9 de abr. de 2009

Minha querida afilhada,



Alguns anos antes do seu nascimento, eu estava passando por uma fase difícil e resolvi ir visitar sua mãe. Mal eu sabia que este dia mudaria minha perspectiva das coisas deste mundo para sempre. Sim, porque eu sempre fui uma pessoa com noções um tanto rígidas de intimidade e propriedade. E, neste dia, sua mãe me surpreendeu com um gesto de profunda generosidade: ela me ofereceu uma chave. Ou melhor, ela me ofereceu a chave da casa dela. E ainda acrescentou: Venha morar um tempo aqui. Será bom para você.
Não, minha querida afilhada, eu não fui morar na casa de sua mãe. Mas compreendi, neste dia, que mesmo não tendo aceitado seu convite, eu tinha recebido para sempre uma chave. E o motivo desta carta é este: quero dividir tal chave com você. Pois, em algumas situações, o mundo pede senhas, exige que você saiba exatamente como deve proceder. E, se depender de mim, todas as portas boas desta vida serão abertas para você. Para isso servem as madrinhas: para brincar de fadas e realizar os desejos mágicos de suas afilhadas.
Quando eu soube que você era uma menininha, chorei muito. Me lembrei do seu quartinho, das suas roupinhas lindas, dos planos que sua mãe fazia para o seu nascimento. Pensei que, finalmente, ela tinha uma família para se orgulhar. E entendi que sua mãe um novo livro iniciava: suas poesias, apesar de tão belas e delicadas como de costume, não mais tratariam apenas de abandonos ou meninas perdidas. Elas seriam também sobre o maior e mais bonito dos encontros. Fico muito feliz de poder participar disso. Para isso servem os amigos: para testemunhar nossas vidas e escrever as orelhas dos nossos dias-livros.
A fotografia que está ao lado da sua cartinha foi tirada por titia Eva, no dia 13 de março, meu aniversário. Você e sua mãe estavam na minha casa e eu tentava(sem muito sucesso) ajudar a trocar a sua fralda. O motivo de minha pouca habilidade, você, pisciana como eu, não demorará de entender: normalmente, nós, regidos por Peixes, não sabemos como proceder diante de coisas práticas. Ah! Não posso esquecer de contar uma coisa curiosa que, no futuro, você deverá gostar de saber: todas as vezes que você começava a choramingar, nós a levávamos para o banheiro porque só ouvindo o barulho da água do chuveiro, você parava de chorar.
Tenho a sorte de ter uma ótima madrinha e espero poder ser da mesma forma com você. A correntinha de lacinho que eu te dei, comprei porque era linda, mas, agora, vejo que ela também é um símbolo: que você construa fortes laços com as pessoas especiais que irão cruzar seu caminho.
Sei que, nos braços de sua mãe, todo o mundo você irá conhecer. Desculpe-me, mas não posso evitar essa rima: espero que, onde quer que vá, encontre a Senhorita B.
De sua dinda que te ama e sempre estará Aqui,

5 comentários:

Hitch disse...

Minhas singelas boa-vindas a mais uma vida (e que lindinha). E lembranças à mãe, de quem guardo profunda admiração, desta e outras casas. Aquele abraço.

aeronauta disse...

Oh, essa é a menininha de Vanessa? Que linda!

Rounds disse...

que coisa linda!

abs

Lidi disse...

Que linda tua afilhada, Renata! E que linda carta! Você me deixou emocionada! Beijo.

Edu O. disse...

Renata, sempre visto teu blog e nunca comento. Nunca me sinto a vontade para lhe falar de meus sentimentos. Você quebrou o gelo com aquele comentário no meu blog e eu agradeço muito. Não fui ao lançamento do Vestígios, mas acompanhei como se tivesse ido. Maria me intimou e eu não pude aparecer.
Esta carta para tua afilhada me fez chorar e tocou em mim num lugar que está muito frágil estes dias. Obrigado por esta emoção. Tenho dois afilhados e convivo com um que me ensina diariamente. Beijos