Eu ainda era pequena, mas lembro-me bem: seus vestidos, quase sempre comuns, ganhavam força e beleza quando colocados em seu corpo. Como mágica, tornavam-se outros, despertavam de um sono profundo para cumprir seu destino. Existem pessoas que são assim: elegantes sem qualquer esforço. Eu, exagerada nos gestos e emoções, jamais tive tal qualidade. Restou para mim o consolo destes olhos verdes de segunda mão. Ela não fala muito, mas sempre tem as unhas feitas. Mesmo desarrumada, permanece esteticamente interessante. Tem humor nas horas apropriadas, é firme e amorosa no momento em que deve ser. Não costuma gritar, prescinde deste tipo de comportamento mundano. Temo ver qualquer reprovação no seu olhar. Daquele tempo, das intermináveis provas de roupas na casa das cinco mulheres, pouco mudou. Todas continuam legando às filhas o encanto com os tecidos, a atmosfera fantástica das roupas de baile no espelho do quarto de casal. Ainda gosto pouco das coisas que tenho, não raro, busco no seu armário algum remédio para minha insatisfação. Mônica Menezes me alertou: a escrita também é um cuidar de si. Enquanto faço textos, minha mãe experimenta roupas no quarto ao lado. Muitas vezes, quando penso que ninguém me amará tanto quanto ela, me desespero. E sinto vontade de ter uma filha. Para eu não ficar só no mundo. Para me trazer poesia. Para eu alinhavar seu crescimento através de vestidos de ponto smoking.
12 de mai. de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Que doce, um texto de admiração filial sem pieguice. Logo de início pesquei que era a mãe o objeto de afeto, pois quem não vestiu os vestidos da mãe para se sentir mulher?Eu ainda me lembro perfeitamente do cheiro da minha mãe, não o da colônia, nem do sabonete após o banho, o cheiro dela natural, de quando no meio da noite eu acordava com medo nao sei de quê, e me mudava para a cama dela, com travesseiro e lençol, para dormir abraçada com ela, é desse cheiro que ainda me recordo como de algo q me dava proteção.Sabe, me deu saudade. MInha mãe já está no céu, mas mãe, quem esquece? Gostei mto do texto. Você sabe o "como" dizer, que é o principal em um escritor.Beijo.Gláucia.
Querida REnata, na outra mensagem não deu para dizer que recebi hoje seus livros. Obrigada. Ainda hoje, antes de dormir, vou deixar Dostoiéviski esperando -estou relendo Crime e Castigo que li quando adolescente, é tempo de reler- e vou pegar um dos seus, elegendo ao acaso. Não lhe mando um livro de contos, pois os meus 2 no gênero já não são o que hoje escrevo, o mais recente data de 1996.Vou mandar-lhe Luaral,q saiu em 2000, uma novela meio-louca, mas sob compromisso de enviar, tão logo receba, um exemplar do meu romance recém premiado no Concurso deLiteratura da UBE-SP-2007, q está em preparo na Scortecci, prêmio de publicação, o "Bichos de Conchas",pois dos meus anteriores só tenho 1 exemplar. Estou querendo voltar a escrever contos, durante 2007 só cuidei do Bichos, valeu porq deu certo, mas tb gosto de contos e comecei com eles. Voltarei. Um beijo. Gláucia.
Dostoiéviski de lado? Nossa, tô muito chique!(rs) E meus parabéns pelo prêmio, sei como isso é importante. Desde já, agradeço o livro.
Beijos,
Renata
Oh, Renata, que honra ser citada por você. Obrigada, beijos.
Que texto lindo Renata!
Nunca mais comentei...mas continuo entrando no blog, n tenha dúvidas.
Acho que eu fugi pro Japão nesses ultimos meses hehehe,as dúvidas se acumulam e parece que a voz vai emudecendo cada vez mais... n sei...ultimamente sei menos ainda das coisas.
Também quero uma filha!tenho pensando nisso com uma certa frequência..filhos.. (uma loucura na minha idade, eu sei hehehehe) mas não pra não ficar,isso já estamos fadados a estar/ser...sozinhos...mas pra não deixar alguém só...não dizem que só é seu aquilo q vc dar?talvez isso diminua a solidão.
Milhões de beijos e to aqui!!
=*
Lindíssimo!
Você vai longe com tanto talento!
Desejo que apareçam respostas e inspiração nestes momentos de silêncio..
:)
Vocês são uns amores!
Bjs:)
Postar um comentário