31 de ago. de 2008

Pequeno retrato de uma platéia azul



Fui com minha mãe e uma amiga para o lançamento de um livro e, enquanto estávamos na fila de autógrafos, fomos abordadas por um rapaz completamente bêbado, que se denominava escritor e que queria nos vender seu "livro"(uma xérox bonitinha) por cinco reais. Durante sua explanação sobre sua "obra", ele, bastante orgulhoso de seus feitos, afirmou que precisava do dinheiro de suas vendas para comprar drogas e bebidas, seus verdadeiros alimentos. Logo depois, numa tentativa desesperada de chamar atenção, passou a conversar em voz alta com os livros da livraria, cantou e dançou as "músicas que estavam no inferno que era sua cabeça." Na hora em que vi isso, eu não me contive e dei uma gargalhada. Minha mãe me olhou com um olhar severo e, após adquirir o livro do rapaz, condenou-me por minha atitude, disse que eu deveria ter pena de pessoas assim. Ainda tentou me obrigar a dar uma esmola para ele, mas, diante da minha evidente má vontade, desistiu. Não, eu não compro livros coagida, considero-os bens preciosos. Não, eu não tenho pena desse "escritor": ele apenas estava exercitando sua vaidade enquanto posava como mendigo. Não, eu não achei engraçada sua "performance": meu riso era nervoso, significava a constatação do que era pobreza de espírito. Depois de tomar todo o vinho possível do lugar, ele atendeu seu telefone celular (um aparelho bastante sofisticado, por sinal) e saiu sem comprar nenhum exemplar do livro que estava sendo lançado.
Sim, ele pensava que estava fazendo todos de palhaços. Mas era no seu rosto que estava o nariz vermelho.

29 de ago. de 2008

Só minhas músicas favoritas...

1- La mer (Charles Trenet)
2- November Rains (Guns and Roses)
3- Dream On (Aerosmith)
4- Jeremy(Pearl Jam)
5- Stairway to Heaven (Led Zeplin)
6- Hey Jude (Beatles)
7- Better man (Pearl Jam)
8- Águas de Março (Tom Jobim)
9- Panis Et Circenses (Mutantes)
10- If I ever lose my faith in you (Sting)
11- Alone in Kyoto (Air)
12- Alegria, Alegria (Caetano Veloso)
13- Sonata ao luar (Beethoven)

Me retiram destes dias cinzas.

28 de ago. de 2008

Quem disse?


Quando eu era criança, cantavam para mim:

Terezinha de Jesus deu uma queda
Foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi aquele
Que a Tereza deu a mão...


Quem inventou que isso é uma canção infantil? Essa é a música mais triste e assustadora que já ouvi na vida! Até hoje, fico em pânico quando escuto...

26 de ago. de 2008

Curta Vestígios da Senhorita B


Em breve, no computador mais próximo de vocês.

24 de ago. de 2008

Das coisas que nos distraem da morte


Todas as pessoas que me conhecem sabem que, apesar da minha alegria quase infantil, detesto ir para festas. Gosto muito de gente, só que não consigo suportar a melancolia que ronda tal tipo de evento, algo que mal consigo definir, mas que gruda na minha pele e borra meus olhos sem qualquer piedade. Só que, ontem, arrumando meu armário, descobri algo muito curioso: tenho pouquíssimas roupas para usar durante o dia, mas muitos vestidos de festa, alguns nunca usados.

Das coisas que me distraem da morte, sempre coloquei os livros e os filmes no pódio. Só que não posso deixar de mencionar a importância que as roupas possuem na minha vida. Mesmo tendo apenas a medalha de bronze, elas me permitem inventar minhas próprias farsas, livram-me da terrível condenação de ser a mesma o tempo todo. E, investigando o motivo de ter comprado vestidos que jamais serão usados, compreendi: dentro de mim, ainda vive a adolescente que fantasiava com bailes maravilhosos e que jamais se conformou com a mixaria que é a realidade. Ela, sem dúvidas, é a grande responsável por estas compras insensatas. Mas, não, não a culpo ou tento negá-la. Pois sei exatamente onde ela mora e o peso que é viver com tudo isso. Todas as noites ela está lá, enfiada num de seus vestidos, repetindo frases de seus filmes preferidos. Todas as noites ela está lá: bailando sozinha pelas páginas de um livro.

20 de ago. de 2008

Os Excêntricos B.




Escondida sob o véu da normalidade, se esconde a minha excêntrica família. E é por isso que defendo a não proibição do véu das mulçumanas em lugares públicos: certas coisas devem ser reveladas na intimidade. E como o Vestígios é minha casa, nada melhor que contar algumas histórias aqui.
Se nas fotografias parecemos todos tradicionais, na vida real a coisa é bem diferente. A grande marca da minha família é a esquisitice que carrega consigo uma boa dose de humor. Tenho um avô austero que sempre deixou claro que os netos o pertubavam, mas que, recentemente, me disse que dei para ele o melhor presente de sua vida: um rádio relógio falante em forma de maçã. (?!). Minha avó, apesar da idade, é super moderna, faz faculdade e, dias atrás, soltou essa: "isso de gay era ruim antigamente, mas hoje é muito divertido, eles têm aquela festa colorida, cheia de gente animada... Dia desses eu vou." Quantas vezes meu pai, ainda dentro de seus ternos bem cortados, se escondeu para dar sustos nos filhos? Já perdi a conta e espero que ele não esteja me esperando em algum lugar escuro. Minha mãe, bom, minha mãe é um caso para ser analisado com mais cautela. Durante as nossas infâncias, quase todas as noites, eu e me irmão chorávamos muito pensando que ela iria sair para jantar com meu pai. Mas sempre estávamos enganados: ela só estava arrumada porque tinha o hábito de experimentar suas melhores roupas naquele horário. E até hoje é assim: ela veste seus melhores vestidos e fica pela casa toda pronta como se estivesse indo para um baile.
Ainda tenho que falar de minha babá, minha outra mãe, que acha todo mundo preguiçoso e só não é nazista porque não sabe o que isso significa. Não raro, ela me dá ordens absurdas que eu acabo cumprindo por puro temor reverencial. Meu namorado? Bom, ele já me proibiu de falar qualquer coisa dele no Vestígios, caso o contrário me processa. Pois então: perceberam o quanto estou rodeada de gente estranha? Calma, esperem, vocês ainda nada viram: faltou meu irmão.
Ricardo, meu irmão, é quase uma encarnação não maligna do Coringa, arquinimigo do Batman. Ele passa seus dias aplicando pegadinhas, dando foras e passando trotes para seus amigos próximos. Sim, há dias em que isso é muito engraçado. Mas, não raro, ele se torna um capitalista insuportável.
Não sei precisar quantas vezes meu irmão me ofereceu dinheiro para que eu abraçasse alguém desconhecido na fila do cinema e dissesse para tal pessoa que eu a amava muito. Algum tempo atrás, até tentei, estava sem grana, mas na hora H: amarelei. Ano passado, ele disse para minha mãe que ia viajar com Tito, um novo amigo de Barra Grande. Quando ela perguntou quem era esse "Tito", ele mostrou a foto acima. E apontou adivinhem para quem?
Ontem, recebi um e-mail da "Câmara do Livro" com o seguinte teor:

"Parabéns,
Você ganhou o Jabuti.
Favor entrar no website da premiação, para fins de dar entrada no procedimento de resgate do prêmio.
Segue ilustração anexa.
Cordialmente,
Direção Executiva do Prêmio Jabuti."

Não, eu nem me abalei... Já imaginava que isso era coisa dele.
Meu irmão é fã absoluto de João Gilberto. Só espero que, no futuro, atenda meus telefonemas e não fique implicante como o ídolo.




16 de ago. de 2008

A mulher sem idade



Ela faz cinqüenta anos hoje. Mas ainda sustenta super bem um collant roxo e, no ano passado, reinventou a era Disco como ninguém. Foi ela quem criou o conceito de estética do videoclipe. Ela também foi a única artista do mundo que teve dois vídeos censurados pela MTV(!!!!). Ela proíbe os filhos de assistir televisão. Incoerente? Não! Madonna sabe muito bem o que diz e faz. Sua longevidade artística é prova disso. Ela não tem medo de arriscar ou ousar em nenhum aspecto de sua vida. Ajudou na redefinição do papel feminino, quebrou inúmeras barreiras e preconceitos. Aos cinqüenta é uma mulher forte, sexy, com autoridade. Sou fã, desde pequena. E como esse é um blog sem censura e eu acabei de publicar um conto numa antologia sadomasoquista, deixo vocês com Erótica, um dos clipes proibidos pela MTV.

12 de ago. de 2008

Falta

Nós não nos conhecíamos muito bem. Pouco sabia da sua vida. Desde a infância, frenquentávamos os mesmos espaços, mas nunca chegamos a ser amigas. Não sei explicar o motivo disso, pois a considerava inteligente e simpática. Mas existir é isso: prescindir de explicações. Na última vez que nos encontramos, ela me perguntou sobre O que não pode ser e Femininamente.
Eu sempre me esqueço de uma frase que escrevi num dos meus contos: tudo falta a todos nós. Soube que, anteontem, ela preferiu se retirar do mundo. Hoje, depois de uma noite insone, descubro: ela, de alguma forma, sempre foi minha personagem.

10 de ago. de 2008

Meu querido,


Prólogo: Era uma vez um homem bem magrinho que achava que teria um filho. Mas, no treze inesperado, veio a surpresa: a bebé tinha os olhos claros por ele desejados, mas era menina. E o que, então, fazer com uma filha? Era uma vez um pai e uma filha muito passionais, parecidos até no jeito de discordar sobre tudo. Tudo. É essa palavra que define o enorme amor que sinto por você.


Meu querido pai,


É nesse espaço que busco a Senhorita B, aquela que fugiu, e acho curioso poder me encontrar com você num lugar marcado por ausências. Mas as palavras têm essa força: elas aproximam todos que nelas acreditam. E, sim, eu deveria deixar isso apenas para o livro, só que não consigo me conter e repito: são as palavras os meus principais vestígios.

Não, não sou sempre uma moça triste e doente que baila pelo salão sozinha. Estava, antes, no lugar errado e, por isso aquelas dores no corpo. Tenho gostado bastante da minha última farsa: a menina livre, preocupada apenas com unhas descascadas, ignorando o mal do mundo, sempre de férias do peso de ser quem é. Talvez isso explique porque não tenho sentido mais medo da mediocridade: ela possui uma encantadora leveza, uma enorme indiferença às indelicadezas dos outros.

Sim, meu pai: eu vinha fugindo daquela que vive em mim do mesmo jeito que Donatella vem fazendo nos últimos capítulos da novela. Só que tenho olhos grandes e, ontem, sonhei com a capa do meu próximo livro. Portanto, guardei o figurino da moça fluida e vesti novamente a farda que me observava muda do armário. Já de óculos de grau (óculos é uma palavra estranha, não? ) voltei a precisar do mundo na forma qual eu o conhecia. E tenho, misteriosamente, sentido uma alegria enorme com esse retorno de mim mesma. Ao mesmo tempo que a "saudade de casas demolidas", expressão criada por Vanessa, toma conta de mim.

Talvez essa carta esteja ficando longa demais. Mas, como estou fora, penso que tenho obrigação de escrever muito para justificar minha ausência. Culpa? Já morro de rir só em pensar na sua cara, neste momento. Ela deve ser algo no estilo Renata-é-mesmo-uma-pessoa-muito-complexa. Lembro-me do dia dos pais em que lhe dei o DVD de Nina Simone e você detestou, falou, em segredo, para Suzanno que esse era o pior presente que já tinha ganho. Pai, de você, com certeza, herdei esse meu inabalável senso de humor.

A carta pode estar complicada. Mas muito simples é o amor que sinto por você. E saiba que estou perto sempre. Guarde meu paradeiro como um segredo. Não, não é bom revelar tudo aquilo que mora no nosso coração.

De sua filha que te ama muito.

Cheia de saudades de casas demolidas,

Renata

7 de ago. de 2008

O fantástico mundo de Renata B


Lembram do post Veludo Azul?
Sim, nossos sonhos são possíveis. E esse foi o meu encontro real com o Sr. Lynch.

Nas fotos: David Lynch, eu e o David Lynch, eu e parte da galera massa que conheci na fila (Tati, Alê, Breno, Gustavo, Ana Luiza e Henrique). Meu super agradecimento por vocês terem tornado o evento ainda mais divertido!

5 de ago. de 2008

A Favorita


A Favorita é a novela mais subversiva que assisti nos últimos tempos. Cheia de personagens fortes e interpretações vigorosas, ela inverteu a clássica regra dos folhetins: começou sem vilões e mocinhos definidos. Seu autor, João Emanuel Carneiro, já tinha dado provas em Cobras e Lagartos e em Da cor do pecado de que não iria aceitar condicionamentos de nenhuma ordem. Pela primeira vez, tivemos a oportunidade de acompanhar uma novela em que os protagonistas eram negros sem que isto pudesse ser interpretado como manifestação de algo politicamente correto. Não, não havia qualquer discurso moralizante ou coisa do gênero.

O mesmo está acontecendo em A Favorita. Afinal de contas, é muita coragem, num país dominado por idéias maniqueístas, colocar a personagem "desfavorecida e coitadinha" como grande vilã. Seria fácil e cômodo definir Donatella Fontini, perua assumida, como a culpada por tudo. Desta forma, o autor atenderia a máxima socialista "ricos ruins, pobres bons" e deixaria assegurado o processo de identificação do público com sua trama.

A ficção serve para quebrar barreiras, fazer pensar, contestar máximas. E, num país onde se lê pouco, as novelas assumem um papel relevante. Que bom que João Emanuel Carneiro sabe disso. E que bom que a Globo tenha se permitido, em horário nobre, correr tal risco.

Lançamento

Agosto foi o mês escolhido para o lançamento da primeira antologia sadomasoquista da literatura brasileira, organizada, com a colaboração de Glauco Mattoso, pelo professor Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, da USP, que também contribui como autor. A "Antologia SM" sai pela DixEditorial, selo literário da casa paulistana Annablume, e a tarde de autógrafos será dia 30, sábado, a partir das 15h, na Livraria da Vila, rua Fradique Coutinho, 915, fone 3814-5811, na Vila Madalena. Segue a lista dos autores incluídos:
José de Alencar
Machado de Assis
Valentim Magalhães
Cruz e Sousa
João do Rio
Augusto dos Anjos
Pedro Xisto
Wilma Azevedo
Glauco Mattoso
Delmo Montenegro
Claudio Daniel
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
Joca Reiners Terron
Marcelo Sahea
Virna Teixeira
Luiz Roberto Guedes
Horácio Costa
Del Candeias
Frederico Barbosa
Ana Rüsche
Dirceu Villa
Contador Borges
Marcelo Tápia
Luís Venegas
Ivana Arruda Leite
Leila Míccolis
Renata Belmonte
Flávia Rocha
Adelice Souza
Leo Pinto
Ceguinho do Ceará
Victório Verdan
João Silvério Trevisan
Hugo Guimarães
Gustavo Vinagre
Ronaldo Bressane
Pedro Tostes
Marcelo Mirisola
Caco Pontes
Mário Bortolotto
Ademir Assunção
Marcelino Freire
Leandro Leite Leocadio
Berimba de Jesus

4 de ago. de 2008

De fato

“Não importa que a tenham demolido: a gente continua morando na velha casa em que nasceu". (Mário Quintana)