31 de out. de 2007

A vida dos outros



Eu freqüento aquele prédio há uns dez anos. E minha relação com o idoso porteiro daquele lugar nunca tinha passado de "bom-dias" semanais. Até a última semana:


- gfbkejrg tj- disse ele ansioso, afobado.


- Me desculpe, mas não compreendi uma palavra do que o senhor falou. - afirmei bastante confusa.

-Eu vi a senhora na televisão.- repetiu ele ainda ofegante. E no alto de sua timidez acrescentou:


- Sempre a incluo nas minhas orações. Deus te abençoe!


- Amém.- respondi sorrindo, agradecida.


Enquanto ia tomando o elevador, pensei: devem existir nesse mundo tantas pessoas que torcem por mim e que eu absolutamente desconheço!
Amém também para todos vocês: leitores queridos deste blog.

PS: A fotografia do post pertence ao belíssimo filme A vida dos outros que tem tudo a ver com o texto acima escrito.


27 de out. de 2007

Esmeralda

Aos dois dias de nascida, me despejaram em seus braços. E de lá jamais saí: fui adotada para sempre por ela, ela, que durante toda a sua vida repetiu que jamais teve vontade de ter filhos.
Quando Ricardo nasceu, a tiraram do meu quarto e eu, aos quatro anos, tive a minha primeira perda. Aquele ser estranho que me obrigavam a chamar de irmão se tornou um dos maiores amores de sua vida, há algo frágil nele que a encanta terrivelmente. É certo que na sua concepção, eu, a menina que sempre foi linda, precisa menos dela do que o garoto mirrado cheio de hábitos excêntricos. Tem sido assim, desde sempre: de equívocos se preenche a história da minha vida.
Se algum dia me for possível, farei o mesmo que o João Moreira Salles: dirigirei um documentário sobre a vida da minha eterna babá. Ele se chamará Esmeralda, seu verdadeiro nome. Nome este que ela guarda como um segredo e esconde através do apelido Meire. É dura demais consigo mesma para reconhecer todo o seu valor.
Por fim, hoje, no dia de seu aniversário, mesmo sabendo que ela não lerá este texto, repito a dedicatória de Femininamente: Para minhas duas mães. Sim, o amor que sinto por ela é muito maior do que qualquer eventual dor.

23 de out. de 2007

Uma criança e eu


Ontem, fui ao médico. E na sala de espera, fiquei conversando com um garoto de onze anos que aguardava a mãe sair do consultório. Era fim de tarde e estávamos completamente sós. Com cuidado, ele me perguntou o motivo de eu estar ali. Minutos depois, lhe dirigi o mesmo questionamento. Isso foi o pontapé inicial do nosso diálogo, que envolveu confissões pessoais de ambas as partes. Ele me falou da mãe neurótica e exagerada que o ama muito, do pai que jamais se importou com ele e lhe negou uma mochila da Datelli, da paixão que sente por uma garota da 7 ª série, da dificuldade que tem de ser amigo do irmão adolescente, do medo que sente de não conseguir ganhar dinheiro quando crescer, do seu sonho de conhecer o Maurício de Souza(quer ser desenhista e é muito fã da Turma da Mônica). Eu lhe falei que nunca me senti criança, mas que tenho um medo enorme de crescer. Pouco antes de ir embora, fizemos juntos um desenho. Eu lhe entreguei o meu habitual Mickey Mouse, a única coisa que me restou dos tempos do lápis de cor. Ele me mostrou seus rabiscos: tinha feito o rosto de uma garota. Pensei que era eu ou sua mãe, mas não quis perguntar. No final de tudo, trocamos e-mails. Ele vai me mandar um site de "pets" e entrar na comunidade que fizeram para mim no Orkut. Eu lhe fiz uma promessa: vale ainda a pena sermos boas pessoas. Espero que os próximos anos de sua vida não me desmintam.

18 de out. de 2007

Das coisas que vejo na TV

Hoje, vi na televisão uma mulher falando que está na melhor fase de sua vida, que se sente ótima, verdadeiramente realizada. Fiquei desconfiada. Sim, talvez eu também seja feliz. Pena que sei muito pouco sobre isso.

16 de out. de 2007

Uma nova vida para Renata B.

Nos últimos tempos, venho me sentindo levemente entorpecida, com a sensação de que tudo que vivo é sonho, um destes sonhos que não fazem sentido, mas que aceitamos durante o sono como algo bastante lógico e coerente. Talvez eu esteja assistindo filmes demais, essa é a primeira das hipóteses.
É certo que tudo tem seu fim e a noite de hoje não foi diferente. Neste último lançamento do Outras moradas, tirei fotos sorrindo, encontrei pessoas amigas, conheci pessoalmente outras pessoas amigas, me tornei amiga de pessoas que apenas conhecia. Tudo ao som de jazz, que preferi inventar ser bossa-nova: assim pude acreditar que a sensação vagamente familiar que me tomava nada mais era do que a identificação do momento com os eventos que acontecem nas novelas de Manoel Carlos. Talvez eu esteja assistindo novelas demais, eu sei. Essa também é uma das minhas hipóteses.
Que vivemos eternamente de fantasias, sempre tive certeza e jamais neguei as minhas. Mas eis que conto a cena mais surreal deste meu último sonho: onze escritores sentados ao mesmo tempo numa pizzaria. Duas mesas, papo agradável, clima descontraído. Eu, no meio deles, eu, que sempre evito conviver com grupos por medo de abusos coletivos de compreensão. É madrugada, sim, sei. Mas estou acordada e o que narro não surgiu durante o sono. É a minha realidade, esta que vem me causando muito mais estranheza do que os filmes do David Lynch.
As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas não desconfiam que eu morro de medo de autografar os meus livros. Sempre acho que escreverei alguma coisa errada, que direi algo tolo, sem sentido. As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas nem desconfiam que temo não corresponder o tamanho de sua consideração. Sou bastante esquecida e sofro muito quando sou desatenciosa com aqueles que são bons comigo. As pessoas que foram ao lançamento do Outras moradas e me viriam com aquele vestido dourado, desconhecem a angústia que sinto durante as minhas festas: tento sempre prolongar os momentos que vivo, não gosto de aceitar o fim das coisas.
Algumas pessoas que conheço e dizem que gostam muito de mim não tem comigo a menor consideração. Outras, que mal convivo, nutrem por mim afeição. Meu irmão, outra dia, brigou comigo e disse: pobre de você que vive de migalhas de felicidade. É, talvez ele tenha razão. Porque permaneço aqui, nesta noite, com fome. Mas sempre embriagada de vida.

9 de out. de 2007

Lista de convidados:


  1. Todos os leitores deste blog!


    Esse 2º lançamento é para vocês: meus leitores queridos. Nós, autores do Outras moradas, apenas tivemos 40(quarenta) convites individuais para o lançamento de amanhã, no Solar Cunha Guedes. Só minha família são 50 pessoas... Portanto, resolvemos fazer esse segundo evento. Será muito legal! Espero vocês!

7 de out. de 2007

Tratado sobre o óbvio


Algumas considerações:


  1. Nem todas as pessoas ricas são metidas e desonestas.

  2. Nem todas as pessoas pobres são simples e honestas.

  3. Nem todas as pessoas pobres são dignas de pena, algumas vivem com muito mais dignidade do que outras que ganham milhões.

  4. Nem todas as pessoas ricas são dignas de desprezo, algumas são ótimas pessoas e investem seu dinheiro de forma muito bacana.

  5. Nem todas as mulheres bonitas são insuportáveis e vazias.

  6. Nem todas as mulheres bonitas são burras.

  7. Usar roupas folgadas e óculos colorido não transforma ninguém em intelectual.

  8. Usar terninho e pasta de couro não transforma ninguém em um profissional mais competente.

  9. Nem todas as pessoas gordas são infelizes.

  10. Nem todas as pessoas gordas são engraçadas.

  11. Nem todas as pessoas magras sofrem de anorexia.

  12. Nem todo artista é lunático.
  13. Nem todo americano é burro e alienado.

Queridos: já está na hora de combatermos essa lógica de vida Malhação!

3 de out. de 2007

Do absurdo da condição humana




Já pararam para pensar: por que a maioria das pessoas morre de rir ao ver outra tropeçar?