12 de fev. de 2009

Eu, Ally McBeal.




Quando eu era criança, nas habituais brincadeiras com meus primos, costumava dizer que eu era a Changeman de roupa branca com frisos rosa. Na adolescência, já ciente de que não era mais apropriado dizer que eu era algum personagem de televisão, restava-me a possibilidade de sonhar em silêncio. E, nos meus devaneios, tudo se tornava uma mistura muito legal de Friends com Sex and the City.

Ricardo, meu irmão, era Chandler. Guga, meu primo, Joey. Vanessa cabia muito bem no papel de Phoebe. Jô? Rachel! Jorge? Ora, claro que Ross. Érica não poderia deixar de ser Charlotte. Lígia é a cópia perfeita de Miranda. Eva e eu competimos, terrivelmente, pelo papel de Carrie. Afinal de contas, quem no mundo renunciaria de bom grado aos sapatos da Srta Bradshaw?

Pois então: todos nós moraríamos num mesmo prédio. Até mesmo depois dos nossos casamentos. Nos dias tristes, tomaríamos sorvete juntos. Nos alegres, daríamos pequenas festas onde os pratos principais seriam pipoca e brigadeiro. Viajaríamos pelo mundo, conheceríamos diversas culturas. E teríamos todos o mesmo cão de estimação.

Hoje, eu estava arrumando meu armário e Meca (minha eterna babá) disse algo assim: Você vai dar essa saia, né? Algumas coisas só são permitidas quando se tem quinze anos...

Atualmente, meus amigos moram em partes diferentes do país. Eu, apesar da enorme saudade, vivo ocupada com minhas coisas e falo com eles bem menos do que gostaria. Não, nada ocorreu como eu previa. Como consolo, restam-me apenas as reprises destes seriados na televisão.

9 comentários:

Anônimo disse...

Também tenho a recorrente sensação de que a 'gloriosa' promessa da minha adolescência era só isso mesmo, uma promessa. Os ideais revolucionários que perfumavam as discussões do Grêmio revelaram-se bem menos nobres do que eu poderia supor. Meus grandes amigos deixaram de sê-los e apenas um deles preservou a alma corsária. Hoje, ele vive anacronicamente contrariado. Bacana teu blog, Senhorita B. Abç!

Senhorita B. disse...

Seja bem vindo, Ives!

Janaina Amado disse...

Renata, obrigada pelas informações sobre o livro a seu respeito, vou atrás. Eu também tenho uma prima com quem vivia vivendo personagens, éramos 2 atrizes famosas, gêmeas, e nos víamos assim. Mas não tenho essa sensação de desânimo, de que o mundo não me deu isso: acho bom ter tido um tempo na vida em que o sonho era tão livre, ele ainda me serve de inspiração... Beijo

Senhorita B. disse...

Jana,
Eu não me sinto desanimada. Apenas melancolica com a constatação de que pouco sabemos dos rumos de nossas próprias vidas.
Beijos,
Renata

Bernardo Guimarães disse...

nem me queixo mais, não tenho mais tempo. me conformo com os poucos amigos atuais e não me permito saudosismos. minha vida é aqui e agora. mais budista, impossível.

Lidi disse...

"Pouco sabemos dos rumos de nossas próprias vidas." Pura verdade, Renata, e confesso que isso também me deixa melancólica e preocupada.

Senhorita B. disse...

Pois é, Lidi... Mas tb tem aquela coisa de que a felicidade advém do desconhecido e do imprevisível. Nos dias de angústia, tento pensar nisso.
Bjs

Lidi disse...

Renata, estou passando por um momento de mudanças. Está próxima a minha formatura e me pergunto: E agora? Para onde irei? O que farei? Pequenas dúvidas existenciais. (rs) Vou tentar pensar como você! Beijo.

Anônimo disse...

Renata querida,

Estava com a leitura do blog um pouco atrasada e hoje passei para me atualizar coms seus textos. Lendo este post, senti vontade de comentar aqui algo que quase nunca falo, pois as pessoas não entendem. Sobre saudade! Que sentimento é esse que eu quase nunca sinto? - me pergunto sempre! É chocante dizer isso, mas de poucas coisas sinto saudade. Tenho lembranças de coisas boas, gostosas, de pessoas queridas, mas não sinto aquela 'saudade'que dói. Sempre acho que estou vivendo no momento que me cabe, entende? Sei que pessoas ou coisas, voltarei a ver e outras simplesmente, não. Não esqueço de nada, mas não choro a saudade. A minha lembrança é branda, suave, como se fosse um sorriso de canto de boca, nunca escancarada, nunca declarada, muito menos dolorosa. Já tive medo de que isso fosse um esvaziamento. Hoje, porém, sinto que é uma maneira de existir e só. Um beijo.