27 de jan. de 2009

Pequenas fugas cotidianas


Sou completamente inábil para tratar algumas situações corriqueiras da vida. Explico melhor: não sei o que dizer em situações de morte, fico muito envergonhada com elogios e reajo de forma estranha nos momentos de alegria. Por isso, criei esse blog. Preciso dividir meus medos, necessito escrever para mostrar este alguém que vive de forma muito intensa dentro de mim. Além do mais, o Vestígios também é um meio de pedir desculpas. Aos que magoei com meu comportamento esquisito, fica aqui registrado meu profundo arrependimento. Não sei o que aconteceu, mas, nos últimos tempos, tenho sido assim.

No dia que soube que ganhei o prêmio Braskem, não disse uma palavra, as pessoas ficaram perplexas diante da minha aparente frieza. Algo semelhante ocorreu quando perdi uma pessoa muito querida. Jamais tive coragem de falar sobre isso, nunca consegui ir visitar sua família, dói tanto que recuso-me a falar desse assunto. (isto acarretaria a lembrança de seus últimos dias). Certa vez, uma pessoa disse que me amava e eu fiquei calada. Sim, eu também o amava. Precisei de muitos meses para conseguir falar isso.
É verdade: costumo ser muito irônica, faço brincadeiras no dia-a -dia. Essa foi a forma que encontrei de diminuir meu desconforto. Ou pelo pelos de não parecer tão desconfortável. Mas nem sempre resolve. Sim, porque o humor não é solução para tudo. Passo noites sem dormir por conta de certos mal-entendidos.

Talvez meu comportamento se deva ao fato de que tenho uma sensibilidade absurda, dessas que me fazem sentir vontade de chorar durante dias. Emociono-me com a alegria alheia, sofro com a desgraça dos que me rodeiam. Fosse possível, resolveria os problemas de todo mundo. Talvez meu comportamento também se deva ao medo que tenho de que as coisas boas tenham um fim e, por isso, não me permito vive-las da forma que deveria. Existem muitos talvez, investigo-os com frequência. Mas o que desejo com este texto é que, se alguma coisa deste tipo ocorrer, vocês me perdoem. Sim, porque eu mesma ainda não consegui perdoar meu comportamento e, apesar de não parecer, me importo muito com tudo isso.
Termino, agora, pois preciso fugir para esconder meu rosto. Hoje, ele tem uma expressão confusa, fruto da improvável mistura de tristeza, vergonha e alegria.

16 comentários:

- Luli Facciolla - disse...

Só não fuja da gente!

Beijos

Anônimo disse...

A unica consideração que tenho a fazer é que, enquanto eu lia este texto, leonard cohen cantava bird on the wire, bem ao meu lado.

José Ricardo da Hora Vidal disse...

Cara Renata Belmonte: Imagino completamente como você se sente. Mas, se isso puder te fazer se sentir melhor, não é só você que se senti assim às vezes. Conheço um blogueiro, "auto-proclamado dono de castelo", poeta, com livro publicado, "que eu conheço apenas de vista" que possue "inabilidades" parecidas com as descritas por você. Gosta de estudar mas não consegue se responsável com os estudos (estou enrolado com minha monografia). Gosta de ir a festas literárias (lançamento de livro e revistas, palestras, entregas de prêmios, etc.) mas fica tímido e deslocado quando vai a uma dela. Quando uma pessoa desconhecida elogia seus escritos, fica envergonhado - mas em compensação ás vezes é insuportável com seus amigos amigos mais chegados, se auto-ironizando como "celebridade e escritor famoso". Fica perdido quando precisa responder as raras leitoras de seu blog, não sabendo ser simpático com elas e demora muito tempo para responder. Dificilmente escreve cartas, mas quando escreve é prolixo. É um passional extremado - algo como um troglodita sentimental que chora por uma flor espedaçada e que recrimina muito depois de ter feito uma burrada cavalar. É um coração aberto com as pessoas, mas é capaz de atos rudes e mesquinhos. É pródigo em perder amizades profundas ao longo dos anos. É fascinados pelos olhos das pessoas mas é incapaz de falar olhando diretamente nos olhos. E muitas vezes prefere se esconder na tela de um computador ou na folha branca de um caderno paar falar de si próprio. Claro que isso é um retrato de "um amigo meu" que também escreve e é dono de blog chamado castelo. Só sei que algumas das coisas você falou neste post especificamente encontrou eco na alma de um dos leitores. Será mesmo porque nossa sensibilidade nos deixa mais consciente da fugacidade da vida? E nossos textos (contos, poemas, posts, ensaios) não representa uma vontade louca de enganar o tempo, conseguir uma espécie de imortalidade e assim eternizar um pouco as coisas boas que tomamanos por efêmeras? Não sei, mas parece que este é o pedágio que vida cobra para aqueles que são escritores e escritoras. Bem, era isso que queria de dizer do fundo d'alma, embora eu nãos aiba se soube me expressa bem o que eu quero dizer. Um abraço fraterno deste vosso leitor e amigo.

Ricardo Vidal, auto-proclamado "Bardo Celta"

P.S. Fazendo coro da Luli Facciolla, só não fuja da gente!

Anônimo disse...

Eu sou Poeta. Mas ninguém me entende. Ninguem precisa me entender. Eu já fiz versos lindos, escrevi uma obra mais bela e mais importante que a de Homero. Sou o indivíduo mais inteligente da America, quer dizer, o mais inteligente de todos os continentes americanos, talvez até mais inteligente que qualquer outro brasileiro. Eu sofro meus amigos! ser poeta dói demais. Passo fome. Estudo medicina na ufba, mas nada sei desta arte. Em entrevistas de emprego, fui rejeitado porque nelas sempre estive drogado ou tímido demais. Eu sou um derrotado. Mesmo sabendo que minha obra supera e muito a obra de um Shakespeare, queimei grande parte dos meus papéis. ganhei alguns prêmios literários e torrei o dinheiro comprando maconha e instrumentos musicais. Toco até meia-lua, caso vocês não saibam. Comprei uma flauta, tal qual aquela do capitão Bordadura, indivíduo do qual herdei quase todo meu caráter. Mas eu não quero mais participar de concursos e decidi acabar com toda minha obra, como ja disse. Eu as queimo porque elas são melhores que as obras de meus amigos, que são indivíduos que não aceitam o elogio dos outros, ficam assim tímidos quando alguém diz dos seus escritos: ah, você escreve muito bem. ô, quanto talento! ***** Alguns deles se irritam com essa bajulação e adoram usar de ironias inglêsas contra os bajuladores e acabam agindo como touros e chifram até a familia que os criou. Isso é bastante comum. Ahh, que vida!, que coisa estranha é viver! Eu não deixo meus trabalhos porque a vida que me resta não acabaria, e ser reconhecido em vida como maior poeta de todos os tempos é uma ofensa! ser reconhecido não tem graça, reconhecido maior por seres humanos é triste. Quem eu superaria, sendo o maior? tenho medo disso. Se eu por acaso ganhar o Nobel hoje, qual graça terá o ato de magoar os outros? Virarei instântaneamente um velho desagradável tal qual Knut Hamsun foi no fim da vida. E eu ja tenho chorado demais meus caros, mesmo sem prêmio Nobel. Um dia deste, vi uma carroça velha, e um indivíduo tão gordo em cima dela, tão gordo quanto um bom poeta deve ser ( este era carregador e carregadores são todos vis, acreditem), e num dia quentíssimo deste verão baiano, numa rua do nordeste de amaralina devo acrescentar, este individuo seguia, com seu cavalo velho, que tinha os lábios imensos, esticados quase ao chão. Eu sentia a baforada quente do vento, era o inferno! Imaginem vocês meus queridos, o que são os lábios (ou beiços) de um cavalo, aquela coisa escura e peluda, escorrendo baba. Imaginem a sede do animal! Aquele jegue não se preocupava em dar agua à criatura responsável pela condução da carroça! Isso é triste! isso sim é triste e cruel. Eu chorei, chorei. Senti ódio do Jumento, um ódio mortal, tão forte que nem comparo com qualquer outro ódio da literatura ocidental. voces entenderam o sentido da anedota, tenho certeza.
Me irrito, pois sei que no caso de meus amigos, estes freak ways são uma farsa, e até como desolados eles são todos principes na vida. Porque este negócio de ser artista é algo que nem o próprio artista digere? O grande artista nem artista era, creio nisso. E porque eu estaria condenado a ser artista? Estes meus amigos provavelmente não terão bons biografos. Eles já estão totalmente decifrados em pura falsidade.
Enquanto seus castelos sucumbiam, meus amigos, Vossos arquitetos desbravavam o território do sono, ó queridos.

Anônimo disse...

Valeu, Renata.
Visitemo-nos então.
Abs,
Tom

Anônimo disse...

sincera demonstração de sentimento
:)
cada um tem um jeito diferente de agir, porém a maioria faz de tudo para disfarçar.

a diversidade é enriquecedora. admiro. se aos olhos dos outros algumas atitudes parecem estranhas, pelo menos é autêntica. o esforço de compreensão e respeito deve partir de todos...

abraço

Muadiê Maria disse...

pequenas fugas...grandes medos pequenos ...vamos nos carregando por aí.

Unknown disse...

O tempo faz é coisa... Já fui assim bem parecida com o seu relato. O tempo passa, a vida avança, a pessoa aprende, apreende. Eu fui me reinventando sem nem perceber. Tomara dê tempo de mais reinvenções.
Beijos de Maria

Anônimo disse...

Renata,

não se martirize tanto, você é humana... e se, como disse algué acima, serve de consolo, você não é a única a sentir-se inadequada... Também tenho medo que as coisas boas acabem ou fujam de mim, assim tento, como dizem, com^-las pela beirada...

Um abraço,

Palatus disse...

Cara Renata,

Você não está só, vivo isso volta e meia e às vezes não me entendo>
Do teu texto, isso me caiu muito bem como se tivesse falado comigo: "Emociono-me com a alegria alheia, sofro com a desgraça dos que me rodeiam".
Eh só isso. Abraço!
Aparece no Palatus!
Nilson

Anônimo disse...

Tal inabilidade talvez pertença a todos. Pelo menos a todas as pessoas que eu conheço profundamente.
Nós somos imperfeitos. Nunca vamos deixar de ser. Nossas atitudes (ou a falta delas) uma hora atrapalharão as coisas, uma hora vão machucar alguém. Faz parte. O nosso dever é saber compensar amando, confortando, deixando ser amada e confortada às vezes também. E vc sabe disso, tenho certeza. Alguém que sabe tanto de sentimento só deve saber pq sente. ;)

Beijo.

Bernardo Guimarães disse...

"Você é linda,
mais que demais...".

É a musica que estou ouvindo do vizinho.

Lidi disse...

Renata, todo mundo é um pouco assim! Eu também não sei o que dizer em situações de morte. Se preocupa não, quem gosta de você, gosta do jeito que você é e te entende! Beijo.

Anônimo disse...

Creio que o mundo inteiro perdoou seu comportamento, alguns até nem se importam, tamanho gosto que fazem de sua companhia. Falta somente você se perdoar. O que é normal e o que é estranho, quem souber nos avise.
Don't worry. Be happy. Bj

Janaina Amado disse...

Oi, Renata! Voltei das férias, passei para um abraço, e vi que cheguei num momento muito interessante: o das confissões dos que se sentem inadequados. Eu também me sinto assim. Sei fazer muito poucas (poucas mesmo) coisas na vida. E olha que neste "fazer" estou incluindo comportar-se, expressar sentimentos, relacionar-se, ter habilidades, etc. No resto todo -- isto é, na grande maioria das coisas e vezes --, sou absolutamente inadequada, idiota, inábil. Fazer o quê? Benvinda ao clube!

Anônimo disse...

Que nada, isso tudo é conversa pra boi dormir. A intenção da pessoa que escreveu esse texto era apenas a de tentar afirmar-se como artista, ou seja, como uma pessoa que não é comum, dotada de um gênio difícil, etc. Ou seja: pura afetação.
Gente como Dostoievski, Tolsoi e outros, nunca chegou num blog ou numa revista russa para dizer tais tolices. Nem em seus próprios diários estes homens chegaram a descer a este nível de imbecilidade. O que me espanta é alguém que se diz vencedora de prêmios e o escambal chegue numa porcaria de site e se afirme incapaz de lhe dar com a vida. que ridículo! E pior ainda, um bando de blogueiros sem o que fazer( pseudo-intelectuais), reafirmam toda a imbecilidade em seus comentários medíocres. a autora maltrata e eles adoram ser maltratados. Isso é tolo, imundo, vil, grosseiro! Isso é uma vergonha, porque é de escritores assim que o brasil está cheio. Gente que não escreve, gente que quer apenas aparecer! Saiba que há alguém que não cai em seu joguinho, Renata. você é uma das maiores escritoras patricinhas de sua rua, isso sim eu garanto. não digo que é a melhor porque isso eu não posso saber. e outra, seja mais humilde. humildade é muito bom quando não somos lá estas coisas. fique em paz.