo que este meu R. tenha sido uma escolha aleatória com o único objetivo de me fazer parte de um clã. Sim, já que falo de identidade, retomo o assunto: se pareço muito nostálgica ou taciturna é apenas na escrita, sou dada aos exageros e, na vida das noites e dias, ignoram que sou escritora e até acham muita graça dos meus exageros de aniversários, todos eles festivos e contentes, todos eles bem diferentes daqueles oriundos do meu defeito originário. E já que tenho que ser sincera sobre esta despedida, preciso contar algo muito especial que aconteceu comigo. Lembra que eu ficava tentando definir o que é felicidade? Então: numa noite qualquer, caiu um temporal aqui em São Paulo. E, na manhã seguinte, fui obrigada a acordar muito cedo para ir apresentar um trabalho. Devia ser umas sete horas e eu estava numa movimentada avenida quando, de repente, percebi, no meio de milhões de prédios modernos, uma pequena casinha de estilo colonial. Na varanda desta, uma senhora oriental enxugava o chão e sorria de maneira doce para os que passavam. Fiquei em transe com a cena e parei o carro para comungar com a atmosfera de total plenitude. Tá, tudo bem: é mentira, eu não parei o carro, estava muito atrasada e precisava apresentar o tal trabalho. Só que, desde este dia, não parei de pensar no episódio e acabei aceitando que, apesar de não ter como capturar o sentido da palavra felicidade, ela é algo muito parecido com enxugar o chão da minha varanda, após uma noite de tempestade.
No ponto de partida dessa história, ou seja, na ocasião do seu abandono, encontrei o bilhete que você escreveu. Por isso, esta carta? Não, apesar de respeitar o princípio da reciprocidade. Faço isso para arrolar seus bens, inventariar tudo que aquilo que é nosso e que eu cuidei, nesta sua ausência. Pode ficar com o B., na minha volta, você me devolve. Sua cama, seu vestido e seu livro permanecem intactos, olhe para a sua casa e reconheça como ela foi bem preservada. Receba e trate com o mesmo amor o que tenho de mais precioso: o afeto dos meus e-amigos. Não, mas nem pense nisso: eles são meus e eu os levo no peito aonde quer que eu vá. Ah, tá bom. Desculpe esse meu ato de egoísmo, retiro o que disse. Os e-amigos podem ficar com as duas, eles não precisam se dividir, a verdadeira amizade apenas se multiplica, nunca fui boa em matemática e acabo esquecendo disso. Eu sei: essa frase pareceu meio boba, mas ela é verdadeira e, no final de tudo, é apenas isto que importa.
Não, não encare meu ato como um abandono ou uma fuga, não quero ver nenhum pesar nos seus olhos, fique mesmo de costas, qualquer despedida é difícil. Receba todo o meu amor e guarde esta fotografia como a primeira lembrança da minha viagem em busca daquilo que já lhe é conhecido. Muito obrigada por tudo, mesmo. Não levo comigo qualquer mala ou dor. Tenho apenas uma pequena mochila e, no bolso, um breve bilhete seu com o mais importante dos avisos: Seja feliz. Sejam felizes. Não, não há sonho que morra sem deixar vestígios.
Há sempre o trem de volta? Eu a espero, no portão do meu desembarque, se a hora chegar.
Beijos,
R.

4 de set. de 2009

Colonização do real


Ela ficou no inverno e eu cheguei na primavera. Sempre andamos de mãos dadas, mas tudo mudou. Trens diferentes, destinos distantes. Acho ordinária essa desculpa de falta de tempo. Acho blasé essa coisa de "incompatibilidade de agendas". Prefiro dizer: foi a colonização do real. Um dia, voltamos.

26 de ago. de 2009

Nilson e Maria

Para abrir setembro com flores

23 de ago. de 2009

À Deriva

E este foi um dos grandes filmes que já vi.

19 de ago. de 2009

Lançamento de Tati


17 de ago. de 2009

Eu, que já estou tão distante...


Sempre aos domingos, naquele final melancólico da noite, tenho uma mesma vontade: deletar meu blog, tirar minhas fotografias dos porta-retratos, pintar meu cabelo, inventar um novo nome e sair por aí contando histórias que jamais aconteceram, histórias de um tempo impossível e misericordioso.

Renata Belmonte só restaria nas capas dos livros. E, não, ninguém duvidaria do que digo. No lugar onde moro, não sou conhecida e sei inventar mentiras legais, entretenho pessoas com certa facilidade, sempre fui assim.

Mas por que não faço tudo isso que planejo, por que, por quê? Toda segunda, a mesma pergunta: acordar não é um suplício? Tenho medo das vinhetas da MTV, melhor ir para a cama, perdi certas liberdades, já não tenho a desculpa de que estou "deprimida numa noite de domingo". Só que há canalhice maior do que fingir querer contar uma coisa e, logo depois, fazer cara de mistério e colocar um "to be continued" num fundo preto, com letras brancas? Não, isto aqui não é literatura, seriado ou cinema. Além disso, tenho preguiça de gente que tira foto de biquini e fala sobre passeios de lancha para parecer feliz. Pouco vou à praia e não tenho Orkut ou Facebook. E a verdade é que, nesses lugares, quase ninguém assume o que irei revelar: de vez em quando, eu encho o saco de mim.

Alguém muito chato ou resignado irá retrucar: sua vida é ótima! Se eu fosse blasé, passaria a mão nos meus cabelos loiros, faria uma cara nojenta e responderia: E o que você tem com isso? Mas, não, sou sincera e apenas confirmo: é verdade, minha vida é ótima. Mesmo assim, de vez em quando, encho o saco de mim.

Eu poderia citar milhões de motivos vazios para isso. Mas seria subestimar a inteligência de vocês. Conheço uma pessoa que terminou um relacionamento porque a companheira dirigia mal. Sério? Sou boa em inventar mentiras, mas isto é a pura verdade. E por que não pinto(de novo) o cabelo, deleto o blog e mudo de identidade? Eu até posso encher o saco de mim, mas não quero que isso aconteça com vocês. Imagina! Quero ser convidada para os encontros dos e-amigos, quero participar dos eventos, colocar aqui no blog as fotinhas... Eu não tenho Orkut ou Facebook, mas gosto dos comentários que recebo, adoro até mesmo os fantasmas que vagam mudos por essa casa.

Eu, que já estou tão distante de tudo e todos que amo, não quero ser esquecida por vocês. Não há medo mais legítimo que esse, não para um escritor. Sim, isto é uma confissão, mas eu também sou feliz sozinha. E, por favor, não levem ao pé da letra tudo o que aqui está escrito, tem dias que gosto apenas de inventar umas coisas para entreter, acho isso legal. Amanhã, quem sabe, tomo coragem e compro um vestido vintage. Helena não é um bom nome?
Simples. Simples assim.

14 de ago. de 2009

Minha vida sem mim


Para as netas pequenas, a avó conta a história da personagem de Joan Crawford, no filme Almas em Suplício. Segundos depois, a mãe das crianças chega e não gosta de presenciar tal situação. Já apenas na companhia das filhas, ela fala algo assim:

- Não se impressionem com o que a vovó contou. Ela precisa dessas histórias, nenhum dos seus sonhos se realizou, ela não fez nada do que quis.

A cena acima narrada pertence ao filme Minha vida sem mim. E, apesar de breve, eu jamais a tirei da cabeça, foi a coisa mais triste que já vi. A morte é uma certeza para todos. Mas não realizar seus sonhos e viver o enredo dos outros significa estar morto em vida. É quase como tomar o título deste filme para si.
Ps: A atriz que representa a tal avó é Debbie Harry, vocalista do Blondie. Mais irônico, impossível.

11 de ago. de 2009

Estas minhas listras


Então, mais uma vez, aquela dor. E alguém lhe diz: não há o que se fazer. O tigre não perde suas listras. Eu sei, quase revelo: isso é Freud e Lost. Logo depois, reitero: sim, o tigre não perde suas listras e não tenho como evitar esta dor, ela é quase como um membro do meu corpo. E alguém lhe pergunta: Por isso tantos vestidos?
Tenho um corpo machucado, ferido. Tenho um corpo rejeitado. Existem tecidos de várias cores e texturas. Eles maquiam este corpo, o tornam bonito. Eles escondem de mim mesma as minhas listras. Sinto-me nua sem esta dor, sempre espero por ela. Isto não é Lost ou Freud. Foi o que a vida me ensinou.

9 de ago. de 2009

O fantástico mundo de meu pai



Se meu pai fosse escritor, certamente, seus livros seriam da escola do realismo mágico. Sim, porque, no seu mundo, coisas muito estranhas e absurdas acontecem de maneira natural e cotidiana. Para exemplificar o que estou dizendo, falarei de três pessoas que jamais conheci, mas que viraram personagens da minha vida de tanto meu pai contar suas histórias. Segue o perfil delas:
Primo Nino: Filho do irmão de meu avô paterno, morou na Itália por toda a vida. Meu pai conta que, desde muito cedo, ele gostava de ficar se admirando no espelho. Com o passar dos anos, o hábito virou mania. Primo Nino já não mais trabalhava ou comia, ficava todo o tempo se penteando e dizendo para a sua imagem refletida: Sou lindo! Sou lindo! Por fim, foi internado num hospício.
Dona Bernadete: Secretária de meu avô. Era uma mulher ativa, bem disposta. Certo dia, faltou o trabalho e nada avisou. Preocupado, meu avô foi procurá-la e a encontrou perambulando de biquini pela casa. Depois deste episódio, ela jamais tirou tal traje. Morreu com setenta e poucos anos. Não, não foi enterrada de biquini.
Tio Joseph: Irmão de meu avô. Nasceu na Itália, mas, ainda na adolescência, se mudou para os Eua. Era mafioso, amigo íntimo de Al Capone. Mandava dar surras naqueles que não o obedeciam, era uma homem temido. No entanto, na intimidade, se comportava de maneira muito diferente. Chorava, copiosamente, quando assistia filmes românticos ou quando falava da Itália. Quando brigava com a mulher, quebrava garrafas na mesa. E, segundos depois, negava o que tinha feito e se jogava no chão, implorando seu perdão.
Recentemente, encontrei a fotografia acima, num post do blog do Sandro. E, imediatamente, me lembrei de meu pai. Quando tomou conhecimento do meu desejo de ser escritora, ele disse: Só me faça o favor de não abandonar o Direito. Você não vai ganhar um conto com essa conversa de Kafka. No mesmo post do Sandro, Gustavo Rios comentou sobre a fotografia: nosso futuro, se continuarmos a dar muita atenção ao Nietzsche.
É, meu pai... Se você fosse escritor, seu livro pertenceria ao realismo mágico. Mas não é que, no seu enredo sobre a condição financeira do escritor, você é quase um Machado de Assis?

Foto: Homeless man reading books, Moshe Shai, 1977.

6 de ago. de 2009

Nhô Guimarães



Em 2008, ano em que se comemorou o centenário do escritor mineiro, João Guimarães Rosa, o Núcleo Criaturas Cênicas de Salvador/BA, realizou aadaptação do romance Nhô Guimarães (2006) para a linguagem teatral, do escritor baiano Aleilton Fonseca, escrito para homenagear os 50 anos do livro Grande Sertão: Veredas (1956) de João Guimarães Rosa. A adaptação para o teatro foi realizada por Deusi Magalhães e Edinilson Motta Pará, atriz e diretor desta montagem que teve sua pré-estréia no teatro do IRDEB em 27 de novembro de 2008. O projeto* Nhô Guimarães* *Pelo Sertão* do Núcleo Criaturas Cênicas foi um dos vencedores do Programa BNB de Cultura/2009. Esta é a 6ª montagem deste grupo premiado em encenações como “Escoria” de Michel de Ghelderode e “A Pedra do Meio Dia ou Artur e Isadora” de Bráulio Tavares. Cumprindo a agenda deste projeto a peça *Nhô Guimarães* teve sua estréia no sertão baiano percorrendo com suas apresentações, em maio de 2009, nas cidades de Senhor do Bonfim, Uauá, Canudos e participando da abertura do I Colóquio em Estudos Literários e Lingüísticos – UNEB - Campus XXII, em Euclides da Cunha. A peça segue agora para temporada de dois meses no Teatro do SESI – Rio Vermelho. O espetáculo, em forma de monólogo, transpõe para o palco a vida, as idéias e a mítica do nosso sertão, privilegiando a linguagem falada rica em neologismos, recheadas de palavras incomuns próprias dessas regiões e tão presente nas obras do autor mineiro. Esse tratamento é mantido na encenação como forma de valorização da diversidade lingüística, existente na língua portuguesa, especialmente a encontrada no sertão brasileiro. Essa visão é apresentada através dos causos contados por uma senhora octogenária a um visitante. Entre uma estória e outra, a velha cita a presença de um amigo do falecido marido, Nhô Guimarães, senhor de jeitos elegantes, que sempre os visitava, com "seu ouvido bom de ouvir causos eseus óculos pretos de aros redondos". Uma referência direta ao escrito rmineiro João Guimarães Rosa. Enquanto relata suas lembranças, a velha desenvolve ações cotidianas, como coar um café, apertar um fumo de rolo, fazer um pirão, dar comida às galinhas etc., busca-se criar uma transposição de quem assiste para o ambiente do cotidiano interiorano.

*Salvador*

*Local:* Teatro SESI Rio Vermelho

*Apresentações*: de 08 de agosto a 27 de setembro/2009

*Sábados e domingos*, 20 horas.

*Ingressos*: R$14,00 inteira e R$ 7,00 meia entrada**

*Mais informações:*

*Deusi Magalhães* (071) 9137-4567 e 3011-1437 <magadeusi@gmail.com>

*Edinilson** Motta Pará* (071) 8754-2769 nilsinho67@hotmail.com

*Fotos*: Maurício Requião

4 de ago. de 2009

I Encontro Literário da UEFS


Há algo melhor do que falar sobre literatura? Sim, há. O que? A possibilidade de falar sobre literatura para um monte de gente bacana, ao lado de outros escritores tão bacanas quanto.
Sempre é um prazer rever meus pares e amigos queridos. No I Encontro Literário da UEFS, isso aconteceu e transformou um dia comum num momento muito especial. Extremamente gentis e afetivos, os organizadores do evento mostraram que é possível divulgar a literatura baiana de forma interessante e articulada. Me sinto quase "habitué" da UEFS e sempre fico surpresa e feliz com o carinho que recebo dos alunos da instituição. Portanto, só me resta agradecer tudo isso e ressaltar que meus leitores são personagens deste que considero o meu conto maior: a vida. Podem ter certeza: sem vocês, meus livros e este blog não teriam o mesmo brilho.
Quando eu era adolescente, sempre reclamava do fato de não conhecer os escritores da Bahia. Certo dia, estava no ICBA e sentei para escutar um "tal poeta" falar sobre tempo e memória. O "tal poeta" era o grande Ruy Espinheira Filho e, até hoje, recordo-me com encantamento de sua linda fala. Escrevo isso porque desejo que este encontro seja lembrado por vocês da mesma maneira: como algo merecedor da eternidade do encantamento.
Se o livro do Vestígios é o retrato que não tiraram de mim, quero que este post do blog Vestígios seja uma bela fotografia de todos nós. Nós que, reunidos e contentes, dividimos um dia especial.

Liga dos E-amigos



Os que não puderam comparecer foram lembrados. (viu, primo Bernardo?)
E, apesar de não aparecer na foto, até a nossa querida
Aeronauta estava lá.

31 de jul. de 2009

Convite


29 de jul. de 2009

Colega de profissões

Formatura de Suzanno:
30.07.09 no Centro de Convenções da Bahia

27 de jul. de 2009

Como foi?


Definitivamente, não fazemos amigos: nós os reconhecemos pelo mundo. E, ainda no ônibus da ida para Jequié, tive a sorte de conhecer e reconhecer Nanai. Ela e Jonas, seu marido, foram grandes anfitrões e amigos, tornaram minha visita para Jequié muito especial. Fica aqui registrado meu agradecimento público.
Super gentis, José Inácio Vieira de Melo e Leonam Oliveira também não fizeram por menos. Ao lado de suas esposas, me apresentaram Jequié da melhor forma possível. Jamais participei de um evento tão organizado como o Travessia das Palavras. Era sábado, mas a Casa de Cultura Pacífico Ribeiro estava cheia. A platéia assistiu ao show do ótimo Trio Arguidá de maneira atenta e empolgada. Na hora da minha fala, o mesmo aconteceu. Entre perguntas e comentários, acabei conhecendo alguns dos leitores deste blog e fiquei feliz em constatar que o Vestígios é mesmo um meio de veiculação de informações e afeto. Nada pode me trazer mais alegria que isso.
Os livros foram todos vendidos e o lançamento acabou sendo um sucesso. Portanto, neste momento, apenas me resta dizer: Muito obrigada por tudo, Jequié! Foi, simplesmente, maravilhoso poder dividir minha literatura com você.
Mais notícias sobre o evento AQUI.

22 de jul. de 2009

20 de jul. de 2009










Oração ao Poderoso São José dos Raios


Oh, glorioso São José dos Raios,
Vós que sois um Santo por mim inventado,
Olhais por todos nós,
Mas protegeis em especial a Maria Sampaio
(Rezar 1 Pai Nosso, 1 Ave Maria e fazer o sinal da cruz)

18 de jul. de 2009

Renata, who?


Eu estava, no aeroporto, toda atrapalhada com as malas. Mesmo assim, de repente, percebi que duas meninas(que deviam ter uns quinze, dezesseis anos) não paravam de olhar para mim. Devo dizer que, além de olhar, elas não disfarçavam suas risadas. Como ainda conservo os traumas do passado, me tornei tão adolescente quanto elas e comecei a me perguntar o que tinha de errado comigo. Minha roupa estava rasgada, suja? Minha calcinha estava aparecendo? Meu cabelo estava despenteado?
Após alguns minutos de tensão, uma delas se aproximou e disse:
- Somos suas fãs! E eu amei seu sapato!
Eu, desconcertada e feliz, agradeci os elogios e fiquei me perguntando se ela se referia aos meus livros ou ao Vestígios. Já estava constatando o poder da Internet e dos blogs, quando ela falou:
- Nossa, que vergonha! Me enganei! Foi mal! Pensei que você fosse aquela menina que fez Malhação...
Não sei quem é a tal atriz, até já pesquisei. Mas achei esse episódio tão engraçado que a pergunta e a camiseta foram inevitáveis: Renata, who?

17 de jul. de 2009

O casamento mais lindo que já vi:

E que final de temporada maravilhoso!

14 de jul. de 2009

O Som e a fúria


Há uma passagem em Macbeth (a peça "amaldiçoada") que diz que a vida "é uma história cheia de som e fúria, contada por um idiota e que não significa nada."

William Faulkner extraiu de tal frase o título de um dos seus grandes romances: O Som e a Fúria. E, para minha alegria, Fernando Meirelles também não envergonhou Shakespeare. Sua série Som & Fúria é, simplesmente, ótima.

Mas o post não tem por objetivo falar do livro ou da série. Quero tratar da frase. Eu sempre tentei combater uma certa tendência ao niilismo que tenho. Inventei um propósito para minha vida e prefiro acreditar que ela possui algum valor. Justamente por isso, ontem, fiquei perplexa e muito furiosa. Ao saber que o pai de Michael Jackson declarou que pensa em formar o Jackson 3 com os três filhos do falecido cantor, constatei: a passagem de Macbeth nunca foi tão apropriada para uma situação. Conto com a fúria e o bom senso do resto da família para impedir tal "som" e para mudar esta história que insiste em ser narrada por este idiota.

12 de jul. de 2009

Uma aula sobre elegância


Hoje, tomei conhecimento do clima desconfortável que se instalou entre duas mulheres que admiro: a escritora Lygia Fagundes Telles e a atriz Maitê Proença. Tudo por conta do título "As meninas" que, segundo Lygia (autora de célebre romance com tal nome), foi "roubado" por Maitê, autora de uma peça homônima. Segundo o jornal Folha de São, Lygia declarou que a atitude de Maitê foi uma "safadeza" e que sua vontade era ir "à estreia dela no Rio, subir no palco e chamá-la de ladra."


Em resposta às declarações de Lygia, Maitê publicou, no jornal O Globo, um texto intitulado "Fica brava, não, Lygia", onde ela explica para o público todo o real contexto da desagradável situação de forma gentil, leve e generosa.


Não faz muito tempo, estava conversando com um amigo sobre outra polêmica literária: o suposto plágio cometido contra o escritor Moacyr Scliar. Nesta ocasião, não deixamos de exaltar a postura elegante do escritor brasileiro que, no texto "Um estranho incidente", comenta o assunto de maneira muito inteligente. Coerente com seus princípios artísticos, Moacyr conclui que " Literatura não é fonte de contentamento. Nem é coisa que possa ser feita pelo membro de um bloco. Ela é, essencialmente, um vício solitário. Isto não quer dizer que tenha de ser praticada numa isolada torre de marfim. A grande literatura inevitavelmente reflete o contexto social da época. Mas o faz como um sismógrafo, cuja agulha desloca-se como resposta a movimentos profundos. Espero que isso tenha acontecido, ao menos em parte, ao menos em pequena parte, com uma história chamada Max e os felinos. Todo o resto, francamente, não tem muita importância."


Lygia tem todo o direito de ter ficado aborrecida com o incidente. Repito: com o incidente. Jamais com Maitê, que tanto se esforçou para trocar o título de sua peça com o único intuito de não aborrecer a autora. Lygia foi deselegante? Sem dúvidas. Mas, sim, é verdade: não acertamos sempre. Declarações tempestuosas fazem parte da vida e temos que aprender a perdoar e nos perdoar por elas.


Na última semana, muito se falou do fraque branco com que se casou o jogador Alexandre Pato. Nos blogs de moda, chamaram o rapaz de "cafona" e sugeriram que ele procurasse a consultora Glória Kalil para ter aulas de elegância. Eu, neste momento, faço outra indicação: Moacyr Scliar. Este, sim, com certeza, é mestre no assunto. Copiar seu comportamento, com certeza, é um plágio que vale a pena.

11 de jul. de 2009

Oscar Quiroga para Peixes em 11.07.09:


"O olhar intrépido é tudo que você precisa, porque este derrota o medo sem sequer deter-se a lidar com ele. O olhar intrépido apenas vê o que é fundamental, a continuação da vida em todo seu esplendor e graça. Nada mais."


Poeta ou profeta?
Em qualquer caso, eu apenas digo amém.

7 de jul. de 2009

Um abajur cor de carne...




Alguns pensam que estou anotando as informações que estão sendo transmitidas. Outros acreditam que estou escrevendo contos ou algo do tipo. Eis a verdade: estou fazendo listas, meu principal vício. Segue a última:



Músicas que tocarão nas rádios para sempre:


1- Garota dourada. Pepeu Gomes. (Gente! Como assim “quero ser seu irmão, eu sou seu irmão- namorado“????!!!!)
2- Menina veneno. Ritchie. (Passei toda a infância procurando visualizar como seria o tal “abajur cor de carne“...).
3- Espanhola. Flávio Venturini. (Todo mundo com as mãos para cima! “Te amo espanhola, Te amo espanhola, Se for chorar, Te amo...”)
4- Eyes without a face. Billy Idol. (Sem comentários. Clássico da programação noturna das rádios).
5- Me chama. Lobão. (Nem sempre se vê, Lágrima no escuro, Lágrima no escuro, Lágrima!...)
6- Garotos ii. Leone. ( Trauma total. Eu morria de medo de um colega psicopata que ficava cantarolando perto de mim o refrão desta música.).
7- O amor e o poder. Rosana. (Somente eu acho a palavra “sedução” a mais cafona da língua portuguesa? Não, nada pode ser mais brega do que este início: “ A música na sombra, o ritmo no ar. Um animal que ronda no véu do luar. Eu saio dos seus olhos
eu rolo pelo chão. Feito um amor que queima magia negra. Sedução“.).


Leitores queridos: aceito sugestões para a lista.

4 de jul. de 2009

La mer

E eis que, num momento de pavor, teve o seu medo mitigado por uma interessante descoberta. Se morresse naquele lugar, naquele minuto, quem gostaria de pensar que foi? Uma personagem de Clarice, Simone, Marguerite Durás ou Françoise Sagan? Ou de Ingmar Bergman, Isabel Coixet, Woody Allen? Teria a Sofia Coppola sido aquela que mais representou na arte o seu mundo? Então, o que podia dizer das mulheres do Chico? Sim, a verdade é que era um pouco de tudo isso. Mas uma outra imagem tomava conta de sua mente e para sua surpresa parecia ser o veredicto. Teve até uma leve dificuldade de aceitar tal resultado, pois ele lhe parecia demasiado pueril e simples. Naquele momento de terror, constatou: gostaria de pensar que foi apenas uma personagem dos desenhos de Walt Disney. Usando um belíssimo vestido de festa, ao lado de seu marido. Bailando sem medo em direção à morte, num salão iluminado e infinito.

3 de jul. de 2009

Terceiro Lançamento



ANINHA FRANCO, MARCOS DIAS E JOÃO FILHO
DÃO SEQUÊNCIA À COLEÇÃO CARTAS BAHIANAS
DIA 7 DE JULHO
NA LIVRARIA TOM DO SABER


Com o lançamento dos livros de Aninha Franco (As ceitas de Mme.Castro), Marcos Dias (Ananke) e João Filho (Ao longo da linha amarela), a coleção Cartas Bahianas, publicação da P55 edições, tem continuidade dia 7 de julho, terça-feira, das 19 às 22 horas, na Livraria Tom do Saber, (Rua João Gomes 249, Pirâmide do Rio Vermelho).

29 de jun. de 2009

Neverland


Certa vez, perguntaram para o já adulto Michael:

- Por que você faz tantas plásticas?

No ato, ele respondeu:

-Sempre tive pavor de parecer com meu pai.


Às vezes, um monstro é apenas uma criança ferida.

Às vezes.

22 de jun. de 2009

4 8 15 16 23 42


Recentemente, acabei constatando que ter um blog é quase como ser um personagem de Lost. É ótimo viver nesta maravilhosa(e surpreendente!) ilha que é a blogosfera, mas me sinto obrigada a atualizar o Vestígios com quase a mesma frequência que Jack/Locke/Desmond tem que digitar a série de números acima, no computador da Escotilha.
O que irá acontecer comigo se eu demorar de apertar o botão "Nova Postagem" do Painel? Que angústia é essa que toma conta de mim quando o blog fica parado? Por que não suporto ver meus posts se tornarem passado?
Desta vez, vou tentar cumprir a promessa de ficar um tempo sem postar aqui. Preciso dar uma volta mais demorada pelo mundo real. E, desde já, aviso: se eu voltar em menos de uma semana, por favor, numa "rehab de blogs", vocês têm que me internar.

19 de jun. de 2009

Para os meus amigos perdidos

No prédio onde cresci, não existiam crianças. Portanto, fui acostumada a pular elástico sozinha, utilizava as cadeiras como apoios e fantasiava amigos impossíveis. Sempre mendigando o olhar do outro, puxava assunto com os adultos e era querida pela maioria deles. Alguns me presenteavam com gibis e chocolates. Nos feriados, me telefonavam para que eu fosse brincar com seus netos. Menina alegre e bem criada, ninguém temia que eu fosse uma má companhia. Aquele era um prédio de velhos. Talvez isso explique o enorme afeto que sinto por pessoas de idade avançada.
Meu apartamento era enorme e eu morria de medo de um anjo que vivia na parede. Julgador de todos os meus atos, ele possuía enormes olhos verdes e era mau. Nas madrugadas, eu tinha certeza de que ele fugia do quadro e caminhava pela sala. Muitas foram as noites em que fui dormir com sede, jamais tive coragem de pegar, na cozinha, um copo de água.
Sendo aquele prédio um lugar de idosos, fui acostumada, desde cedo, com a perda dos meus amigos. Um deles subiu no elevador comigo e, minutos depois, faleceu por causa de um infarto. Lembro do meu pensamento, quando recebi a notícia: o certo é infarte ou infarto? As pessoas me perguntavam: ele parecia pálido, cansado? Eu nada respondia, abalada com a descoberta de que a morte não nos deixa antes um recado.
Um dos meus preferidos, Sr. José Augusto, apareceu carequinha de uma hora para outra. Era um homem amável, sempre conversava comigo. Meses depois, faleceu. Eu devia ter uns nove anos e pedi para ir no seu enterro. Afinal, ele era um dos vizinhos mais queridos.
Do Seu Roberto, do quinto andar, eu não gostava muito não. Cheirava mal, fazia brincadeiras sem sentido. No dia em que morreu, alguém comentou que sua sobrinha tocou piano a noite toda como se nada tivesse acontecido.
Muito tempo se passou. Meus pais compraram um outro apartamento e tive que trocar de endereço. Na véspera da mudança, eu estava arrasada. Chorava de maneira inconsolável. Como poderia abandonar o cenário da maioria das minhas lembranças? Quem seria amedrontado pelo anjo da parede? Meses depois, já na casa nova, acordei aliviada e percebi que o tempo se encarregou de trazer para minha vida novos atores, não mais me incomodava com nada disso. Naquele prédio, ficou para sempre enterrada a menina que fui. Bem como os seus primeiros amigos.

Texto em memória de Seu José Augusto, meu vizinho jamais esquecido.

18 de jun. de 2009

Pequeno aviso

Dizem que o tempo ameniza.
Isto é faltar com a verdade.
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade.

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria.
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria

Emily Dickinson

Pintura de Degas



16 de jun. de 2009

Duas jóias num mesmo dia




Elas caminham de maneira serena, posso prever esboços de tímidos sorrisos. Ambas estão vestidas de forma impecável, são naturalmente chiques. As duas têm cabelos brancos muito bem tratados e possuem um tipo de elegância delicada, dessas que não incomodam ninguém. Sei que foram bem educadas e que são mulheres cultas. Fosse possível, eu teria me aproximado para ouvir suas conversas, acredito que elas possuem vozes suaves. Uma delas carrega pérolas verdadeiras no pescoço, suponho que seja jóia de família. Não consegui me encontrar com seus olhos, não li o livro definitivo de suas almas, pouco posso contar de suas vidas. Mesmo assim, aposto que estão próximas dos setenta anos e que não mais temem o medo da morte. Suas roupas escuras contrastam com o colorido da rua, mas isso não faz com que se destaquem, sejam percebidas. Creio que somente eu as notei. Poesia cotidiana, surpresa que me trouxe alegria. Duas mulheres idosas e elegantes. No último domingo, de mãos dadas em plena Parada Gay na Avenida Paulista.

14 de jun. de 2009

Dos pequenos vícios




Seu nome já dizia tudo: Madalena. Tinha cabelos ressecados e negros, batom vermelho borrado, algum dente sempre manchado. Havia algo de muito bonito nela, era dona de uma tristeza encantadora, dessas que poucos conseguem perceber. Talvez aquela menina fosse a única da sua classe que notava isso. Muitos anos depois, compreenderia: se sentia muito próxima daquela mulher. De alguma forma, acreditava que ela tinha descoberto seu maior segredo, mas o havia guardado por uma questão de princípios. Sim, Madalena sabia, só que fingia ignorar: a menina comungava do seu amor pelos livros.


- Alguém sabe dizer o motivo da perplexidade de Ana ao se deparar com um cego mascando chiclete?


(Silêncio)


- Alguém pode me dizer qual personagem de Capitães de Areia virou uma estrela no céu?


(Silêncio)


- Alguém se arrisca em dar um palpite sobre a veracidade da afirmação de que Bentinho foi traído por Capitu?


(Silêncio)


Foram meses de um monólogo melancólico, conformado por não ser diálogo. E Madalena era de uma bondade dolorosa, não alterava seu tom de voz, permanecia esperançosa, esperava a mudança de comportamento dos alunos. Como Ana, não se permitia maiores liberdades, por isso a cena do cego mascando chiclete também lhe causava tanta estranheza. Como Dora, se contentava em contar histórias para aqueles meninos perdidos, tão ignorantes de sua própria condição. Jamais agiu de maneira autoritária, nunca julgou Capitu, sustentava um feminismo suave, seu batom testemunhava isso. Talvez Bentinho estivesse mesmo movido por um desses ciúmes doentios.
A menina sabia quase todas as respostas, mas nunca se manifestou. Preferia contemplar Madalena, analisar suas reações. Tinha medo que seus colegas achassem que ela era uma dessas "sabe-tudo" e que ficassem incomodados. Tinha medo de não ser considerada "um deles" e de não conseguir aceitação. Naquele tempo, ela até errava algumas coisas de propósito para poder pertencer, para não se destacar. Ela não sabe o porquê, mas ainda hoje, de vez em quando, age assim.

11 de jun. de 2009

O tempo das coisas


Quando pequena, ele a colocava no carro e faziam longos passeios juntos. No caminho, ele dizia que tinha o sonho de ter uma filha advogada, mas sempre lhe ensinava noções de construção civil. Até hoje, ela sabe qual é a diferença existente entre uma viga e um pilar. Ela permanecia em silêncio, gostava de escutar aquele homem falar sobre o mundo, sentia menos medo de sua condição humana, ele a protegeria de qualquer situação. Quase sempre, o destino final era o mesmo: uma praça cheia de pombos. Foi assim, durante muitos anos.

Certo dia, pouco antes de sua mudança, ela pegou uma carona com ele. Nos primeiros minutos, nada disseram. Passado o incômodo inicial, ele comentou que ela deveria pensar sobre suas escolhas, ressaltou que ela tinha que passar na seleção do Mestrado, isto era fundamental para a sua carreira jurídica. Durante todo o tempo, ela ficou em silêncio. Não queria demonstrar seu enorme medo das coisas deste mundo, tinha receio que ele percebesse que ela ainda precisava de sua proteção. Diante da evidente impossibilidade de um diálogo, ele se calou. E passou a dirigir com mais atenção.

Sim, houve um momento em que os dois foram obrigados a pensar sobre a passagem do tempo. No meio do trajeto, estava aquela praça tão conhecida. Nada foi comentado, só que ambos notaram: não havia mais pombos lá.

10 de jun. de 2009

Sobre uma loira forte


Ela tinha dezoito anos, cabelos curtos e escuros, pesava apenas quarenta e cinco quilos. Ele era bastante feminino, negro, magro, tatuagem indecifrável no pulso. Não tinha educação formal, mas foi ele quem ensinou a menina a gostar de Marguerite Duras, Clarice Lispector, Kafka, Agatha Christie, dentre outros. Certo dia, ele insistiu que a menina comprasse um livro chamado Os irmãos Karamázov, disse que ela precisava conhecer os autores russos. Ela comprou, mas jamais terminou a leitura, o livro ficou esquecido na estante, ela se justificava dizendo que precisava ler os indicados para o vestibular. Era um tempo difícil e a menina se escondia em banheiros, tinha sofrido sua primeira decepção amorosa e, no meio de tudo isso, descobriu aquele pequeno sebo, seu novo esconderijo. No entanto, pouco tempo depois, mais uma tristeza: a loja foi fechada e ele já não estava lá.
Muitos anos se passaram. Ela tinha vinte e sete de idade, cabelos loiros e longos, pesava cinquenta e três quilos. Caminhava sozinha por um shopping, não morava mais na sua cidade, sentia uma melancolia difícil de explicar. De repente, uma surpresa: ele ainda magro, negro e feminino, apareceu na sua frente e, depois de um sorriso, começaram a conversar. Ele lhe contou sobre o novo serviço e revelou que recortava e guardava, numa pasta, todas as fotografias dela que apareciam no jornal. Ela agradeceu e se despediu emocionada. Quando chegou em casa, teve que arrumar as malas e chorou, chorou muito sem saber o porquê.
Entre roupas, dores, fotografias e decepções sem motivos precisos, podia ser percebido um livro. Sim, estava na hora de Os irmãos Karamázov conhecer.

8 de jun. de 2009

Singing in the rain



Recentemente, eu estava na inauguração do Núcleo de Estudos Fiscais da Fundação Getúlio Vargas e escutei algo que chamou minha atenção. Num dos discursos de abertura, uma das maiores autoridades de Direito Tributário do país disse que, caso fosse possível, apenas colocaria, no seu Currículo Lattes, o nome de alguns dos seus alunos, pois nada o orgulhava mais do que saber que muitos deles são os que constroem a melhor doutrina jurídica brasileira hodierna. Nesta ocasião, me fiz as seguintes perguntas: quem eu colocaria como motivo de orgulho no meu Currículo Lattes? Que característica minha me faz sentir orgulho de ser quem sou ?


Não precisei de dois segundos para responder tais questões. A primeira resposta é bastante simples: sinto-me extremamente honrada por ter os amigos que tenho. Diante das coisas que escuto de vários conhecidos, devo mesmo me considerar alguém de extrema sorte, pois conheço pessoas da melhor qualidade e ostento a condição de amiga de boa parte delas. Ser aceita e amada por gente que admiro é algo que me permite uma grande felicidade e me livra de um terrível pessimismo que costuma rondar aqueles que são mais sensíveis. Sim, é claro que tive decepções, mas nenhuma foi capaz de diminuir o brilho das coisas boas que recebi destas pessoas tão queridas. Neste momento, alguns de vocês podem me perguntar: e os defeitos obscuros dos seus amigos? Você não tem medo deles? Como você lida com isso? Tal resposta é a mesma para o segundo questionamento do primeiro parágrafo: tenho a enorme virtude de gostar de muitas coisas sem pretender que estas sejam perfeitas, sei apreciar diferentes belezas.


Na minha lista de amigos para o currículo lattes, Jorge Santiago é um dos primeiros. E, há pouco tempo, num almoço, nós constatamos que não há nada melhor do que gostar de muitas coisas. Quando fui morar em São Paulo, alguns me diziam: como você terá coragem de viver numa cidade sem sol, numa cidade tão horrorosa? Eu apenas respondia: acho São Paulo linda. Gosto de observar a arquitetura dos prédios, adoro perceber a singularidade de cada pessoa que caminha pela Avenida Paulista. É óbvio que não tem o visual de Salvador, mas isso não transforma São Paulo numa cidade menos interessante.


O fato de eu gostar de várias coisas me permite a grande possibilidade de ficar feliz sem depender de ninguém. Não deposito no outro a obrigação de me entreter. Sempre quando vejo uma fotografia bonita-um prédio bem construído-um quadro bacana-um filme interessante ou leio um texto bem escrito, sou tomada por um prazer único, ímpar. Me orgulho muito do fato de apreciar muitas coisas e ter essas diversas possibilidades de encantamento. Me orgulho muito de gostar deste blog e dos e-amigos que aqui conheci. Mas sou apenas uma e estou precisando de um tempo para viver novas coisas. Aprender a desenhar pessoas e vestidos, ver a exposição do Vic Muniz, ler os livros dos meus amigos, aprender mais sobre o Espiritismo e assistir todos os filmes do Bergman são as minhas prioridades deste período de férias. Já estou cantando e dançando por causa destes dias chuvosos de junho. Devo voltar no próximo mês. Isto se a saudade desta casa e de vocês não apertar.

5 de jun. de 2009

Dúvida existencial desta madrugada:



Será mesmo que os indianos da vida real ficam dançando assim pela casa?

2 de jun. de 2009

Meu sorriso nervoso, constrangido


Quando eu era criança, chamava nuvem de luvem. E tinha um problema grave com a idéia de hierarquia, colocava-me no lugar das chamadas "pessoas invisíveis" e sofria, sofria muito. Sempre que ocorre um acidente aéreo, eu sou obrigada a reavaliar uma das premissas básicas daquela que sou: minha fé em Deus. Alguns de vocês, podem me interrogar: que Deus é esse que aniquila famílias e impede a concretização de tantos sonhos? Diante da resposta impossível, apenas ofereço um sorriso nervoso, constrangido. Não, não sou Jó. E sofro, sofro muito ao ver, na televisão, o desespero dos parentes das vítimas. Portanto, resta-me apenas a necessidade de alguns dias de silêncio. E, sim, este post que escrevo de luto. É duro, mas devemos admitir: nem mesmo a literatura é capaz de nos salvar das dores terríveis deste mundo.

31 de mai. de 2009

Mas, afinal, de quem devemos sentir pena?


Há pouquíssimo tempo, alguns assuntos dominaram os meios de comunicação. No Brasil, quem não viu o susto da menina Maisa ao se deparar com uma criança maquiada de monstro no programa de Sílvio Santos, deve ter passado as últimas semanas em coma. No mundo, dois foram os principais personagens das capas de revistas e das conversas dos programas de televisão: Susan Boyle e Adam Lambert.

Desde o domingo passado, sinto-me muito tentada a comentar algo que me perturbou bastante: a estranha derrota de Adam Lambert no American Idol. Ontem, tive a notícia de que, apesar de ter se tornado a "queridinha" da mídia, Susan Boyle perdeu na final do Britan´s Got Talent. Na sexta retrasada, aniversário de sete anos da menina Maísa, o Ministério Público do Trabalho, finalmente, se manifestou e a impediu de continuar participando do programa dominical de Sílvio Santos.

Qual a relação entre os três assuntos? Passo a demonstrar.

Para quem não sabe, o programa de televisão American Idol é um grande fenômeno de audiência nos Estados Unidos. Termometro do que pensa o público americano, o American Idol já contou com a participação de diversas celebridades, incluindo presidentes e grandes nomes da indústria do cinema e da música. O programa tem como principal objetivo escolher o melhor cantor da competição e, apesar de contar com quatro jurados, é o público quem decide o participante que fica ou sai.

Adam Lambert foi o grande candidato ao título de Idol de 2009. Melhor participante do American Idol de todos os tempos, ele conseguiu feitos únicos e se mostrou um cantor extraordinário e original. Sua vitória parecia certa, os jurados demonstravam de forma inequívoca sua predileção, mas, inesperadamente, ele foi derrotado na final por Kris Allen, cantor bonitinho, mediano, comum e cristão declarado. Na hora do anúncio de sua vitória, o último demonstrou sua incredulidade. Os jurados tentaram esconder suas perplexidades. Eu fiquei arrasada. A pergunta foi inevitável: por que mesmo Adam Lambert não foi coroado o grande vencedor do American Idol?

Susan Boyle, atualmente, é a "feia" mais conhecida do planeta. O mundo todo se "espantou" com sua linda voz , seu vídeo foi visto milhões de vezes no Youtube. A torcida mundial para a sua consagração no Britan´s Got Talent se tornou quase obrigatória. Ninguém sequer conhecia os outros candidatos da atração, mas a história da moça "feia" e "talentosa" deveria bastar para assegurar à Susan Boyle o primeiro lugar de tal programa. No entanto, ontem, saiu o resultado. Susan se tornou vice campeã. Parte do mundo se mostrou penalizada e se revoltou com tal situação. Teria sido a já repaginada e maquiada Susan injustiçada?

Li um artigo da Malu Fontes onde ela afirma que o SBT faz de tudo para que Maisa se comporte e se vista como Shirley Temple. Vi o susto que a menina tomou ao ver o menino maquiado de monstro, assisti ao vídeo em que esta bate a cabeça na câmera e é ridicularizada por Sílvio Santos, fiquei horrorizada com o episódio da mala. Apenas pior que isso foram os comentários dos internautas sobre o episódio. Alguns diziam que ela era paga para isso e que o "seu" Silvio tinha direito de fazer o que queria com a menina. Outros comentaram que o MPT não tinha o que fazer, pois, ao invés de pensar nas crianças pobres, se preocupava com uma menininha rica e mimada.

Na "lógica da pena" Susan Boyle deveria ganhar o Britan´s Got Talent por ser "feia" e talentosa, não apenas por ser a mais talentosa. Adam Lambert deveria perder o American Idol por ser o mais talentoso, seu lugar no mundo da música já está de algum modo assegurado, o pobre Kris também é bom, mas, fatalmente, não receberia as mesmas oportunidades se não fosse o vencedor. Na "lógica da pena" a menina Maisa não tem vez, deve ser sacrificada em praça pública, pois quem é rico ou bonito merece isso.

Nos fóruns de discussões, comentam que Adam Lambert não ganhou o American Idol porque é homossexual e sempre se apresentava maquiado. Nos fóruns de discussões, comentam que Susan Boyle não ganhou porque se tornou "menos" feia, maquiou-se e arrumou-se demais para a final e perdeu parte de seu eleitorado. A menina Maisa morreu de medo de um menino maquiado de monstro e acabou revelando que existem muitos, muitos outros monstros.

Diante de tudo isso, uma segunda pergunta se mostra inevitável: mas, afinal de contas, quem é mesmo que está maquiado?

29 de mai. de 2009

Da breve diferença entre sonhar e fantasiar



"Sonhos e fantasias se misturam na alma, você fica com o ônus de distinguir uns dos outros. Geralmente, é pelos frutos que se reconhece esta diferença. Sonhos produzem evolução e felicidade, fantasias só redundam em decepção. "

Oscar Quiroga para Peixes em 29/05/09
Concordam?

27 de mai. de 2009

Uma tarde chuvosa de maio?

Quatro meninas e uma pergunta: é mesmo necessário o rótulo de literatura feminina? Na platéia, os e-amigos Marcus Gusmão e Mayrant Gallo. Alegria total: nossas fotografias tiradas pela grande e-amiga e fotógrafa Maria Sampaio.

24 de mai. de 2009

Aqui


Eu sempre quis ir embora daqui. Sempre, sempre. Quando pequena, imaginava com ansiedade o dia da minha partida e sentia enorme angústia com a mínima possibilidade de isso não acontecer. A vida começaria a partir deste dia: antes tudo era ensaio, nada valia. Mas qual seria este lugar extraordinário, maravilhoso que me tornaria inteira e não apenas parte dele? E se ele não existisse? E se ele não passasse de uma ilusão? Apenas uma certeza: pertencer não era preciso, bastava-me a idéia de possuir algum mobilidade e o distanciamento necessário para a compreensão de que, em qualquer lugar que fosse, tudo era eu. A idéia de raízes sempre me pareceu aprisionadora, terrível. Como explicar que era exilada na minha própria terra e que ela não é o meu lugar? Como lidar com a dor e a culpa de saber que nem sempre somos da mesma pátria daqueles que amamos e que percorreremos ruas distintas para os restos de nossas vidas? Como assumir isso sem parecer ingrata, sem desmerecer tudo aquilo de precioso que sempre lhe foi ofertado pelos outros? E como se olhar no espelho tendo a certeza de que não acompanhará o envelhecer daqueles que ama e que, num dia qualquer, se dará conta de que o tempo passou e que você não esteve presente no decorrer dele? Em prol disso, deveria carregar para sempre aquela agonia? Recentemente, alguém disse: você não precisa mais da Senhorita B. Já não há mais fuga, tudo é seu lugar. Recentemente, alguém repetiu: dor para mim era ver seus olhos deixarem de brilhar. Prefiro-os lindos numa fotografia do que opacos no dia a dia.

Eu sempre quis ir embora daqui. Sempre, sempre. Foi o que fiz. E isso me salvou da sina dos escritores perdidos, do eventual encanto pela palavra suicídio. Minha casa? Os livros. De mim? Não mais indícios ou vestígios. Plena, inteira, longe, distante. Só assim posso com tanto prazer e alegria para aqui estar e retornar.

23 de mai. de 2009

Suzanno


"Renata,

Ia fazer uma carta para você, só que tive dor de cabeça no meio! Logo lhe mando um beijo! Quero que sejam ótimos seus 14 anos! Que Deus dê muita paz e alegria para você!

Mil beijos,

Ricardo"



Eu descobri que o amava no dia deste meu aniversário de quatorze anos. Ele tinha apenas nove e achou que eu ia adorar um cartão com a foto de um morcego. Não teve dúvidas: imprmiu a imagem de tal animal e escreveu seus votos. Lembro-me que achei isso tão fofo quanto engraçado. Seu senso estético constratava de forma enorme com o meu. Natural: eu era adolescente e ele criança. Neste cartão, ele ainda dizia que me amava. E foi assim que descobri que eu também.

Ele sempre foi muito espirituoso e independente. Quando pequeno, fazia todo mundo morrer de vergonha. Aos quatro anos, disse para o meu "paquera" da escola que eu gostava dele. Quase tive um ataque do coração! Aos seis, repetia a mesma pergunta para uma amiga de minha mãe: por que a senhora é tão gorda? Nunca nenhum dos castigos resolveu seu problema de inconveniência. Recentemente, criticou horrores uma pessoa e acabou descobrindo que estava fazendo isso na frente de sua irmã. Já perdeu toda a vergonha na cara: deu risada e inventou uma desculpa estilo Augustinho da Grande família.

Ele gosta de ler Kafka e Mayrant Gallo. Não faz muito tempo, me disse que se eu tivesse escrito A metamorfose, ele acharia uma porcaria. Diz que me admira muito como artista, mas que não consegue ler o que escrevo, pois para ele serei eternamente sua "boneca amarela". Sempre teve um ciúme horroso de todos os meus namorados, recusava-se a falar com eles. Morria de medo que eu casasse, pois não sabia como seria morar na casa de nossos pais sem mim. Passávamos quase todas as madrugadas juntos, rindo de coisas malucas ou assistindo seriados americanos. Minha mãe se aborrecia, dizia que nosso hábito acabaria com nossa saúde. Desculpa: ela e meu pai sempre tiveram inveja de nossas noites insones, pois não participavam do nosso mundo secreto de histórias fantásticas e apelidos malucos.

No lançamento do meu livro O que não pode ser, muita gente não entendeu nada. Como assim Suzy se chama Renata? Pois é, Suzanno, no dia dos irmãos deste ano, eu não estava ao seu lado. Mas, pelo menos, estou hoje, no dia do seu aniversário. E apenas posso repetir o que você escreveu no seu convite de formatura para mim:

"A Renata, mas aqui estou quase agradecendo a mim mesmo – te amo muito. "

20 de mai. de 2009

Em boa companhia


Hoje, tive o enorme prazer de almoçar com minha amiga Vivoca, mais conhecida por todos como Personagem Principal. Ontem, entrei na Verbo 21 e com grande alegria me deparei com uma resenha sobre o livro do Vestígios escrita por Ricardo Vidal, outro adorável blogueiro. No próximo dia 27, participarei de uma mesa na ALB com Kátia Borges, Mônica Menezes e Ângela Vilma: todas ótimas escritoras e amigas queridas. Não, meus pais realmente não precisam se preocupar: não tenho eu só andado com boas companhias?

Intimidade e confissão na literatura feminina
Dia 27/05/09 na ALB das 15:00 às 18:00 h

18 de mai. de 2009

Sobre ser rainha


Recentemente, li que Michelle Obama convocou todos os funcionários da Casa Branca para uma reunião e lhes deu algumas orientações sobre como eles deveriam se comportar diante de suas duas filhas. Michelle deixou claro que as meninas devem, diariamente, fazer suas camas e arrumar seus quartos sem qualquer ajuda alheia. Ainda pontuou que os funcionários devem avisá-la de qualquer comportamento rude ou grosseiro que, por acaso, as meninas tenham com eles.

Essa postura de Michelle Obama me lembrou muito da minha educação. Fui criada por três pessoas(meu pai, minha mãe e minha babá) e, desde muito cedo, aprendi que devo me responsabilizar por minhas atitudes e escolhas. Lembro-me bem que, na minha adolescência, meu comportamento contrastava de forma absurda com os dos meus colegas de escola. Filhos da chamada "elite" baiana, eles não tinham qualquer cuidado com o outro: os professores eram "empregados", as meninas tinham seu valor relacionado ao preço de suas roupas e aos seus graus de beleza, cultura e literatura eram coisa para aqueles que não "pertenciam". Hoje, até parece engraçado, mas, naquela escola, não era considerada "alguém" a garota que não desfilasse pelos corredores com a calça jeans cuja a marca era um raio.

Jamais fui uma "excluída" ou coisa do tipo, mas sempre me senti muito enojada com tudo isso. E, recentemente, tive o azar(sorte?) de viajar ao lado de um fiel representante dessa "filosofia" que tanto fez parte dos meus tempos adolescentes. Durante duas horas, fui obrigada a escutar este rapaz e seus amigos tecerem comentários terríveis sobre várias mulheres que conheço. Ainda presenciei suas "teses" sobre as melhores baladas e bebidas(todas muito caras para não deixar "gente bizarra" entrar.).

Para me divertir, durante a viagem, peguei minha caderneta e anotei todas as bobagens que os rapazes proferiram. Pensei que daria um bom texto para o Vestígios ou uma conversa engraçada com minha melhor amiga. Fui colega desses senhores durante muitos anos, mas, em momento algum, eles (que se sentaram ao meu lado) foram gentis comigo ou mesmo me cumprimentaram. Melhor assim, posso escrever esse texto sem qualquer resquício de culpa. Quando a viagem acabou, deixei o avião pensando em como também estava certa Eleanor Roosevelt, outra ilustre primeira-dama: não, ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento.