9 de ago. de 2009

O fantástico mundo de meu pai



Se meu pai fosse escritor, certamente, seus livros seriam da escola do realismo mágico. Sim, porque, no seu mundo, coisas muito estranhas e absurdas acontecem de maneira natural e cotidiana. Para exemplificar o que estou dizendo, falarei de três pessoas que jamais conheci, mas que viraram personagens da minha vida de tanto meu pai contar suas histórias. Segue o perfil delas:
Primo Nino: Filho do irmão de meu avô paterno, morou na Itália por toda a vida. Meu pai conta que, desde muito cedo, ele gostava de ficar se admirando no espelho. Com o passar dos anos, o hábito virou mania. Primo Nino já não mais trabalhava ou comia, ficava todo o tempo se penteando e dizendo para a sua imagem refletida: Sou lindo! Sou lindo! Por fim, foi internado num hospício.
Dona Bernadete: Secretária de meu avô. Era uma mulher ativa, bem disposta. Certo dia, faltou o trabalho e nada avisou. Preocupado, meu avô foi procurá-la e a encontrou perambulando de biquini pela casa. Depois deste episódio, ela jamais tirou tal traje. Morreu com setenta e poucos anos. Não, não foi enterrada de biquini.
Tio Joseph: Irmão de meu avô. Nasceu na Itália, mas, ainda na adolescência, se mudou para os Eua. Era mafioso, amigo íntimo de Al Capone. Mandava dar surras naqueles que não o obedeciam, era uma homem temido. No entanto, na intimidade, se comportava de maneira muito diferente. Chorava, copiosamente, quando assistia filmes românticos ou quando falava da Itália. Quando brigava com a mulher, quebrava garrafas na mesa. E, segundos depois, negava o que tinha feito e se jogava no chão, implorando seu perdão.
Recentemente, encontrei a fotografia acima, num post do blog do Sandro. E, imediatamente, me lembrei de meu pai. Quando tomou conhecimento do meu desejo de ser escritora, ele disse: Só me faça o favor de não abandonar o Direito. Você não vai ganhar um conto com essa conversa de Kafka. No mesmo post do Sandro, Gustavo Rios comentou sobre a fotografia: nosso futuro, se continuarmos a dar muita atenção ao Nietzsche.
É, meu pai... Se você fosse escritor, seu livro pertenceria ao realismo mágico. Mas não é que, no seu enredo sobre a condição financeira do escritor, você é quase um Machado de Assis?

Foto: Homeless man reading books, Moshe Shai, 1977.

10 comentários:

Muadiê Maria disse...

;)

Paula: pesponteando disse...

Adorei...deu até vontade de conhecer tais personagens...abraços

Bernardo Guimarães disse...

que barato! que figuras! e são meus primos em terceiro grau!

aeronauta disse...

Sempre é muito interessante conhecer as peculiaridades de cada pai!

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

pensando nisso que vc escreveu fiz um conto tá em http://edineysantana.zip.net

Unknown disse...

são também meus primos em terceiro grau.
São fantásticos MESMO

Nilson disse...

Belas figuras. Fellinianas!!!

Edu O. disse...

que maravilha, Renata!!! fiz um filme com essas personagens e vc narrando, é claro!

M. disse...

Eu gostei muito deste texto.

Lidi disse...

Adorei a imagem, adorei o post. Dei muita risada com Dona Bernadete. :) Um beijo.