23 de out. de 2007

Uma criança e eu


Ontem, fui ao médico. E na sala de espera, fiquei conversando com um garoto de onze anos que aguardava a mãe sair do consultório. Era fim de tarde e estávamos completamente sós. Com cuidado, ele me perguntou o motivo de eu estar ali. Minutos depois, lhe dirigi o mesmo questionamento. Isso foi o pontapé inicial do nosso diálogo, que envolveu confissões pessoais de ambas as partes. Ele me falou da mãe neurótica e exagerada que o ama muito, do pai que jamais se importou com ele e lhe negou uma mochila da Datelli, da paixão que sente por uma garota da 7 ª série, da dificuldade que tem de ser amigo do irmão adolescente, do medo que sente de não conseguir ganhar dinheiro quando crescer, do seu sonho de conhecer o Maurício de Souza(quer ser desenhista e é muito fã da Turma da Mônica). Eu lhe falei que nunca me senti criança, mas que tenho um medo enorme de crescer. Pouco antes de ir embora, fizemos juntos um desenho. Eu lhe entreguei o meu habitual Mickey Mouse, a única coisa que me restou dos tempos do lápis de cor. Ele me mostrou seus rabiscos: tinha feito o rosto de uma garota. Pensei que era eu ou sua mãe, mas não quis perguntar. No final de tudo, trocamos e-mails. Ele vai me mandar um site de "pets" e entrar na comunidade que fizeram para mim no Orkut. Eu lhe fiz uma promessa: vale ainda a pena sermos boas pessoas. Espero que os próximos anos de sua vida não me desmintam.

12 comentários:

O Sibarita disse...

Pois é!Além de tudo uma maezona cheia de afeto e carinho aflorando num consultório médico com uma criança que nunca vira antes.

Imagino a alegria, o sonho dessa criança ao ter conversado com você. É isso, por vêzes, em casa ele não é ouvido. Você fez um bem retado!

Claro que vale a pena sermos pessoas de bem, mesmo porque, somos a maioria. O problema são as ações e as pessoas ruins que ficam mais em evidência do que as coisas e pessoas boas.

Tá rebocado você é gente boa mesmo Renata! Puxei seu saco, foi fia? kkkkk

bjs.
O Sibarita

Anônimo disse...

Caramba! esses últimos posts estão tão parecidos comigo, que entrar aqui tem sido ao mesmo tempo prazeroso e angustiante!
Esse lance de conversar com gente pequena é minha cara.Fui uma criança insuportável (não fui pintona, não fui sorridente, adorava ficar só,lendo turma da Mônica ou ficar no meio dos adultos, o que me rendeu o apelido odioso de "precoce". Eu nem sabia o que era a palavra ainda, mas imaginava que boa coisa que não era, afinal, quando minhas tias tavam falando mal de alguém,ou de sexo, ou de novela e eu,claro, sempre por perto, elas falavam: "Fernanda,va brincar sua precoce!"
Enfim, aí eu, filha mais velha, cresci e resolvi entender o mundo que eu tinha perdido por achar tudo “bobo,chato e sem significado".Me apaixonei. Quase nada me dá tanto prazer hoje, quanto conversar com crianças. Prefiro as elétricas,pintonas e espirituosas. Frustração, claro.Talvez eu tenha perdido alguma coisa lá atrás,de fato, ou talvez nunca tenha tido. Acho que meus anticorpos pra vida, que deveriam ter sido formados mais fortemente nessa época, cresceram meio atrofiados. E talvez isso explique porque, hoje sim, me sinto muito mais criança do que com 11 anos.
Beijos!

Vivz disse...

Qta doçura! Lindo! Bjs.

aeronauta disse...

Belo encontro...
Muito amor para você também, Renata!

joanarizerio@gmail.com disse...

Renata, já conhecia um ou dois contos seus pela comunidade no orkut, que conheci através de seu irmão. Adorei o seu blog, desde que te li, lá, supus que você mantinha esse discurso leve sobre as coisas da propria vida. Parabéns, um beijo!

Álvaro Andrade disse...

Olá, Renata!
Bacana o seu blog. O tipo de texto, o jeito de pensar a vida.
Ainda lerei mais, essa é só uma visita rápida pelas janelas que se abriram hoje na Aliança Francesa (eu tava no encontro também).
Ah, te vi uma vez no Sem Censura. Escritora baiana, bonita e novinha. hehe. De lá pra cá fiquei com isso na cabeça: o negócio é tentar mesmo, a menina escrevia, resolveu mandar os contos pro tal concurso... e deu certo. Um bom exemplo.

Beijo.

Anônimo disse...

Gostei muito, Renata. Um sopro de vida. Me lembrei do meu próprio poema "Um encontro". Uma experiência parecida com a sua, embora sem nenhum diálogo, puro cinema. Abraço, Mayrant.

Anônimo disse...

"tudo vale a pena
quando a alma não é pequena"

ser pessoas de bem, sempre.... é o melhor a fazer
gostei de sua promessa

abraços
Ricardo

Palatus disse...

Oi Renata,

tomara que sim...tomara que a vida não desminta mesmo. Eu demora de vir aqui, mas adora chegar e fazer hooooooooooooooooooooooras lendo. É bom mesmo, viu????, esse lugar>
Sucesso.
Ah, li no A Tarde, cad. 2, a matéria sobre os blogs. Gostei...Todos os blog citados já conhecia. Mayrant foi meu prof e Thiago Lins, meu colega. Galera inteligente essa viu!!!

Unknown disse...

Oi, Renata. Só para dizer que uma colega outro dia falou tanto e tão bem de você que pensei que você precisa saber que é lida e admirada por muita gente e que isso é bem bacana. Um beijo e bom final de semana!

Senhorita B. disse...

Nanda:
Também fui dessas precoces. Sofria muito com isso, vivia sendo criticada. Ainda bem que minha infância passou. E não tenho mais obrigação de ser nada além de mim.
Beijos,
Renata

Lidi disse...

"E não tenho mais obrigação de ser nada além de mim."

Eita, Renata. Até respondendo um comentário você consegue tocar fundo. Essa frase pra mim é pura poesia. E adorei o post. Beijo.