20 de abr. de 2009

Eu, ela e Hilda ou Pequenas pistas de uma morte

"Aflição de ser eu e não ser outra
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."

Hilda Hilst

É verdade, Hilda. Talvez eu e ela sejamos apenas isso. Duas mulheres fortes. Numa dura hora.

2 comentários:

Lidi disse...

"Aflição de ser eu e não ser outra." (Hilda Hilst)

"Ah, poder ser tu, sendo eu!" (Fernando Pessoa)

É, Hilda Hilst, Pessoa, R., Senhorita B., eu... acho que todo mundo sente, às vezes, essa aflição.

Beijo, Renata. Adorei te rever na Bienal.

aeronauta disse...

Ah como gosto da poesia de Hilda! Esse poema é lindo.