4 de nov. de 2007

Crime e castigo

Na faculdade de direito, um professor constantemente me dizia que eu seria uma grande promotora, pois eu tinha enorme talento para o crime. Nunca dei ouvidos às suas pregações, pois jamais me senti tentada a trabalhar com gente inescrupulosa. Mas, hoje, reconheço sem modéstia que ele tinha, de certa forma, alguma razão.
Quando comecei a estagiar naquele escritório, eu era uma garota cheia de sonhos. Pensava ainda que todas as pessoas mereciam uma segunda chance, acreditava que aqueles que cometiam delitos tinham seus motivos. Isso até começar a conviver com minha chefe.
Com o argumento de me "educar" para o mundo, ela me fazia passar por humilhações das mais diversas. Certa vez, me prendeu gratuitamente no escritório até tarde só para eu perder uma prova importante. Houve um dia, em que ela liberou todas as outras estagiárias para poderem ir ao salão de beleza(era o casamento de uma das sócias daquele lugar), menos eu. Sua desculpa? Você tem o cabelo liso, não precisa se arrumar.
Eu jamais lhe disse nada, nunca reclamei de sua postura. Minhas amigas e meu namorado ficavam horrorizados, me perguntavam como eu suportava passar por tudo isso. Eu sempre lhes respondi : eu só faço o que quero, não sou vítima de nada, portanto não se preocupem comigo.
Não, não se preocupem comigo. Deixei aquele lugar para ir estagiar em outro muito melhor. E daquela minha chefe, restou uma lembrança: ela bêbada na tal festa de casamento, dançando sozinha num canto, usando um vestido horroroso...
Recentemente, soube que ela adora falar sobre a minha passagem no escritório, que costuma pregar, no quadro de avisos, algumas das minhas fotos que saíram no jornal. Foi aí que compreendi o que meu professor da faculdade queria dizer: eu sou dura na queda, a pessoa perfeita para fazer os outros pagarem no final por seus crimes. E, para esta minha chefe, tenho certeza: meu silêncio sempre foi a maior das suas penas. Conviver com fato de que jamais conseguiu prejudicar minha vida é o preço que ela terá eternamente que pagar.

7 comentários:

Vivz disse...

Arrepiei com esse texto! Queria até fazer um comentário menos superficial, mas acho que não consigo, não. SENSACIONAL! Beijos.

Luiza disse...

bah.. esse texto foi fora de sério mesmo, e a situação maia ainda..
beijos

sandro so disse...

A primeira metade do texto est� cheia de uma clima kafkiano. A segunda fecha a hist�ria, mas fiquei imaginando desdobramentos mil. Imagino que voc� tamb�m.

Álvaro Andrade disse...

Que mulher maluca. Eu tenho medo de pessoas assim, sempre acho que podem ter um surto psicótico repentinamente e sair por aí matando gente. Mas são interessantes, fico imaginando a motivação...
Enfim, você se livrou dessa. Ufa, né?!

bjo,

Álvaro.

(ah, valeu pelo link aí! E, vc já pensou em trocar o fundo do blog? Não sei se é só comigo, mas embaralha as vistas)

Anônimo disse...

O desejo assume formas estranhas nesta vida.

aeronauta disse...

É um aprendizado ler um texto assim, conhecer alguém que sabe enfrentar a dureza do outro sem perder o carinho pela vida e pelas outras pessoas. Grande abraço, amiga.

Senhorita B. disse...

Obrigada a todos pelos comentários!
Super beijo,
Renata