4 de out. de 2008

Repensando conceitos I

Comentário proferido por um famoso pensador na ocasião da guerra entre os EUA e o México pelo território da Califórnia:
"É uma infelicidade se a rica Califórnia foi arrancada dos mexicanos preguiçosos que não sabiam o que fazer dela? Se os enérgicos yankees, graças a exploração das minas de ouro daquela região, aumentam as vias de comunicação, concentram sobre a costa do Pacífico uma população densa e um comércio em expansão, abrem linhas marítimas, estabelecem uma via férrea de Nova York a São Francisco, abrem pela primeira vez o Pacífico à civilização e pela terceira vez na história dão uma nova orientação ao comércio mundial?“Será que é falta de sorte que a magnífica Califórnia tenha sido tomada dos preguiçosos mexicanos que não sabiam o que fazer com ela?”
De quem são essas frases? Palpites? Pois bem: elas são de Karl Marx.
Já tinha escutado isso na aula do mestrado. Mas encontrei outras fontes:

3 comentários:

Ricardo Thadeu (Gago) disse...

Nossa, fiquei surpreso. Marx chamando os estadunidenses ambiciosos de “enérgicos yankees” e adversários deles na guerra pela Califórnia de “mexicanos preguiçosos”.
O texto de Ipojuca Pontes é bem esclarecedor.

Até!

Unknown disse...

Devia estar bebado

José Ricardo da Hora Vidal disse...

Renata, foi ótimo ter colocado este post, porque ele dá muito o que falar... Não sei se foi coincidência, mas eu estava relendo, durante as eleições, uma coletânea de artigos jornalísticos do próprio Marx, lançada pela L&PM. No prefácio, o tradudor comentava da ânsia de procurar, em "algum pé de página obscuro, num trecho sobre a Espanha ou a Irlanda" qualquer frase sagrada, qualquer iluminação transcedental, qualquer oráculo divino sobre controvérsias ou impasses. Falo isso porque muitas vezes nos deparamos com um certo culto a pensadores e artistas que nos faz esquecer que eles são também humanos e filhos do seu tempo. Digo isso porque, lendo o trecho supracitado dentro da perspectiva histórica, não seria de estranhar que Marx tivesse um pensamento desse. Não devemos esquecer que o EUA era, na época, um país emergente e progressista (comparada com a Europa tradicionalista de então) e, por influência de Darwin, Spencer e Conte, havia uma certa aceitação sobre teorias de diferenças raciais por parte da "intelectualidade". Ora, porque não, reproduzindo o senso-comum da época, entregar ricos territórios mexicanos aos "nobres" ianques??? Claro que a luz da ideologia de hoje isso seria inconcebível. E depois, na democrática Atenas de Péricles e Sócrates, as mulheres não eram vistas como seres de segunda categoria e as esposas, meras fábrica de cidadãos??? Ou quantas pessoas ficaram pasmas quando souberam que o decantado romance "O Presidente Negro" de Monteiro Lobato (o nosso venerando Monteiro Lobato do Sítio de Picapau Amarelo, nacionalista e educador da crianças) era, em essência, um libelo em prol da supremacia branca?? O legal de ler textos como esses é que eles abalam nossas mitificações e nos obrigam a rever nossos pensadores pelo prisma humano, com suas contradições e seus enganos... De vez enquando é bom dessacralizarmos e re-humanizarmos esses ídolos intelectuais, para melhor aproveitarmos o que eles tem a dizer. Pior é quando eles servem de deuses para novas seitas de aiatolás cultutais, "detentoras da sacrossanta verdade", que só obscurecem e deturpam o legado destes mestres - vide o exemplo de Richard Wagner, Sigmund Freud e Freidrich Nietszche, só para ficarmos na esfera germânica. Bem, era só isso. Até mais e um abraço do seu amigo